É com diploma na mão e visto brasileiro que centenas de afegãos vem chegando ao país neste ano de 2022. São engenheiros, médicos, servidores, professores, profissionais de alta patente. Pessoas formadas que deixaram tudo em seu país, o Afeganistão, fugindo do poder dos radicais do Talibã, que assumiram o poder no ano passado. Muitas desembarcam no Aeroporto Internacional de Guarulhos em busca de uma oportunidade no Brasil mas, sem condições ou apoio, acabam montando um acampamento e vivendo dentro do aeroporto.
Há pelo menos 10 dias, uma engenheira química afegã fez do Terminal 2 do aeroporto sua casa. Junto com marido, filha pequena, irmã médica e cunhado, ela fugiu do regime do Talibã, grupo religioso fundamentalista que voltou ao poder após os Estados Unidos (EUA) terem retirado suas tropas do Afeganistão, depois de 20 anos de ocupação. A reportagem da Agência Brasil conversou com ela no aeroporto, mas preserva seu nome por segurança. “Lá estava muito ruim. Quando o Talibã chegou, não pudemos mais ir à escola, à universidade ou ao trabalho”, contou.
“A situação no Afeganistão para as mulheres é muito ruim. É muito e muito difícil para as mulheres viverem no Afeganistão”, acrescentou sua irmã.
Ao chegar ao Brasil, elas receberam alimentos, água, biscoitos para a criança e algumas roupas. Também foram vacinadas contra sarampo, poliomielite e covid-19. Mas, agora, esperam por oportunidades para se estabelecerem por aqui.
“Nós esperamos do Brasil, do governo brasileiro, poder ter nossa casa, nosso próprio trabalho e oportunidade”
, disse a médica, que também pretende continuar com os estudos.
O Brasil se tornou destino de muitos afegãos desde que, em setembro do ano passado, foi publicada uma portaria interministerial autorizando o visto temporário e a autorização de residência por razões humanitárias.
Os afegãos chegam ao Brasil com a esperança de conseguir um lugar para morar e um emprego. Mas ao desembarcar, nem sempre conseguem receber acolhimento. A prefeitura de Guarulhos, o governo de São Paulo e o governo federal dizem buscar alternativas para atender a essas famílias. Mas logo que entram em território brasileiro, elas acabam assistidas, principalmente, por voluntários.
Um dos que passam dias no aeroporto para ajudar os afegãos é a ativista Swany Zenobini. Desde o dia 19 de agosto, ela tem ido até o local o todos os dias.
“Desde a retomada do Talibã ao poder, no Afeganistão, muitos começaram a ser perseguidos e a sofrer retaliações. Uma das formas para fugir disso é saindo do país. Como o Brasil, em setembro do ano passado, deu o visto humanitário, deu chance para essas pessoas virem para o Brasil, muitos optaram pelo nosso país”
, explicou ela à reportagem da Agência Brasil.
MPF
Nesta semana, o Ministério Público Federal cobrou explicações dos governos federal e estadual e da concessionária que administra o aeroporto sobre a situação dos afegãos acampados no aeroporto. Segundo o órgão, o grupo que vive em situação precária tem aumentado nos últimos meses “à medida que novos conterrâneos desembarcam no Brasil, fugindo das violações a direitos humanos perpetradas em seu país de origem pelo regime fundamentalista do Talibã. Todos possuem visto humanitário, mas devido a dificuldades financeiras e de comunicação, muitos não têm escolha senão permanecer no terminal”, disse o MPF.
O Ministério Público Federal informou que vem conduzindo reuniões interinstitucionais nas últimas semanas, mas cobrou o governo federal que é preciso melhor coordenação e prestação de apoio material para atender as pessoas.
De acordo com o MPF, a Lei nº 13.684/2018 estabelece que cabe aos três entes federativos adotar medidas que proporcionem direitos básicos a esses refugiados, tais como proteção social, atenção à saúde e qualificação profissional.
“O governo federal, que emitiu os vistos humanitários, precisa, conforme determina a lei, coordenar os trabalhos com os demais entes federativos de modo a evitar situações tão graves como a atual onde, nesse momento, crianças e bebês afegãos estão em situação de total vulnerabilidade no saguão do aeroporto. Isso é inadmissível”
, disse o procurador da República Guilherme Rocha Göpfert. Ele convocou uma nova reunião interistitucional para a última sexta-feira (14) para debater soluções para esse problema.
*Com informações da Agência Brasil
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