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Manaus 353 anos

Economia na metrópole da Amazônia: do ciclo da borracha à Zona Franca de Manaus

Em comemoração ao 353º aniversário de Manaus, celebrado no dia 24 de outubro, o Portal Em Tempo  conta a história econômica da capital nos últimos 120 anos

Foto: divulgação

Manaus (AM) – Principal polo de oferta e serviço do norte do país, a história de Manaus está vinculada aos ciclos econômicos que movimentaram o Brasil. Consolidada como o maior centro mercantil da Região Norte, Manaus foi destaque econômico durante o período áureo da borracha e segue em evidência no setor industrial.

Em comemoração ao 353º aniversário de Manaus, celebrado no dia 24 de outubro, o Portal Em Tempo  conta a história econômica da capital nos últimos 120 anos.

A capital amazonense transitou entre dois ciclos econômicos diferentes: o da Borracha, entre os séculos XIX e XX; e o da Industrialização, que iniciou na segunda metade do século XX.

Por meio do segundo ciclo, a Zona Franca de Manaus (ZFM), transformou-se no principal estímulo econômico manauara.

O Ciclo da Borracha caracterizou-se pela extração de látex das seringueiras presentes na região amazônica para produção de borracha, visando atender as demandas do mercado internacional por essa mercadoria. Com o ciclo da borracha, inúmeras pessoas se mudaram para a região amazônica e cidades, como Manaus e Belém cresceram rapidamente.

Já a Zona Franca de Manaus surgiu em 1967, nos tempos do regime militar, com base no Decreto-Lei nº 288/67, cujo propósito visava a determinação de incentivos fiscais por 30 anos para criar um polo industrial, comercial e agropecuário na Amazônia. No decorrer dos anos, o prazo para esses incentivos fiscais foi crescendo e na atualidade eles se prolongam até 2073.

Capitalismo tardio

De acordo com o professor, sociólogo e historiador Israel Pinheiro, a questão dos ciclos econômicos se correlaciona com o processo de desenvolvimento da Amazônia e ressalta que a região é classificada como um desenvolvimento de capitalismo tardio, por ter forças produtivas diferentes daquilo que estaria no centro do capitalismo na Europa do século 19.

“Boa parte dos processos de desenvolvimentistas do desenvolvimento econômico da nossa região foram atravessados pelo processo extrativista, que é um processo que envolve uma grande massa de pessoas trabalhando para a extração de um tipo de matéria-prima e isso acabou sendo classificado como ciclos: o grande ciclo da borracha, o ciclo da juta e diversos ciclos voltados para cada um desses produtos a serem garimpados”.

Para o professor, o Ciclo da Borracha foi essencial para o desenvolvimento de outras tecnologias e ferramentas. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade cresceu exponencialmente, o que atraiu os Barões da Borracha, que foram de suma importância para o crescimento da capital amazonense do ponto de vista econômico.

Nessa época, a Amazônia como um todo era responsável por quase 40% de toda a exportação brasileira.

O especialista relembra que a constante exploração e valorização da borracha amazônica, possibilitou um rápido desenvolvimento econômico da região, principalmente no desenvolvimento da cidade que foi influenciada pelo modelo estético europeu, sobretudo o francês.

No início do século XX, muitos estrangeiros foram atraídos para a capital amazonense em decorrência do desenvolvimento econômico local, como os conhecidos “ Barões da Borracha”.

A influência europeia logo se fez notar em Manaus, por meio da arquitetura das construções, fazendo do século XIX a melhor fase econômica vivida pela cidade, o que a transformou na “Paris dos Trópicos”. 

“Foi um período de bastante exploração para uma grande quantidade de trabalhadores, esses que vinham também de outras regiões. Então esses ciclos acabaram impulsionando um processo de mobilidade social chamado de migração e também como política de estado para as regiões da Amazônia. Já com a população aqui que era uma população indígena, de negros e de pardos bem expressiva, fez com que tivesse um conjunto populacional bem amplo que pudesse atuar nessas regiões. Foi esse grande ‘boom’ quando se construiu os prédios do centro histórico, entre eles o Teatro Amazonas, o Mercado Municipal, a Praça da Igreja da Matriz e a Praça do Relógio. Esse primeiro ciclo construiu a imagem da cidade como ela ainda é hoje”.

A professora e economista Denise Kassama explica ainda que foi um período que trouxe bastante riqueza para a cidade de Manaus, mas ressalta que o grande enriquecimento era das famílias que eram detentoras dos fatores de produção. Além disso, Denise atribuiu a esse crescimento a chegada da eletricidade em Manaus, que foi uma das primeiras cidades do Brasil a introduzir a iluminação pública.

“Em Manaus se circulava bastante dinheiro vindo das riquezas trazidas pela venda da borracha, então foi um ciclo que trouxe crescimento para o município. Não posso dizer que, de uma forma geral, todos estavam com bastante renda. Mas quando você tem grande circulação de recursos financeiros você consegue desenvolver uma atividade econômica em torno disso e, de uma forma geral, você caminha para o crescimento econômico”.

O ciclo da borracha teve um curto período, mas sua breve duração transformou a borracha no segundo maior item de exportação da economia brasileira, atrás apenas do café, o principal produto de exportação do Brasil até a década de 1950.

Em 1915, a borracha brasileira já tinha perdido espaço significativo no mercado internacional, o que resultou no fim desse ciclo econômico. A decadência da borracha brasileira ocorreu por conta da concorrência com a borracha produzida na Ásia, em colônias do Reino Unido e Países Baixos.

Industrialização

Entrando em declínio o ciclo da borracha, a capital amazonense se viu em um certo limbo econômico. Com a implantação da Zona Franca de Manaus em 1967, a cidade novamente ocupou lugar de destaque entre as principais do Brasil e da América Latina. Um modelo de desenvolvimento econômico implantado pelo governo com o objetivo de viabilizar uma base econômica na região amazônica, o projeto funcionou a nível nacional, como explica o sociólogo Israel Pinheiro.

“Se criou um projeto, dos anos 30 para os anos 70, de nível internacional voltado para a construção daquilo que seriam zonas francas de mercados liberais dentro de estados nacionais. Importante ressaltar que durante esse período havia uma tendência global para um tipo de política econômica de mercados mais fechados. Então essa experiência não foi só permitida pela Zona Franca de Manaus, mas houveram outras zonas francas espalhadas pelo mundo”.

Tendo com uma das funções gerar empregos para a população, o historiador ressalta que o modelo econômico é essencial para uma localidade que não possui diversidade de atividades para a geração de renda. A Zona Franca de Manaus fatura, em média, R$ 90 bilhões por ano e embora tenha apresentado várias críticas no decorrer dos anos, quando aos baixos salários pagos aos empregados e ofer

“Isso tudo deu, de certa forma, certo. Falo assim, porque ao mesmo tempo que ela construiu um espaço dentro da cidade de Manaus de estabilidade econômica para determinados setores, também começou a desenvolver outros problemas causados pelo próprio processo de industrialização e o processo de montagem na ZFM. Se de um lado a gente criou uma política de estabilidade, de proteção e de sustentação a partir da Zona Franca de Manaus, por outro lado também, por ser a única possibilidade se deixou de investir em outros setores que poderiam trazer um pouco mais de estabilidade para a cidade de Manaus. Hoje a defesa da Zona Franca é algo fundamental pela maioria dos políticos, empreendedores e pela grande parte população, que defende a Zona Franca de maneira representativa como um espaço fundamental para o desenvolvimento da sociedade”

, complementou.

Denise Kassama ressalta que a Zona Franca é uma grande geradora de empregos mesmo com todas as dificuldades, com as questões logísticas e a procura por competitividade.

 “Ela gera renda e movimenta a atividade econômica, então eu diria para indicadores de Manaus que eles só não estão piores por conta da Zona Franca, porque ela não beneficia só quem trabalha dentro da fábrica do Distrito Industrial. Existe toda uma cadeia de fornecimento, pessoal que fornece refeições, fornece segurança ou terceirizados de linha. Até o próprio comércio da cidade se beneficia das pessoas que compram ou que tem renda devido ao fato de estarem exercendo alguma atividade ou por prestação de serviço para o Distrito. Manaus tem uma excelente arrecadação e tem uma atividade econômica pujante em relação a outras capitais, apesar de algumas dificuldades e algumas deficiências”

, contou.

Para a economista, em decorrência dos constantes ataques sofridos pelo modelo econômico do Amazonas, voltar a levantar a pauta de novas matrizes econômicas não para substituir o modelo, mas para reduzir a dependência dele.

“Não temos bastante destaque hoje, não temos nenhuma alternativa econômica sem ser Zona Franca. Aliás, nos debates sobre economia a gente não fala mais em alternativa para a Zona Franca, porque a dependência da economia pelo modelo econômico é inquestionável. O que a gente fala é de poucas matrizes econômicas para reduzir a dependência do modelo como por exemplo o turismo, que é um polo que tem muito potencial para o desenvolvimento, visto que na medida em que ele cresce, ele reduz a dependência do modelo Zona Franca de Manaus na economia de Manaus e do estado do Amazonas”

, pontuou.

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