O avião da Voepass que caiu no interior do estado de São Paulo não estava em condições adequadas de voo, afirmou um ex-copiloto em entrevista exibida pelo programa Fantástico na noite de domingo (3).
Segundo Luís Claudio de Almeida, que já havia operado o mesmo modelo de aeronave — o ATR 72-500, prefixo PS-VPB — a aeronave apresentava falhas recorrentes no sistema responsável por remover o gelo das asas, o que poderia comprometer a segurança durante o voo. O acidente aconteceu em 9 de agosto de 2024, na cidade de Vinhedo, e causou a morte de todas as 62 pessoas a bordo.
“Você ligava, ele caía; ligava de novo, ele caía”, afirmou o ex-copiloto durante a entrevista.
A Voepass, por sua vez, declarou que todas as suas aeronaves atendiam aos requisitos de segurança e estavam autorizadas para operação. No entanto, a companhia teve seu Certificado de Operador Aéreo (COE) cassado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em junho deste ano, o que a impede de realizar voos comerciais.
Falhas
Ainda na reportagem, foi revelado um áudio atribuído a dois funcionários do setor de manutenção da Voepass. Em um dos trechos, um deles manifesta arrependimento por não ter reportado falhas em equipamentos. Ele chega a dizer estar com um “remorso desgraçado”. O diálogo teria ocorrido num contexto de pressão por inspeções rápidas no centro de manutenção da empresa em Ribeirão Preto (SP).
O comandante da aeronave também teria mencionado informalmente falhas no sistema de degelo, mas não chegou a registrar oficialmente a queixa.
Relatório
Um relatório preliminar do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), divulgado em setembro de 2024, apontou que a formação severa de gelo nas asas pode ter provocado a perda de controle do avião pouco antes da queda. O ATR 72-500 se preparava para pousar em Guarulhos quando, após uma leve curva à direita, fez uma guinada abrupta à esquerda, possivelmente relacionada à perda de sustentação.
Os dados da investigação indicam alertas constantes sobre a presença de gelo, perda de velocidade e acionamento de sistemas de controle pelos pilotos para tentar lidar com a situação.
A hipótese principal para o acidente do voo 2283 é o acúmulo de gelo nas asas — resultado de uma combinação de fatores: as condições climáticas, a altitude em que o modelo ATR 72-500 opera, e o histórico de incidentes semelhantes envolvendo essa aeronave em ambientes propícios à formação de gelo.
O ATR 72-500 é equipado com dois sistemas complementares para enfrentar esse tipo de situação: um elétrico, que protege o para-brisa e sensores (como os pitots), e outro pneumático, que utiliza ar quente das turbinas para inflar câmaras de borracha nas asas e cauda, quebrando o gelo acumulado. Esses sistemas precisam ser ativados manualmente, o que é rotina em voos com risco de congelamento, como o do acidente.
Em março deste ano, a Anac havia suspendido temporariamente as operações da Voepass após encontrar falhas não corrigidas em suas aeronaves durante inspeções. A cassação definitiva do COE em junho colocou fim às atividades comerciais da empresa, que vinha tentando retomar os voos desde o acidente.
Em nota, a Voepass reiterou que suas aeronaves sempre operaram conforme os padrões internacionais de segurança e declarou confiança no trabalho investigativo do Cenipa. O relatório final do acidente ainda não tem data para ser divulgado.
(*) Com informações da Folha de S. Paulo
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