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Caio André assume Cultura sob protestos de artistas amazonenses

Artistas e especialistas comentaram sobre a nomeação do ex-presidente da CMM para a Secretária de Cultura do Amazonas

Foto: Mauro Pereira – Dicom

A recente nomeação de Caio André (União Brasil), ex-presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM), para a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC) gerou uma onda de insatisfação e manifestações entre artistas e trabalhadores da cultura no estado. 

Diversos segmentos artísticos expressaram descontentamento com a escolha do governador Wilson Lima (União Brasil), que, segundo os críticos, optou por um nome sem um histórico relevante no setor cultural.

A mobilização coletiva ocorre em um momento decisivo para a cultura amazonense, um setor essencial para o desenvolvimento social e econômico da região. A cultura local não apenas preserva a identidade regional, como também impulsiona a economia por meio de diversas produções artísticas, como artes plásticas, audiovisual, dança, literatura, teatro e música.

Críticas à falta de experiência

A apresentadora e atriz Norma Araújo, conhecida como “Manazinha”, se manifestou nas redes sociais contra a nomeação. Em um vídeo publicado, ela expressou seu descontentamento, destacando que Caio André é o primeiro político a assumir a pasta, que, segundo ela, exige um entendimento mais profundo do setor cultural. 

“O Caio André é o primeiro político a assumir a Secretaria de Cultura, que é uma pasta delicada porque não é só boi, não é só carnaval, e o foco do Caio André é o boi de Parintins, onde rola muito dinheiro”, afirmou.

Norma Araújo também apontou que a troca de comando traz incertezas, especialmente sobre a possível substituição de toda a equipe e os impactos nos projetos em andamento, como editais e verba destinada a essas iniciativas.

“Eu estou muito triste hoje, porque eu sou amazonense e vejo o seguinte, a gente rema três passos para frente e 50 para trás. Agora, isso aí, questionável, totalmente questionável. Não tem nada a ver com o povo, o povo não existe. Povo é massa de manobra. O que vale são as articulações políticas para ganhar mais dinheiro aqui”, desabafou.

A nomeação de Caio André foi vista como uma decisão política, já que o ex-presidente da CMM não obteve votos suficientes para se reeleger nas últimas eleições, ficando a apenas 62 votos da vitória.

Já a gestão dele foi marcada por questionamentos sobre transparência pública, incluindo denúncias de funcionários fantasmas e a destinação controversa de emendas parlamentares.

Preocupações com a falta de diálogo

O cientista político e advogado Carlos Santiago avaliou a nomeação como uma decisão preocupante. “A Secretaria de Cultura merece um gestor com diálogo direto com os profissionais do setor”, destacou, ressaltando que 2025, sem grandes crises, poderia ser um ano de eficiência na busca por melhores indicadores culturais. 

Segundo ele, Caio André não tem experiência significativa no setor cultural e assumiu o cargo com grande rejeição por parte de artistas e profissionais da cultura.

“A nomeação de um político que não foi eleito para uma pasta tão sensível e importante, mas que ainda precisa de muita atenção: a Secretaria de Cultura, que já assume o cargo com uma grande rejeição por parte de alguns artistas e pessoas que, há muitos anos, se dedicam a atividades culturais. É preciso, sim, de um novo gestor para a cultura, mas é necessário também um diálogo com quem faz, de fato, cultura no Amazonas. E um setor tão importante como a cultura não pode ser tratado apenas como um setor político.”

Protestos e mobilização

Organizações culturais intensificaram suas críticas após a confirmação da nomeação, pedindo mais representatividade na gestão da SEC. Artistas temem que a falta de experiência de Caio André prejudique iniciativas cruciais, como o Carnaval, previsto para março.

A substituição de Cândido Jeremias, ex-secretário amplamente elogiado, intensificou o descontentamento. Jeremias era visto como um gestor técnico qualificado, o que torna ainda mais controversa a escolha do novo secretário.

Falta de experiência e as consequências

A principal crítica é a falta de experiência de Caio André no setor cultural. Embora tenha sido presidente da CMM e vereador, ele não possui um histórico relevante em políticas culturais, gerando insegurança no meio artístico. 

“Caio André, com formação em Direito e uma trajetória focada em Esporte e Política, não possui vínculos diretos com a Cultura, o que levanta questionamentos sobre sua capacidade de lidar com as demandas da área”, disse o gestor cultural Reviossonon Alberto Jorge Silva, coordenador do Festival Afro Amazônico de Yemanjá.

Reviossonon criticou também a falta de diálogo com as lideranças culturais da região e questionou a experiência de Caio André no campo cultural.

“A cultura no Brasil, especialmente com a reativação do Ministério da Cultura pelo governo de Lula, exige uma abordagem técnica, com ações planejadas que envolvem desde editais até conferências de cultura”, disse. Segundo ele, a nomeação de Caio André poderia agravar a situação já desafiadora enfrentada pela equipe da SEC.

Mobilização para o controle social

Reviossonon também se manifestou com relação ao controle social. “A classe artística e cultural não vai se calar. Nós não vamos cruzar os braços, não vamos nos dar por satisfeitos com isso. Vamos buscar conversar com o governador e pedir que ele entenda a nossa parte, compreenda a nossa preocupação. Se, contudo, o governador quiser manter, por uma questão partidária, por uma questão de acordos ou de capricho pessoal, o nome de Caio André, nós vamos cumprir o nosso papel enquanto movimento social, que é o de controle social”, afirmou.

Ele reforçou que, caso a gestão não seja bem conduzida, o impacto será negativo, afetando o fluxo de recursos federais para o Amazonas.

“Se essa gestão não tiver uma capacidade técnica, o impacto será negativo. Altamente negativo. E isso poderá emperrar, nos próximos anos, a vinda de recursos federais para o Amazonas. Porque, se de repente isso não for executado como deve ser, nós não vamos pensar duas vezes em denunciar isso. Não vamos pensar duas vezes em causar a confusão”, alertou.

Ele também ressaltou o sucesso da implementação da Lei Paulo Gustavo no estado, que pode ser comprometido. “O Estado do Amazonas conseguiu realizar 100% da Lei Paulo Gustavo. Isso é informação do Ministério da Cultura. E agora vamos correr o risco de ver tudo isso cair por terra por conta de um acordo político do governador Wilson Lima”, lamentou.

Preocupações com a continuidade dos projetos

O artista visual amazonense e ativista, Margem do Rio, também se manifestou sobre a nomeação, destacando a necessidade de um diálogo prévio entre o governador Wilson Lima e os representantes culturais.

“A escolha de Caio André não parece ser uma escolha baseada em competências”, afirmou Margem, lembrando que, durante seu trabalho na Câmara de Vereadores, Caio André apresentou apenas 11 projetos para a cultura, de um total de 160 propostas.

“Caio chega de paraquedas, justo em um momento de resultados de editais e continuações de projetos de 2024 ainda. Sempre nessas trocas de gestão, acontece a perda de frentes de trabalhos e projetos que já estão em andamento. Isso é uma bomba jogada nos projetos em andamento”, completou.

Margem do Rio também alertou que os artistas não aceitarão decisões impositivas e que a luta pela cultura no Amazonas continuará.

“Não aceitaremos ordem de cima para baixo, nossa conversa precisa ser na horizontalidade! Isso não é um favor, é um direito. Estamos falando de direitos básicos e elementares para a cultura na região amazônica e no Brasil”, concluiu.

Com o cenário de incertezas e tensões, a comunidade artística e cultural do Amazonas segue mobilizada para garantir que a gestão da cultura no estado seja conduzida com responsabilidade, diálogo e competência técnica.

A equipe de reportagem do Amazonas Em Tempo entrou em contato, por meio da assessoria, com o novo secretário de Cultura, Caio André, mas, até a finalização desta matéria, não obteve retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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Caio André é confirmado como novo secretário de Cultura do Amazonas

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Comentários:

  1. De certo essa foi a reportagem mais bem feita, abrangente, escrita e publicada até o momento.
    O Em Tempo está de parabéns.
    A repórter conseguiu fazer um excelente resumo do clima de insatisfação e tensão que hoje estamos vivendo no Amazonas.
    O único responsável por tudo isso é o governador Wilson Lima, que mais uma vez age como dono da máquina do Estado, fazendo o que lhe é conveniente politicamente, sem ter o menor respeito com os Fazedores e Operadores Culturais.
    Mas o que esperar de um governador partidário de um ex-presidente, cuja maior contribuição para a Cultura brasileira, foi o desmonte, a quase total destruição das estruturas governamentais que sempre sustentaram a existência da Política Nacional de Cultura?
    O governador Wilson Lima é declaradamente seguidor da ideologia de direita bolsonarista. Um grupo político infeliz que vê na Cultura uma perda de tempo e de recursos. Daí o porquê do desgoverno BolsoNero ter acabado com o MINC, ter sucateado a Fundação Cultural Palmares entre outras.
    Não há o que esperar de bom nesses próximos 23 meses que faltam para o encerramento do infeliz governo de Wilson Lima.
    Agora cabe à todos nós, especialmente aos Conselheiros Estaduais de Cultura, fazermos a vigilância rigorosa das ações e utilização dos recursos milionários da Cultura.
    A nomeação de Caio André revela um dado extremamente pavoroso: o governador Wilson Lima não quer que os milhões de reais destinados à Cultura do Amazonas, sejam administrados e gerenciados de forma técnica, como estava sendo feita pelo ex secretário Cândido Jeremias Cumarú Neto.
    Wilson Lima quer alguém que faça apenas e tão somente o que lhe convém, e possa garantir apoio eleitoral para que ele seja eleito Senador.
    Está mais do que evidente a verdadeira personalidade e o verdadeiro caráter de Wilson Lima.
    Está evidente que não é e jamais será os reais interesses da população, mas apenas o que convém para si e para seu grupo político.
    Nós perdemos a chance de mudar este governo, quando reelegemos Wilson Lima para governador.
    Mas ainda temos uma grande e única oportunidade de evitarmos a continuidade desse desastre político.
    Wilson Lima quer ser Senador por oito anos.
    O grande ponto de reflexão é, que senador será Wilson Lima?
    O que podemos esperar dele?
    Que exemplos reais já temos desse rapaz que surgiu no cenário político local, de forma messiânica, prometendo fazer o que ninguém fez, mas que repetiu e está repetindo o velho e corroído modelo político dos coronéis de barranco?
    Penso que ao ser reeleito, após Manaus e o Amazonas terem sido usados como cobaias das teorias loucas sobre o avanço epidêmico da Covid19, onde o governo do Estado do Amazonas assinou um irrefutável atestado de incompetência técnica e administrativa na área da Saúde, o governador se sentiu dono da situação.
    Considerou que mais da metade do eleitorado amazonense, é composto por lesos barés, desmemoriados, que são incapazes de enxergar quem lhes fez e está fazendo mau.
    Não basta ao governador Wilson Lima fazer um governo desastroso na Saúde, uma área onde se gastam anualmente trilhões de reais, mas que até o momento, não apresentou resultados efetivos, que de fato resolvam o grave problema da Assistência em Saúde de Média e Alta Complexidade de Manaus e do Amazonas.
    Agora a grande vítima é a Cultura.
    Cabe à nós amazonenses uma necessária e profunda reflexão, quanto ao que se está permitindo que Manaus e o Amazonas se tornem.
    Wilson Lima tem as qualidades e a capacidade administrativas e morais para ser Senador da República pelo Amazonas, por oito longos anos?
    É a continuidade dessa forma perversa de fazer política, que o amazonense quer que continue existindo?
    Nós que fazemos e levamos Cultura ficaremos silentes e coniventes com esse tipo de manobra perversa de uma política que nos trouxe retrocessos e mortes por incompetência e insensibilidade administrativas?
    É hora de fazermos valer a nossa condição de descendentes do grande e lendário Ajuricaba, herói amazonense que preferiu a morte à se submeter ao escárnio do inimigo.
    Não há mais tempo à perder. A campanha eleitoral para 2026 já começou e o governador Wilson Lima e seus correligionários já deram e continuam dando provas, de que seus interesses nada republicanos, vem sempre em primeiro lugar, em detrimento dos reais interesses do povo amazonense.
    É o que penso.
    Xɛ́byosɔnɔ̀n Ọba Méjì Fataɖagbenɔ un nyi Alberto Jorge Silva
    Sacerdote da Sacralidade de Matriz Africana Jeji Fɔngbe
    Membro do Comitê Técnico de Saúde Integral da Saúde LGBTQUI+ do Amazonas
    Ex Conselheiro Estadual de Saúde do Amazonas
    Ex Conselheiro Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas
    Gestor Cultural
    Coordenador Geral do Festival Afro Amazônico de Yemanjá e do Balaio da Oxum do Encontro das Águas
    Fundador e Mantenedor da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé
    Coordenador Geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana — ARATRAMA

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