O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou que o Estado do Amazonas registrou 1.552 casos de estupros em 2024, apontando um crescimento de 42,91% em relação a 2023. Na prática, isso equivale a quatro estupros por dia.
Das vítimas, cerca de 1.355 foram mulheres, enquanto 173 foram homens; 24 não foram identificados. No ano anterior, o pico de casos ocorreu no mês de agosto, que registrou 166 vítimas. O segundo mês com mais ocorrências foi julho, com 156, e em terceiro lugar, setembro com 155.
No cenário nacional, foram contabilizados 79.688 casos de abusos sexuais no país, uma média de 218 casos por dia. Em relação ao ano anterior, houve uma queda de 3,05%.
Na região norte, o Pará lidera o ranking de estado com mais casos, seguido do Amazonas. Ainda de acordo com o levantamento, o Amazonas ocupa a segunda colocação entre os estados que tiveram aumento no percentual de casos.
Paraíba lidera com 103,48%, seguido do Amazonas, que teve 42,9%, Amapá vem em terceiro com 35,95%, e Tocantins fecha o top 4, com 16,87%.
Repercussão
Um dos casos que mais repercutiu, em 2024, envolvendo estupro de menores de idade ocorreu no município de Coari, no interior do Amazonas. Por meio de uma investigação, a polícia descobriu um esquema de abuso infantil que envolvia até uma figura religiosa da cidade.
O padre Paulo Araújo da Silva, de 31 anos, foi preso em agosto do ano passado, suspeito de manter relações sexuais, filmar os atos e engravidar uma adolescente de 17 anos em Coari. Apesar da repercussão, o crime ocorreu em setembro de 2023.
Segundo a polícia, as investigações começaram após recebimento de informações de uma vítima menor que estava tendo relações sexuais com o padre. Durante a relação, o investigado gravava as relações e armazenava em seu computador, onde possuía vários videos de sexo explícito com a adolescente.
De acordo com a investigação, a menor chegou a engravidar após ter relações sexuais com o Padre Paulo. Um amigo do padre ajudou para que essa gravidez fosse interrompida.
“Ele utilizou pílulas de um medicamento chamado misoprostol para a interrupção da gravidez sem autorização legal e sem que os pais da adolescentes tivessem conhecimento do aborto praticado por terceiros”, afirmou o delegado responsável pelo caso.
Durante as investigações, foi constatado que o Padre Paulo fazia constantes ameaças à vítima, afirmando que, caso ela não continuasse a ter relações sexuais com ele, “iria acabar com a vida dela, pois ela era sua e de mais ninguém”.
Ainda no mesmo mês, a travesti Lorena Marques, foi presa por suspeita de envolvimento em estupros cometidos pelo padre Paulo. De acordo com o delegado José Barradas, titular da Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Coari, Lorena era uma dos principais alvos da operação. Ela foi apontada como a responsável por aliciar e conduzir adolescentes para programas sexuais envolvendo o padre.
Este foi apenas um dos casos que viraram manchete em 2024 e evidenciaram os casos de estupros registrados no Amazonas. Em contrapartida, a segurança pública atua para investigar e salvar vítimas deste crime.
Ações de combate ao abuso sexual infantil
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, entre os meses de janeiro a setembro de 2024, as ações de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes foram intensificadas. Conforme os dados da Divisão de Recebimento, Análise e Distribuição de Inquéritos (Drad), durante esse período, foram registradas 226 prisões de infratores por estupro de vulnerável, tanto na capital quanto no interior do estado.
As prisões foram efetuadas por meio de cumprimento de mandados de prisão e em flagrante delito, sendo 122 na capital amazonense e 104 no interior.
Conforme a delegada Juliana Tuma, titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), o alerta e a proteção contra o abuso sexual de grupos vulneráveis são uma responsabilidade coletiva. Ela destaca que existem sinais que podem ser observados no comportamento de possíveis vítimas de exploração sexual.
“Entre os sintomas físicos e psicológicos comuns em vítimas de estupro de vulnerável ou favorecimento à exploração sexual, estão: isolamento social, mudanças bruscas de comportamento, condutas inadequadas para a idade, baixo rendimento escolar, agressividade, ansiedade, depressão, alterações no sono, lesões nas partes íntimas e, em alguns casos, automutilações”, informou a delegada.
Segundo a autoridade policial, tanto a escola quanto a família desempenham um papel fundamental na vida de crianças e adolescentes. É urgente que a família crie um ambiente seguro e aberto ao diálogo, permitindo que as vítimas se sintam à vontade para relatar qualquer tipo de abuso sexual que estejam enfrentando.
“A escola, por sua vez, tem um papel crucial no combate e na prevenção desses crimes. Ela deve promover um ambiente acolhedor, onde as vítimas possam se sentir confortáveis para revelar situações de abuso a professores, gestores ou funcionários”, afirmou Juliana Tuma.
Denúncias e registro de BO
A Polícia Civil do Amazonas ressalta que qualquer pessoa que tiver conhecimento de ocorrência de abuso sexual ou crimes dessa natureza deve denunciá-los pelos seguintes números: (92) 99962-2441, o disque denúncia da Depca; 181, da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM); ou 100, do Disque Direitos Humanos. Também é possível informar o Conselho Tutelar.
As denúncias podem ser realizadas em qualquer unidade policial, além da Depca, que está localizada na avenida Via Láctea, conjunto Morada do Sol, bairro Aleixo, Zona Centro-Sul, e funciona 24 horas por dia.
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