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polarização política

Candidatos a vereadores focam mais em enriquecer do que disputas ideológicas

Nomes ligados ao PL e PT ainda usam bandeiras partidárias para buscar cadeira na Câmara Municipal de Manaus

Desde a eleição de 2018, quando Jair Bolsonaro se tornou presidente, o país viu eclodir uma polarização política de extremos, entre direita e esquerda.

Seis anos depois, essa ambiguidade permanece, porém, menos acentuada. Contudo, nas eleições deste ano, há ainda candidatos polarizados e defendendo os valores de seus espectros políticos, como a turma do Partido Liberal, o PL, e do Partido dos Trabalhadores, o PT.

Essas duas legendas são as mais emblemáticas quando o quesito é o confronto direita e esquerda. Mas será que seus principais concorrentes à Câmara Municipal de Manaus (CMM) são mesmo fieis às ideologias partidárias, ou são meros políticos profissionais que surfam na onda do momento para se reeleger?

Para entender esse posicionamento, cabe analisar o histórico partidário de alguns candidatos dessas duas legendas e ver se houve um enriquecimento financeiro em sua história política e como foi seu comportamento dentro do espectro político que atualmente defende.

Afinal, se o petista é considerado comunista, não seria contrassenso a ostentação de riqueza? Ou se o peelista é fiel às ideologias ultra-direitistas do partido, não seria errado ter vindo de legendas mais à esquerda ou que só ficam em cima do muro? Cabe a análise.

Candidatos do PL

Pelo PL, de Bolsonaro e Capitão Alberto Neto, os principais nomes na corrida por uma vaga na CMM são os atuais vereadores Capitão Carpê, Raiff Matos e Marcel Alexandre, além dos postulantes Delegado Pablo, Delegado Costa e Silva, Chico Preto, Coronel Rosses, Jean Batista e Sérgio Kruke.

Todos esses dez nomes são a linha de frente do PL na disputa a vereador. A legenda, pelo histórico da última eleição e pelas projeções de quociente eleitoral para este ano, só deve fazer dois parlamentares, ou no máximo três.

Mas analisando os quesitos propostos, histórico partidário e enriquecimento, temos o seguinte cenário entre os candidatos do PL:

O candidato com maior enriquecimento desde que entrou na política foi Capitão Carpê, que aumentou seu patrimônio em mais de 2100% desde que se tornou vereador em 2020.

Naquela eleição, ele havia declarado possuir apenas um carro no valor de R$ 42 mil. Para a eleição deste ano, Carpê declarou possuir quase R$ 1 milhão em bens. No quesito partidário, Capitão Carpê se elegeu pelo Republicanos, um partido ligado à Igreja Universal, mas mudou para o PL.

O segundo candidato a vereador pelo PL que mais enriqueceu foi Delegado Pablo. De nenhum bem declarado na eleição de 2018, quando se elegeu deputado federal, para mais de meio milhão de reais nestas eleições. Um enriquecimento financeiro de mais de 560%. Fora isso, em sua curta carreira política ele já passou pelo PSL, União Brasil, de Wilson Lima, e agora se abrigou no PL. Pablo é delegado da Polícia Federal.

Outro delegado, porém, este da Polícia Civil do Amazonas, que também gosta de ostentar, é Costa e Silva. Seu patrimônio financeiro saltou de R$ 520 mil nas eleições de 2020, para mais de R$ 1,5 milhão de reais este ano. Entre seus bens, ele tem e já teve lanchas, jetsky, casa em condomínio de luxo na Ponta Negra e motocicletas Harley Davidson.

De acordo com dados públicos sobre sua remuneração, o Delegado Costa e Silva recebe aproximadamente R$ 26 mil líquido mensalmente, mas prefere concorrer a um cargo onde o salário não chega a R$ 20 mil/mês. Em seu histórico partidário, Costa e Silva já esteve ao lado do prefeito David Almeida no Avante, passou pelo Patriota e agora abraçou o PL.

Marcel Alexandre, que é ligado à igreja evangélica, viu seu patrimônio crescer mais de 810% em 16 anos na política. Em sua primeira eleição, em 2008, ele possuía pouco mais de R$ 80 mil. Para este ano, declarou patrimônio de R$ 738 mil. 

Nesse período, Marcel já passou por cinco partidos, entre eles o MDB (na época PMDB) de Eduardo Braga e o Avante do prefeito David Almeida, além de PHS e Podemos. Agora, Marcel se declarou um peelista convicto, por onde tentará mais uma reeleição.

Chico Preto é daqueles políticos que sempre se abrigou em partidos com tendência ao Centro e a Centro-Esquerda. Um exemplo foi o então PMDB de Eduardo Braga e o PPS de Serafim Corrêa. Depois ele se abrigou no PMN, no Democrata Cristão e, agora, no PL. Chico está na política há 20 anos e já foi duas vezes vereador e uma vez deputado estadual. 

Em relação ao enriquecimento, Chico Preto iniciou na política em 2004 sem nenhum bem declarado, contudo em 2006 quando se candidatou a deputado estadual, seu patrimônio já havia saltado para mais de R$ 1 milhão. Para esta eleição, ele declarou ter apenas R$ 966 mil em bens. 

Os candidatos do PL que tiveram redução nos bens declarados foram Coronel Rosses e Raiff Matos.

Rosses disse, em 2020, ter R$ 1,1 milhão em bens, entre eles a participação em uma empresa. Este ano declarou possuir apenas R$ 750 mil em bens. Coronel Rosses já foi presidente do PSL, mas concorreu em 2020 pelo PRTB e, agora, está no PL.

Já Raiff Matos é o candidato do PL que mais pobre ficou desde que virou político. De acordo com sua declaração de bens à Justiça Eleitoral, ele perdeu mais de 90% de seu patrimônio desde a eleição de 2020. Na época ele declarou possuir R$ 79.950 em bens. Na eleição seguinte, em 2022, quando tentou ser deputado estadual, seu patrimônio caiu para apenas R$ 14.950. Agora, este ano, Raiff disse ter apenas um carro elétrico financiado, cujo valor declarado foi de somente R$ 7.562. Pelo visto, a política não foi uma boa para o vereador de Manaus que se elegeu pelo Democrata Cristão e agora está nas fileiras do PL.

Os demais candidatos da chamada linha de frente do PL ou não possuem bens, como o candidato de primeira viagem Jean Batista, ou pouco mais de R$ 20 mil, como Sérgio Kruke. 

Candidatos do PT

Pelo lado petista, a declaração de renda dos principais candidatos, no geral, são mais módicas. Os principais nomes do PT na corrida pela Câmara Municipal são o Delegado João Tayah, Anne Moura, o advogado Félix Valois, Luiz Borges, o atual vereador Sassá da Construção Civil e o ex-vereador e ex-deputado estadual Zé Ricardo.

Diferente dos candidatos do PL, no PT a fidelidade partidária e a ideologia pela esquerda é quase uníssona, ou seja, todos iniciaram suas carreiras políticas no Partido dos Trabalhadores e, por lá, ainda permanecem. Os únicos que vieram de outras legendas são o vereador Sassá, que já foi do PSB, e o Delegado João Tayah, que foi do PSOL, mas ambas legendas de esquerda.

Em relação às declarações de bens à Justiça Eleitoral, o candidato mais rico do PT é o Delegado João Tayah, com mais de R$ 1,8 milhão entre carros e apartamentos financiados. Desde sua primeira eleição, em 2014, o patrimônio do político, que também é delegado da PC do Amazonas, cresce 223% nesses dez anos.

O segundo candidato mais rico do PT é José Ricardo, o “Homem da Kombi”, que declarou possuir R$ 1,4 milhão. Zé Ricardo, como também é conhecido, acumula dois mandatos como vereador e dois como deputado estadual em seus 20 anos na política. Quando entrou, em 2004, disse não possuir nenhum bem.

Advogado Felix Valois tem patrimônio de mais de R$ 940 mil fruto dos anos na advocacia amazonense Foto: Reprodução

O advogado Felix Valois é o terceiro mais bem aquinhoado no PT. Esta será sua primeira eleição, e todo seu patrimônio de mais de R$ 940 mil são fruto dos anos na advocacia amazonense.

Luiz Borges teve um crescimento patrimonial de mais de 227% desde que disputou sua primeira eleição, em 2014. Na época, ele declarou possuir R$ 180 mil em bens e, agora, disse ter mais de R$ 650 mil.

Anne Moura, desde sua primeira campanha em 2016, acumulou R$ 170 mil em patrimônio. Na época ela declarou não possuir nenhum bem em seu nome.

Agora, o caso mais curioso entre os candidatos petistas é o do vereador Sassá da Construção Civil, que desde sua primeira eleição, em 2008, declara à Justiça Eleitoral ser “pobre de marré deci”, como diriam os antigos. Nesses 16 anos na política e acumulando dois mandatos como vereador, Sassá diz nunca ter comprado nenhum bem em seu nome.

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