Generalizar consiste na ação de universalizar conceitos, estendendo os resultados da observação de alguns casos ao conjunto de casos possíveis, abranger uma ideia a toda uma classe, categoria, religião, raça. Sua prática é imprescindível para o avanço da ciência em diversos campos na medida em que permite contextualizar informações e estabelecer relações entre diferentes situações.
Sem a capacidade de generalizar, estaríamos limitados a aplicar conhecimentos e habilidades apenas em contextos específicos, o que dificultaria o progresso científico e tecnológico. Por isto mesmo, é possível constatar o uso e a utilidade da generalização em diversas áreas do conhecimento como matemática, estatística, a psicologia,a linguística, a inteligência artificial, dentre outras:
Na Psicologia: na psicologia, a generalização é um processo cognitivo que permite aos indivíduos transferir aprendizados de uma situação para outra. Por exemplo, se uma criança aprende, através de filmes e depoimentos, a associar o mar a presença de tubarões e animais marinhos predadores pode desenvolver a ideia de que o mar é apenas um lugar de perigo, sem considerar que este mesmo mar também pode ser um ambiente de laser, prazer e diversão.
A generalização na psicologia também está relacionada à formação de estereótipos e preconceitos, quando se generaliza características de um grupo para todos os seus membros.
Matemática: na matemática, a generalização é uma ferramenta essencial para a construção de teorias e modelos. Por meio da generalização, é possível estabelecer leis e princípios que se aplicam a um conjunto amplo de situações. Como exemplo, temos a generalização das propriedades aritméticas, como a adição e multiplicação: As propriedades básicas da adição e multiplicação, como a comutatividade e a associatividade, são generalizadas em álgebra para incluir operações mais complexas e estruturas algébricas. Por exemplo, sea, b e c são números reais, então (a+b) + c= a+ (b+c) e (a.b) .c= (b.c) . Estes conceitos se generalizam para espaços vetoriais e anéis em álgebra abstrada.
Estatística: na estatística, a generalização é fundamental para a inferência estatística e envolve a aplicação das conclusões obtidas de uma amostra a uma população maior. A partir de uma amostra de dados, é possível generalizar as conclusões para toda a população de interesse. Para isso, são utilizados métodos estatísticos que levam em consideração a variabilidade dos dados e a margem de erro das estimativas. A qualidade da generalização depende de quão bem a amostra representa a população para que os dados obtidas sejam usados para tomadas de decisões e previsões com base em informações limitadas, mas representativas. Como exemplo, podemos concluir em uma amostra representativa de um contexto universitário, que o medo de falar em público é o medo mais relevante presente em jovens deste contexto.
Na Inteligência Artificial: na inteligência artificial, a generalização é um dos pilares do aprendizado de máquina. Os algoritmos de aprendizado de máquina são capazes de generalizar a partir de um conjunto de dados de treinamento para realizar tarefas em novos dados. Plataformas de streaming de vídeo, como Netflix, por exemplo, usam algoritmos para recomendar filmes e séries com base no histórico de visualizações de um usuário. O sistema generaliza a partir das preferências de visualização passadas para sugerir novos conteúdos que o usuário pode gostar, mesmo que nunca tenha assistido a um filme ou série específico antes.
Linguística: na linguística, a generalização pode envolver o uso de uma regra gramatical ou um padrão de linguagem em novos contextos. Na língua portuguesa, existe uma regra morfológica para a formação do plural dos substantivos. A maioria dos substantivos forma o plural simplesmente adicionando o sufixo “-s” ao final das palavras, como nos casos: cachorro (cachorros); mesa (mesas). Por isto, quando uma criança aprende essa regra, ela é capaz de generalizá-la para novos substantivos que ela encontra pela primeira vez. Por exemplo, se ela aprender a palavra “carro”, ela aplicará a regra do plural e dirá “carros”, mesmo sem nunca ter ouvido esta palavra antes. No entanto, deve ser orientada para comprender que existem outras regras de plural.
É inquestionável que a generalização tem inúmeras aplicações práticas em diferentes áreas mas também pode levar a erros quando aplicada de maneira inadequada, sem considerar as nuances e as particularidades de cada caso específico. Além disto, a generalização excessiva pode levar a conclusões errôneas e estereótipos, assim como a generalização a partir de dados limitados ou enviesados, pode levar a conclusões imprecisas ou injustas, nos obrigando a retratações ou até mesmo nos envolvendo em processos judiciais. Por estas razões, há que se ter cuidado com:
Extrapolação Indevida: aplicar conclusões de um grupo ou situação específica a outro grupo ou situação sem justificativa adequada. Por exemplo, afirmar que o home office não funciona com base em experiências restritas e particulares, desconsiderando a abrangência e particularidades diversas ou caracterizar todos os estudantes de uma universidade como indisciplinados com base em um pequeno grupo acaba por estimular debates e pelêmicas capazes de desagregar muitas relações e incitar ódio ao diálogo, assim como acontece quando alguém ouve o noticiário a respeito de alguns poucos atos de violência em um determinado bairro, e conclui: “Não ando mais por este lugar, é violento demais”. Outra generalização inadequada e recorrente que tem estimulado muita divisão e conflitos é a ideia de que todo mundo de esquerda é “petista” e que aquele que não é de esquerda é ‘bolsonarista”, sem considerar que não existe apenas duas formas de se pensar política e questões sociais e econômicas.
Estereótipos: formar opiniões ou crenças sobre um grupo de pessoas com base em características limitadas e muitas vezes superficiais, o que pode levar a preconceitos e discriminação. Dizer que mulheres são interesseiras e que todo homem trai são exemplos de “verdades” propagadas socialmente que muitas vezes acabam por gerar muitas intrigas e confusão. Dizer que os advogados são espertalhões, ou que os evangélicos são antiquados, são formas de generalização que muitas vezes retratam um ou dois contatos pessoais desagradáveis que são transformados na condenação de todo o grupo social.
Viés de Confirmação: procurar ou interpretar informações de maneira que confirme crenças pré-existentes, ignorando dados que possam contradizer essas crenças, como por exemplo, estatísticas e fatos relacionados ao baixo desempenho de jovens nos estudos e no trabalho para validar a ideia de que os jovens são irresponsáveis e ou indisciplinados, sem considerar que há muitos jovens altamente comprometidos e que cada vez mais ocupam postos de liderança e empreendedorismo.
Estes diversos casos mostram como as generalizações podem simplificar excessivamente a diversidade e a complexidade dos indivíduos, grupos e casos. Sendo assim, faz-se necessário proceder análises e estudos criteriosos, considerando a complexidade de dados e contextos antes de incorrer na precipitação das generalizações. Utilizar amostras representativas, considerar as variáveis contextuais e a ter flexibilidade e maturidade para revisitar e corrigir conclusões à luz de novas evidências são estratégicas possíveis de serem adotadas sinalizando a habilidade de comunicação interpessoal para um melhor convívio em sociedade.
Por Joziane Mendes – Coordenadora e Docente Universitária. Administradora. Especialista em Gestão de Pessoas. Mentora, palestrante e escritora com expertise em comunicação interpessoal, conflitos, oratória e carreira
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