Manaus (AM) – A carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com ameaça de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, acendeu um alerta para a indústria da Zona Franca de Manaus (ZFM). A medida, se implementada, pode afetar diretamente setores produtivos do Polo Industrial que mantêm relações comerciais com o mercado norte-americano.

No texto, Trump justifica a retaliação comercial como resposta aos processos judiciais que tramitam contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e às decisões judiciais brasileiras envolvendo empresas americanas de tecnologia.

Embora os Estados Unidos não sejam o principal destino das exportações da ZFM — posição ocupada pela Argentina, Colômbia e outros países da América Latina —, os dados do sistema ComexStat mostram que, em 2024, os EUA representaram cerca de US$ 210 milhões em exportações enviadas pelo Amazonas, principalmente de eletroeletrônicos, motocicletas e componentes industriais produzidos em Manaus.

Além disso, a economia da ZFM depende fortemente de insumos importados para montagem de produtos finais, o que torna o polo industrial vulnerável a oscilações cambiais e barreiras comerciais internacionais.

Importância da ZFM

Segundo informações da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), a indústria do Polo gera mais de 111 mil empregos diretos, com cerca de 500 empresas incentivadas. O modelo depende de estabilidade logística, acordos comerciais sólidos e segurança jurídica para manter sua operação sustentável na região.

A carta de Trump foi considerada uma tentativa de interferência em assuntos internos do Brasil e gerou resposta imediata de Lula, que reafirmou, por meio das redes sociais, que o Brasil é um país soberano e que eventuais aumentos tarifários serão respondidos com medidas de reciprocidade.

O presidente Lula (PT) citou a recém-aprovada lei de reciprocidade econômica ao reagir ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que iria impor uma tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros.

“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica”, disse nesta quarta-feira 9. O presidente afirmou ainda que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém”.

Preocupação

A possibilidade de novas tarifas preocupa especialistas do setor. Em episódios anteriores — como no aumento de tarifas de aço brasileiro em 2018, também sob governo Trump — empresas do Polo Industrial precisaram reavaliar contratos e redirecionar exportações.

Em nota publicada, a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) já havia alertado para o risco de “efeito dominó” em setores integrados à cadeia global. A entidade reforçou a importância de políticas externas que preservem o ambiente de negócios na região.

Bancada do Amazonas

A bancada do Amazonas no Congresso Nacional também articula uma reação conjunta. O senador Omar Aziz (PSD-AM) defendeu, em entrevista à Agência Senado, a proteção da ZFM frente a “ameaças geopolíticas que podem penalizar a indústria e os trabalhadores do Amazonas”.

O episódio reforça a urgência de uma política externa atenta e de estratégias sólidas para blindar a Zona Franca de Manaus — modelo vital para o equilíbrio socioeconômico da Amazônia e para a soberania industrial do Brasil. Agora, além dos desafios internos, o polo enfrenta ameaças externas que exigem resposta firme e articulada.

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