Anderson Fonseca*
Uma vez mais em nosso país seremos chamados às urnas para escolher nossos representantes ou melhor dito para os fins deste artigo, nossos líderes.
Afastadas as convicções ideológico-partidárias envoltas na bipolarização de discursos que entendemos existir em nossos dias, sugerimos aqui a reflexão acerca do que constitui um líder, quais os seus predicados, de que ele é feito.
Pois bem, muito embora o senso comum identifique o papel de liderança com o exercício de “poder” ou “posição”, pesquisas recentes apontam esta característica mais associada com a noção de relacionamento.
líderes devem inspirar outros e não simplesmente “comandar” ou “dirigir” seus seguidores.
Neste contexto, o exercício da liderança pode ocorrer mesmo em situações em que não há cargo ou título para esta função, inversamente, o título ou o posicionamento em tal ou qual cargo não é automaticamente garantia ou requisito para o exercício da liderança.
Neste aspecto indaga-se, então, quais as qualidades necessárias para liderança? O pensamento comum a respeito nos diz que a liderança requer atributos pessoais, inteligência e aquilo que Max Weber chama de carisma (um termo utilizado por teólogos para significar a manifestação da graça divina).
Líderes, portanto, seriam figuras carismáticas cujos atributos pessoais inspiram outros a seguir seus passos.
Contestando este entendimento, inúmeros estudos e pesquisas realizados nos últimos cinquenta anos acerca do assunto não chegaram a conclusões inequívocas acerca das características de um verdadeiro líder. Muito embora estas características dependam em parte do contexto em que se encontram, e o carisma não sendo um atributo essencial, outras qualidades despontam com importância.
De um modo em geral, as características mais associadas à liderança envolvem visão, ética, competência e habilidades pessoais como autoconhecimento e autocontrole.
Por outro lado, a inabilidade de estabelecer uma visão clara de missão ou propósito, a falha em aprender com os erros, falta de integridade e em responder as necessidades dos outros são apontados como elementos fatais a liderança sendo a ambição sua principal causa. Neste ponto, ousamos afirmar que a liderança de sucesso requer um encontro das necessidades existentes com o que o indivíduo tem a oferecer para solucionar as demandas que lhe são apresentadas.
Muito embora a extensão e complexidade de causas e demandas de nosso mundo contemporâneo requeiram a miríade de habilidades e características aqui brevemente mencionadas, resta apontar um desafio final a aspirantes e líderes: o senso de humildade em reconhecer suas fraquezas, principalmente quando as circunstâncias apontam caminho contrário aos seus prévios entendimentos.
Pesquisas recentes apontam que líderes cuja humildade é autêntica são mais efetivos em suas missões, estão mais aptos a perceberem seus erros de maneira objetiva, estão mais abertos a receber novas ideias e feedback crítico e, com isto, corrigir o curso de suas atuações.
Retornando assim ao ponto de início deste artigo, neste ano teremos a chance de escolher novamente quem irá dirigir os destinos de nosso País e Estados, momento de fazer história ou de repeti-la ou, conforme John Gardner apontou, “da história produzir líderes a fazer história”.
Neste contexto importa notar que os líderes a serem escolhidos devem ser aqueles cujas habilidades melhor lhes capacitam para o exercício dos cargos em que seus pontos fortes serão críticos na condução dos assuntos em prol de toda sociedade e não somente de seus próprios.
Além disto, é o entender deste articulista que falta faz no cenário político o senso de humildade com que os cargos e funções a serem preenchidos devem ser exercidos.
Conquanto sempre se espere que nossos representantes sejam líderes para resolver toda e qualquer situação, mister atentar que na mais humana das atividades, a de servir aos outros, ou melhor dito, a coisa pública (Res Publicae), carecemos de líderes que saibam dosar suas características fortes com a humildade necessária para saber que ali estão em prol do todo e não de si.
*Anderson Fonseca. Advogado. Professor de Direito Constitucional Faculdade Santa Teresa.
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Excelente texto – parabéns pela reflexão. Forte abraço