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Desmatamento

Amazônia tem recorde de desmate em setembro

O valor supera por pouco os 1.453 km² registrados em setembro de 2019, que era, até aqui, o pior setembro já registrados pelo Inpe

Reprodução

A Amazônia teve o seu pior mês de setembro de desmatamento do histórico recente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O programa Deter registrou 1.454 km² de desmate no bioma, o pior registro para o mês de setembro no governo Jair Bolsonaro (PL).

O valor supera por pouco os 1.453 km² registrados em setembro de 2019, que era, até aqui, o pior setembro já registrados pelo Inpe. A série histórica recente do Deter tem início em 2015. Antes disso, já havia monitoramento do Deter, mas, pelo melhora nos sensores de detecção de desmate, não são válidas comparações com períodos anteriores.

Além disso, o desmate em setembro aumentou significativamente em relação ao mesmo mês de 2021, com um crescimento de quase 48%.

A derrubada registrada em setembro de 2022 equivale a mais de 900 parques Ibirapuera, em São Paulo.

O desmatamento em 2022 tem sido elevado. De abril até agora, mais de 7,6 mil km² de Amazônia foram ao chão, com quatro meses seguidos com mais de 1.000 km² derrubados.

Em setembro deste ano, o desmate se concentrou no Pará (531 km²), em Mato Grosso (340 km²) e no Amazonas (284 km²). Rondônia e Acre também se destacam pelos elevados valores —154 e 121 km², respectivamente—, considerando o tamanho de seus territórios.

O Deter não tem como objetivo principal medir o desmatamento no bioma. Sua função é detectar derrubadas quase em tempo real para auxiliar em operações de fiscalização dos órgãos ambientais. Porém, a partir do Deter é possível observar tendências de desmate dentro de um ano.

Na Amazônia tem ocorrido uma sequência de dados negativos para o bioma. Além do desmatamento recordista, o mês de setembro também foi o pior em queimadas em mais de uma década, segundo dados do programa Queimadas do Inpe. Foram mais de 41 mil focos de calor na floresta em setembro deste ano.

A casa das 40 mil queimadas não era alcançada desde 2010, quando foram registrados mais de 43 mil
focos de fogo no bioma. Em agosto a situação não foi melhor e o desmatamento explodiu em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram derrubados 1.661 km² de floresta, aumento de 81% em relação aos dados de 2021, e o segundo maior observado em agosto no histórico recente do bioma. As queimadas também deixaram marcas e a Amazônia teve o agosto com mais focos de fogo desde 2010 —33.116.

O primeiro trimestre deste ano, momento no qual o desmate e queimadas na Amazônia costumam ser menores, já apontava uma possível situação de dados crescentes alertas de desmatamento nesse período bateram recorde no histórico recente, ficando próximo a 1.000 km² de floresta derrubada.

Vale mencionar a relação entre desmatamento e queimadas na Amazônia. Após a derrubada da floresta, os desmatadores usam o período seco do bioma (no qual estamos atualmente) para incendiar a mata derrubada, uma forma de “limpar” o terreno. A área desmatada, em seguida, é usualmente destinada à pastagem de gado. Em outras regiões, o desmatamento, apesar de proibido, ocorre como uma forma de reivindicação da área.

O desmatamento já apresentava crescimento, mas explodiu desde o início do governo Bolsonaro. O atual presidente tem sido continuamente criticado pelos seus posicionamentos em relação à devastação da Amazônia. Bolsonaro falava em uma suposta indústria da multa ambiental e, durante seu governo, questionou, por diversas vezes, dados oficiais da devastação do bioma produzidos por órgãos estatais.

Além disso, o presidente defende abertamente medidas que podem significar o aumento da destruição no bioma, como mineração e outras atividades de exploração em áreas indígenas.

Especialistas e instituições ligadas aos biomas brasileiros também apontam a desregulação no setor ambiental, após o início do governo Bolsonaro —representada na expressão “passar a boiada”, dita pelo então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, durante reunião governamental, referindo-se à realização de mudanças de regras de forma silenciosa, enquanto a sociedade e a imprensa se preocupavam com a pandemia de Covid que ceifou mais de 680 mil brasileiros.

A ministra Cármen Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse, durante julgamento sobre a política ambiental da gestão Bolsonaro, que o Brasil tem sofrido um quadro de “cupinização institucional”, uma corrosão interna e invisível das instituições, sobretudo das que tratam do meio ambiente.

O desmatamento é a principal fonte de emissões de gases-estufa do Brasil, portanto, impacta no compromisso internacional que o país tem de reduzir suas emissões. Dessa forma, os dados de desmate também impactam na economia, conforme países restringem seus mercados a produtos contaminados com derrubada de mata.

Segundo o Observatório do Clima, a destruição desse mês equivale, em emissões a 70 milhões de toneladas, o equivalente às emissões anuais da Áustria. O Observatório do Clima ainda classifica Bolsonaro como “irresponsável” e diz que o presidente “prestou um desserviço ao agronegócio brasileiro”.

“Bolsonaro foi, afinal, o presidente que até hoje se orgulha em dizer que desmontou a fiscalização ambiental e que não demarcou ‘nenhum centímetro’ de terra indígena”, diz, em nota, a organização, que congrega dezenas de entidades ambientais.

“O presidente que estimulou abertamente as invasões de garimpeiros às terras públicas na Amazônia,
recusou-se a usar bilhões de reais em recursos internacionais para combater o desmatamento e promover o desenvolvimento sustentável da região e, por ação eomissão, deixou o crime organizado dominar um território que representa mais de metade do Brasil.”

O crescimento do desmatamento tem graves consequências para o Brasil, com impacto para as chuvas e para a produção de alimentos, diz Mariana Napolitano, gerente de ciências do WWF-Brasil.

*Com informações da Folha de São Paulo

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