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Saiba quem são os empresários do AM presos em Brasília com R$ 1,2 milhão

Trio foi flagrado pela Polícia Federal com R$ 1,2 milhão em espécie em malas despachadas em voo vindo de Manaus; suspeita é de ligação com contratos públicos e desvio de verbas

Mala com dinheiro em espécie apreendida pela Polícia Federal no Aeroporto de Brasília
Foto: Divulgação/Polícia Federal

Manaus (AM) – Três empresários do Amazonas — identificados como César de Jesus Glória Albuquerque, Erick Pinto Saraiva e Vagner Santos Moitinho — foram presos em flagrante nesta terça-feira (20), no Aeroporto Internacional de Brasília, suspeitos de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro.

De acordo com a Polícia Federal, os empresários transportavam mais de R$ 1,2 milhão em espécie, distribuídos em malas despachadas em um voo da Latam que partiu de Manaus com destino à capital federal.

Segundo a Polícia Federal, o flagrante ocorreu durante uma fiscalização de rotina nos volumes despachados no terminal de cargas. Os três empresários viajavam juntos, mas deram versões contraditórias sobre a origem e o destino da quantia.

Eles afirmaram que o valor seria utilizado para pagar dívidas e adquirir insumos no estado de Goiás. No entanto, nenhum deles soube informar com precisão os locais de compra, tampouco identificar os supostos credores envolvidos nas transações.

Um dos presos, César Albuquerque, é proprietário da empresa Comercial CJ – Comércio de Produtos Alimentícios Ltda., com sede no município de Presidente Figueiredo (AM). De acordo com dados da Receita Federal, a empresa está registrada sob o CNPJ 31.158.755/0001-42 e possui capital social declarado de R$ 2,5 milhões.

A empresa possui uma extensa ramificação de atividades, que vai desde a comercialização de produtos alimentícios até a prestação de serviços funerários. Trata-se de um típico exemplo de empresa “faz-tudo”, como são conhecidas, informalmente, as firmas que atuam em múltiplos segmentos, muitas vezes sem relação direta com sua atividade principal ou com coerência no objeto social declarado.

Em abril deste ano, a Comercial CJ foi contratada pela Prefeitura de Coari, administrada por Adail Pinheiro (Republicanos), para fornecer bolsas, bonés, tecidos e outros itens por mais de R$ 2,5 milhões. A contratação chamou atenção por desviar do foco original da empresa, que é o comércio de alimentos. A mesma firma já havia vencido, em 2024, uma licitação da Prefeitura de Manaus para o fornecimento de merenda escolar.

O histórico de contratos públicos firmado por uma empresa com atividades tão diversificadas levanta suspeitas sobre o real funcionamento do negócio e seu possível uso como veículo para operações financeiras fora dos padrões legais. A Polícia Federal não descarta o envolvimento de outras pessoas físicas ou jurídicas no esquema de movimentação irregular de valores em espécie.

A Polícia Federal apura ainda a ligação dos empresários com empresas que possuem capacidade econômica incompatível com os valores movimentados e o capital social oficialmente declarado. Para os investigadores, há fortes indícios de que o dinheiro apreendido esteja vinculado a contratos públicos e esquemas de desvio de verbas municipais, especialmente em prefeituras do interior do Amazonas.

O Portal Em Tempo também apurou que Vagner Santos Moitinho é proprietário da empresa Vitória Régia Confecção e Comércio de Artigos do Vestuário LTDA, com sede no bairro Cidade de Deus, zona Norte de Manaus. Constituída em 14 de abril de 2021, a empresa tem capital social registrado de R$ 2 milhões.

Apesar de ter como atividade principal a confecção de roupas, a empresa também está habilitada para o comércio varejista de tintas, materiais de pintura e até papelaria — o que, assim como no caso da Comercial CJ, revela um escopo de atuação extremamente diversificado e potencialmente incompatível com a natureza do negócio.

Empresas com esse perfil costumam chamar atenção de órgãos de controle por sua facilidade em se adequar a múltiplas licitações públicas, muitas vezes atuando como fornecedoras de última hora em contratos vultosos. A PF investiga se há um padrão de uso dessas firmas como fachada para movimentação de recursos públicos.

Informações obtidas pelo Portal Em Tempo também indicam que Vagner Santos Moitinho seria pai do vereador de Manaus, Lucas Moitinho (PSC). Procurado para comentar o caso, o parlamentar não se manifestou até o fechamento desta matéria.

Uma das hipóteses levantadas por investigadores é que o montante em espécie estivesse relacionado à 26ª Marcha dos Prefeitos, realizada nesta semana em Brasília. O evento, que reúne gestores de mais de 5 mil municípios brasileiros, contou com a presença maciça de prefeitos do Amazonas, incluindo representantes de cidades onde as empresas dos suspeitos mantêm contratos ativos.

A suspeita é de que o dinheiro pudesse ser usado para viabilizar pagamentos ou acertos políticos relacionados a essas administrações, num contexto onde a circulação de valores em espécie foge ao padrão de transparência exigido para transações públicas.

As investigações seguem sob sigilo, e os três presos seguem à disposição da Justiça Federal, em Brasília.

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