As informações relacionadas à saúde do presidente Lula (PT) vêm sendo tratadas com cuidado especial por seus aliados e equipe, de forma a evitar que se estabeleça uma imagem negativa e de fragilidade do mandatário, de 77 anos.
Ao longo dos primeiros nove meses de governo, houve casos de omissão de informações ou a busca de amenizar as notícias, diante de algum diagnóstico ou procedimento médico.
Mais recentemente, a informação de que os médicos iriam aproveitar a anestesia da operação no quadril para um procedimento simples nas pálpebras só foi confirmada após Lula já ter deixado a mesa de cirurgia.
A Presidência da República informou que sempre agiu com transparência e que todas as informações relevantes sobre a saúde do mandatário são divulgadas. E acrescenta que notas informativas sobre as condições de saúde “são sempre checadas com os médicos envolvidos nos procedimentos”.
O próprio Lula externou a sua preocupação em não transmitir uma ideia de fragilidade há duas semanas.
Durante uma de suas transmissões ao vivo, o Conversa com o Presidente, o petista afirmou que vinha sentindo dores na região do quadril desde o período eleitoral. No entanto, optou por não realizar a cirurgia logo no início do mandato para não parecer “velho”.
“A verdade é que estou com essa dor desde agosto do ano passado. Durante o processo da campanha, naquela cena que vocês me viam pulando no carro de som, vocês não sabem a dor que eu sentia. Mas eu pulava porque era preciso animar as pessoas”, afirmou o presidente.
“Depois, eu queria operar logo depois das eleições. Bem, eu disse, se eu operar agora, vocês vão dizer ‘o Lula está velho, ganhou as eleições e já está internado’.”
Lula ainda acrescentou que sua equipe não iria registrar imagens dele de muleta e andador após a cirurgia. Em uma manifestação capacitista, relacionou beleza com o uso dos equipamentos.
“Então significa que vocês não vão me ver de andador, de muleta, vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado”, completou.
Lula realizou em 29 de setembro uma cirurgia para tratar um problema na região do quadril. Trata-se de uma artroplastia total de quadril, procedimento no qual uma prótese foi instalada no corpo do presidente.
A equipe médica então decidiu aproveitar os efeitos da anestesia para realizar um procedimento nas pálpebras do presidente. Foi feita uma pequena intervenção, na qual é retirada um pouco de pele, que fica caindo sobre os olhos.
Médicos partiram de São Paulo para Brasília para realizar o procedimento cirúrgico, que já vinha sendo discutido há meses. Sua equipe chegou a realizar uma rodada de informações sobre o procedimento e, ao ser questionado se haveria “algo a mais”, negou.
O Palácio do Planalto alega que a decisão do procedimento só foi tomada às vésperas da cirurgia e que mesmo assim não era certo que ele aconteceria, pois dependia do encaminhamento da intervenção maior, no quadril.
“Não estava certo que o procedimento seria feito, por se tratar de uma cirurgia para uma questão menor, de um desconforto nas pálpebras. A cirurgia de pálpebra só seria feita se tudo corresse bem, como ocorreu, com a cirurgia principal, a ortopédica, e depois de uma esterilização e troca de equipe no centro cirúrgico. E isso foi informado pelos médicos logo depois da cirurgia, em coletiva de imprensa transmitida ao vivo”, informou a Presidência.
“Detalhamos todos os procedimentos e situação de saúde. Um procedimento menor e pontual, que talvez não fosse feito, que poderia ser adiado e que não tem correlação com condição de saúde, foi informado imediatamente após ter sido feito. Ou seja, foi detalhado com transparência”, completou.
O pós-operatório imediato do presidente superou as expectativas divulgadas inicialmente. Primeiro, Lula acabou seguindo para um leito hospitalar comum, não precisando passar a noite na UTI, como era esperado.
A alta hospitalar do presidente também aconteceu com dois dias de antecedência, no domingo (1º). Lula deixou o hospital longe das câmeras, pela saída de trás do edifício.
Integrantes do governo fizeram questão de ressaltar a recuperação do presidente. O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), por exemplo, disse que Lula “é um touro”, em entrevista à BandNews na última semana.
Em um episódio anterior, às vésperas da viagem frustrada de Lula à China, em março, aliados do petista buscaram minimizar a ida do presidente a um hospital de Brasília. O presidente foi diagnosticado com pneumonia e por isso o embarque foi adiado por cerca de 36 horas.
Ministros afirmaram que o diagnóstico era decorrência do excesso de agendas e garantiram que o embarque para o país asiático iria certamente acontecer.
“O presidente está bem. Foi um início de pneumonia que está sendo tratada. Ele exagera [na quantidade de compromissos], né? Porque não é brincadeira. Eu estou cansado e tenho menos idade que ele […] Tem que ter um pouco de cuidado porque baixa a imunidade”, afirmou Márcio Macêdo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) afirmou que Lula nem precisaria passar por uma reavaliação médica. No dia seguinte, no entanto, a viagem foi cancelada por recomendação médica.
O Palácio do Planalto disse, em comunicado divulgado na época, que “após reavaliação no dia de hoje [sábado] e, apesar da melhora clínica, o serviço médico da Presidência da República recomenda o adiamento da viagem para China até que se encerre o ciclo de transmissão viral”.
Um auxiliar de Lula aponta que se tratou de um grande ruído, com ministros correndo para dar notícias boas, evitar eventuais dúvidas sobre a saúde, sem ter todas as informações da equipe de saúde. E isso acabou gerando desgaste, dando a impressão de que houve informação falsa sobre seu real estado de saúde.
Questionada por que nem todos os procedimentos, dos mais simples aos mais complexos, são informados por notas ou boletins, a Presidência responde que “notas não são a única maneira de se informar a imprensa”.
*Com informações da Folha
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