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Manaus 353 anos

Palácio Rio Negro é ícone da Belle Époque e foi moradia do “Barão da Borracha”

O local é carregado de histórias que unem a economia e política do Amazonas

Foto: José Airton

Manaus (AM) – Quando se trata de prédios e patrimônios históricos, Manaus domina o assunto. Ícone da Belle Époque, o Palácio Rio Negro é um espaço administrado pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e funciona como Centro Cultural Palácio Rio Negro.

Aberto para a visitação do público, é cenário de exposições, espetáculos musicais, teatro, cinema, apresentação de palestras e outros momentos marcantes, como lançamento de livro, ensaios fotográficos e até casamentos.

O prédio, que tem a beleza exibida por meio de uma arquitetura clássica no estilo renascentista – presente no período áureo da borracha – em alvenaria de pedra e tijolo, não passa despercebido por quem trafega pela Avenida Sete de Setembro, no Centro de Manaus.

Considerado um marco do período em que o Amazonas era um dos estados mais prósperos da União, o prédio foi tombado como patrimônio histórico estadual em 1980 e, ao longo dos anos passou por várias obras de conservação e restauração. O local ainda é usado para audiências e recepções do Governador do Estado do Amazonas a Chefes de Estado, Embaixadores e demais personalidades.

A história

No início do século XX, muitos estrangeiros foram atraídos para a capital amazonense em decorrência do desenvolvimento econômico local e, entre eles, o alemão Karl Waldemar Schotz, o “Barão da Borracha”, que montou o próprio comércio na Rua dos Remédios. Determinado a fincar os seus pés de forma permanente na cidade, construiu um palacete para morar. O Palacete Schotz foi projetado pelo engenheiro alemão Henrique Joseph Moers.

A partir de 1911, em virtude da forte concorrência da produção gomífera em terras asiáticas, houve o iminente declínio do comércio da borracha no Amazonas. Além disso, com advento da Primeira Grande Guerra, a linha de navegação entre Manaus e Hamburgo na Alemanha foi interrompida, o que prejudicou de sobremaneira os negócios do Senhor Scholz.

“Ele veio da Alemanha em 1890, em 1897 ele mandou construir o Palácio. Em 1903, estava pronto e ele já veio para morar w ficou aqui por 13 anos, até 1916, ano da sua falência. Matheus Barbosa Baia Costa, de 21 anose precisou fazer um empréstimo para tentar sanar as suas dívidas e hipotecou o Palacete por 400 contos de réis ao rico seringalista do Purus, Luiz da Silva Gomes, que foi o mesmo que o arrematou em leilão”, explicou o guia turístico do local Matheus Barbosa Baia Costa, de 21 anos.

Foto: José Airton

Em março de 1917 foi alugado ao Governo do Amazonas da sede governamental, que funcionava no Paço Municipal, e em junho do mesmo ano foi adquirido pelo governador Pedro Alcantara Bacelar. Sendo assim, o local passou a ser chamado de Palácio Rio Negro, servindo também como residência para os governadores do Amazonas, o que ocorreu até 1959, no primeiro governo de Gilberto Mestrinho.

De 1959 até 1995, continuou como sede do Poder Executivo, porém deixou de ser residência oficial do governo.

“Pedro dividiu o espaço ao meio. A parte esquerda do Palácio ficou funcionando como uma parte mais de escritório e sede do Governo, já a parte direita como residência oficial dos governadores, visto que eles moravam e trabalhavam aqui ao mesmo tempo. Em 1945, o ex-governador Álvaro Maia decidiu construir um anexo na parte superior para ampliar a parte de residência e o andar de baixo passou a ser sede do Governo. Ele continuou com as duas sedes até 58”, disse.

A partir de novembro 2000, o Palácio passou a servir de polo para outros espaços culturais, agregando ao seu redor o Museu-Biblioteca da Imagem e do Som do Amazonas/ MISM, o Museu de Numismática Bernardo Ramos, a Pinacoteca do Estado, o Cine-Teatro Guarany e o Espaço de Referência Cultural do Amazonas/ ERCAM, todos funcionando com regularidade e de forma integrada.

Para o guia do local, Matheus, a reaproximação da população amazonense com o contexto histórico da cidade são os pontos mais importantes para que essas visitas turísticas sejam realizadas. De acordo com Matheus, em média, 40 pessoas visitam o Centro Cultural Palácio Rio Negro por dia.

“O espaço é aberto e gratuito para os visitantes. Assim como o Teatro Amazonas e Palácio da Justiça, ele é muito importante porque é o único prédio que foi residência de um Barão da Borracha que é um centro cultural restaurado. É muito relevante ver as pessoas virem aqui para saberem mais sobre essa época que foi muito importante pro Amazonas e também para a contribuição urbanística da cidade”, informou.

O nome “Rio Negro” foi dado ao Palácio por conta do próprio Rio Negro, que passava na parte de trás da construção. No decorrer dos anos, muitas pessoas começaram a invadir os arredores do palácio para a construção de casas nas margens, o que resultou na poluição do rio. Depois de um tempo, o Governo decidiu criar o projeto Prosamim, para tirar essas pessoas das áreas de risco e também desenvolver a estética da cidade.

“Eles tiraram essas pessoas entre 2006 e 2007, demoliram as casas e aterraram a parte do Rio Negro que passava aqui atrás. Nessa parte do aterro, foi construído o parque Jefferson Peres, que foi inaugurado em 2009”, comentou.

Estrutura e mobiliário

O original do imóvel foi mantido e revitalizado. Atualmente, o Centro Cultural é um espaço de exposições permanentes, que incluem bustos de autoridades públicas, quadros de artistas famosos, como Moacir Andrade e Branco e Silva, e fotografias penduradas no salão nobre de todos os governadores do Amazonas.

Grande parte do mobiliário do Centro Cultural Palácio Rio Negro pertencia originalmente ao Palácio do Governo e é feito de jacarandá – uma árvore extremamente ornamental – escura no estilo inglês. Pelo local, estão espalhadas estatuetas de bronze, de autoria do engenheiro Benei, estátua de bronze, figura feminina, intitulada L’Inpiration, de Henry Plé.

A escadaria principal foi originalmente feita na técnica de marchetaria, que consiste no encaixe das peças sem o uso de pregos ou cola, e é composta por três tipos de madeira que, hoje, são protegidas por lei: o corrimão é feito com madeira de Pau-Amarelo, nas colunas e nos degraus tem a madeira de jacarandá e na parte de baixo da escadaria há a madeira de Pau-Brasil. Na frente da escada é possível ver duas estátuas que pertenceram ao “Barão da Borracha”, Waldemar Schotz.

Foto: José Airton

A estátua do lado esquerdo representa a poesia e a do direito representa a música, ambas foram feitas na França juntamente com o lustre principal do hall de entrada. Os três itens são os únicos que permaneceram após a mudança do alemão.

Durante uma visita ao local, é possível contemplar inúmeros itens e artefatos históricos.

O Palácio Rio Negro recebe visitantes de terça-feira a sábado, das 9h às 17h, com entrada gratuita e sem a necessidade de agendamento.

Pauta e edição Web: Bruna Oliveira

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