O casal Motaz e Limia deixou a República do Sudão, terceiro maior país da África, em 2001, após perseguições políticas. Eles vieram ao Brasil e, em 2017, abriram o Mobi, restaurante de comida árabe em Cuiabá, no Mato Grosso. “Eu e meu marido gostamos de cozinhar, então é um trabalho que sai da alma. O povo cuiabano tem calor humano e vinha aqui nos abraçar. Nestes anos de negócio, os clientes viraram amigos”, comenta Limia.
Com foco na comida libanesa e síria, o local vende tabule, babaganoush, homus, quibe cru e frito, esfihas, kafta, entre outros pratos típicos da gastronomia árabe, trazendo novos gostos e temperos para a sociedade brasileira – além de diversificar a economia local.
O casal planeja ampliar ainda mais o negócio e transformar o local em um centro cultural. “As pessoas não vêm ao nosso restaurante só para comer, a gente conversa muito. Eles perguntam sobre nossa religião, costumes, porque uso hijab (véu muçulmano). Nossa ideia é montar tendas e em cada uma mostrar a decoração e a cozinha de um dos 22 países da região. Esse é o nosso sonho”, acrescenta.
Assim como eles, 96% dos empresários da plataforma Refugiados Empreendedores planejam ampliar seus negócios no Brasil. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e Innovare. O diagnóstico mostrou ainda que, para 69% dos respondentes, o empreendimento representa a principal fonte de sustento de sua família e 63% já empreendiam no país de origem.
“Esses resultados demonstram o papel fundamental do empreendedorismo para a retomada financeira e autonomia das pessoas refugiadas que vivem no Brasil. E que esses empreendedores, além de terem habilidades e experiências formadas no país de origem, são qualificados para empreender no Brasil, já que 81% responderam que passaram por alguma capacitação na área”,
acrescenta o Oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do ACNUR, Paulo Sérgio Almeida.
Formalização de negócios e colaboradores
Outros dados coletados pela pesquisa dizem respeito a como os empreendedores refugiados impactam na economia da comunidade de acolhida. Grande parte (71%) possui CNPJ, o que significa que têm um negócio formal no Brasil, com recolhimento de impostos e outros atributos. Além disso, quase metade dos empreendedores entrevistados (44%) contratou funcionários no Brasil, sejam brasileiros ou compatriotas. Ou seja, estão contribuindo com a geração de renda e empregos no Brasil, aumentando as oportunidades de renda e elevando a experiência profissional de outras pessoas.
O diagnóstico traz ainda que o principal meio de venda dos produtos é pelas redes sociais (84%), porém muitos contam com loja física (47%).
O levantamento também mostra que o caminho de empreender no Brasil não é fácil e pode ser muito burocrático, especialmente para pessoas refugiadas. Elas apontaram que os principais desafios de ser um refugiado empreendedor no Brasil são formalização e aspectos burocráticos (23%), recursos para investimento (21%) e idioma (15%). Ainda assim, 73% avaliaram a qualidade de vida no Brasil como “ótima” e praticamente todos (97%) têm disposição para auxiliar outros refugiados empreendedores.
Sobre a pesquisa
Embora a plataforma Refugiados Empreendedores tenha mais de 100 refugiados e migrantes listados, a pesquisa foi realizada com 63 respondentes que integram a plataforma Refugiados Empreendedores. Os respondentes são de origem da América Latina (75%), Oriente Médio (14%) e África (11%) e as principais cidades onde estão empreendendo são São Paulo (SP), Boa Vista (RR) e Manaus (AM), sendo maioria mulheres (60%). As empresas destes empreendedores, de forma geral, têm tempo médio de três anos de existência.
*Com informações da assessoria
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