Rafaela da Silva Pereira Lima, de 23 anos, e Gabriel Pereira da Cruz, 24, foram soltos nesta sexta-feira (1) depois de serem confundidos com ladrões, quando passeavam com o cachorro Rex, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. O caso ocorreu no último domingo (10).
Com base em imagens de câmeras de monitoramento e depoimento de testemunhas, a Polícia Civil pediu a revogação da prisão de ambos. O pedido foi referendado pela Promotoria.
Os amigos comemoravam o novo emprego de Gabriel, que começaria a trabalhar em uma academia de ginástica no dia seguinte. Um churrasco foi organizado na casa de Rafaela.
No início da noite, ambos saíram para passear com o cachorro, quando testemunharam uma perseguição policial. Os amigos estavam a cerca de 30 metros de distância da casa de Rafaela.
Testemunhas viram um Chevrolet Ônix subindo a rua na contramão, sendo perseguido pela Polícia Militar.
Um motoqueiro conseguiu desviar do carro dos criminosos, mas colidiu de frente com uma viatura da Força Tática da PM. Ele foi hospitalizado e submetido a uma cirurgia em uma das pernas.
Na sequência, o carro da polícia bateu contra uma guarita. Aproveitando-se da situação, os bandidos que estavam no Ônix desembarcaram e fugiram correndo. Nenhum policial foi atrás deles.
Os PMs, porém, abordaram Rafaela, que segurava Rex no colo, e Gabriel. Os dois amigos foram levados para a delegacia, onde foram presos em flagrante pelo roubo do carro conduzido pelos bandidos após serem reconhecidos pelo motorista do carro roubado como os autores do crime.
Os policiais afirmaram ter encontrado uma arma de brinquedo perto do carro abandonado pelos ladrões, atribuindo a posse dela a Gabriel.
Inocência
Imagens de câmeras de monitoramento mostram que o carro guiado pelos criminosos foi roubado de um motorista de aplicativo por duas pessoas do sexo masculino.
Apesar disso, ele afirmou na delegacia que reconhecia Rafaela e Gabriel como os ladrões do carro.
A versão do motorista foi ainda rebatida pelo relato da passageira que iria embarcar no carro de aplicativo. Segundo o depoimento dela, dois adolescentes armados roubaram o veículo e fugiram. A investigação já identificou um dos prováveis infratores que praticaram o assalto.
Outra testemunha mostrou para a polícia conversas com um dos prováveis assaltantes, nas quais o infrator confessa o roubo do carro, acrescentando que não irá se entregar à polícia. O adolescente saiu há cerca de três meses da Fundação Casa, onde cumpriu medida sócio educativa por outro crime.
Em seu pedido de revogação da prisão dos amigos, feito a partir da solicitação para a soltura deles feito pela Polícia Civil, a promotora Eloísa Baissardo Gagliardi, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), questionou o reconhecimento feito pelo motorista de aplicativo, o qual, segundo ela, “apresentou descrições físicas diferentes dos suspeitos, o que levanta sérias dúvidas sobre a precisão de seu reconhecimento.”
Pedido de liberdade
Com base nas provas que desmentem o reconhecimento feito pelo motorista de aplicativo, o delegado Renan Magalhães Carvalho, do 47º DP (Capão Redondo), solicitou a revogação da prisão preventiva de Rafaela e Gabriel, nessa quinta-feira (14);
O pedido foi encaminhado ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) ainda na quinta.
“Gostaria de destacar que o delegado Renan, do 47º DP, contribuiu para a coleta das provas que indicam a inocência dos meus clientes. Ele trabalhou, inclusive, em dias de folga para ajudar a provar a inocência deles”, afirmou o advogado Marcelo Batista de Aguiar, que defende o casal de amigos.
Aguiar disse ainda que irá processar o governo estadual por danos morais e materiais sofridos pelo casal de amigos.
TJSP e PM
Questionado sobre se irá solicitar as imagens das câmeras corporais dos PMs, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) não respondeu.
Em nota, enviada no fim da tarde de quarta-feira (13), a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o casal foi “reconhecido pessoalmente pela vítima”.
Sobre o pedido de revogação da prisão do casal, a pasta se manifestou nessa quinta-feira e disse que elementos foram coletados durante a investigação, os quais “subsidiaram o pedido de revogação da prisão do casal”.
A pasta, assim como a Polícia Militar, foi questionada se as imagens das câmeras corporais dos PMs foram disponibilizadas para confirmar a versão deles. Ambas as instituições da Segurança Pública não se posicionaram.
*Com informações do Metrópoles
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