Após quase dois anos de guerra, o Gabinete de Segurança de Israel aprovou, na madrugada desta sexta-feira (8), o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para ampliar a ofensiva militar e tomar o controle da Cidade de Gaza, no norte do enclave palestino.

A decisão ocorre em meio ao impasse nas negociações por um cessar-fogo e pela libertação de reféns, contrariando as recomendações da cúpula militar israelense, que sugeria um novo acordo em vez da escalada dos combates.

O que prevê o novo plano militar de Israel?

Segundo comunicado do Gabinete de Netanyahu, o Exército se prepara para conquistar a Cidade de Gaza, atualmente cercada por áreas já controladas por Israel ou sob ordens de evacuação. A ofensiva será gradual e, segundo o governo, acompanhada da distribuição de ajuda humanitária fora das zonas de combate.

Apesar de o anúncio oficial se limitar à Cidade de Gaza, há indícios de que o plano abrange outras áreas, uma vez que o objetivo declarado é “destruir [o grupo terrorista] Hamas”.

O plano configura uma ocupação de Gaza?

O Gabinete evita o termo “ocupar” e fala em “tomar o controle” da Cidade de Gaza. Segundo o portal israelense Ynet, a escolha da linguagem busca evitar obrigações legais relacionadas à responsabilidade sobre civis. No entanto, uma autoridade israelense afirmou, sob anonimato, que o plano representa sim uma ocupação militar completa.

Qual o prazo dado por Israel para evacuação?

O governo israelense deu até 7 de outubro para os palestinos deixarem a Cidade de Gaza. O prazo de dois meses coincide com o segundo aniversário dos ataques do Hamas em 2023. Após essa data, Israel deve iniciar a ofensiva terrestre, com uma fase inicial de três meses e expectativa de até sete meses para concluir a operação.

Objetivos declarados da nova ofensiva

O plano estabelece cinco metas principais para encerrar a guerra:

  1. Desarmar o Hamas;
  2. Garantir a devolução de todos os reféns, vivos ou mortos;
  3. Desmilitarizar a Faixa de Gaza;
  4. Manter o controle de segurança israelense na região;
  5. Criar uma administração civil alternativa sem participação do Hamas ou da Autoridade Nacional Palestina.

Por que a Cidade de Gaza é o principal alvo?

Com cerca de 800 mil habitantes, a Cidade de Gaza é o centro político, econômico e social da Faixa. Israel considera sua conquista essencial para enfraquecer a estrutura de comando do Hamas. Até agora, o Exército evitou ofensivas terrestres de larga escala na cidade devido à alta densidade populacional.

Israel pretende governar Gaza?

Segundo Netanyahu, não. Em entrevista à Fox News, o premiê afirmou que não quer manter o controle direto sobre Gaza, mas entregá-la a “forças árabes” capazes de governar sem representar ameaça a Israel. A proposta inclui garantir a segurança israelense e remover o Hamas do poder.

Quais áreas de Gaza estão sob controle israelense?

Atualmente, o Exército israelense controla cerca de 75% da Faixa de Gaza, principalmente ao longo da fronteira. A ONU afirma que 86% do território está militarizado ou sob ordens de retirada. A região entre a Cidade de Gaza e Khan Younis, incluindo campos de refugiados, ainda não está sob domínio de Israel.

Quanto tempo levará para controlar toda a Faixa?

O chefe do Estado-Maior, general Eyal Zamir, estima que uma ocupação total levaria de um a dois anos, com cinco meses de combates intensos na fase inicial. Para estabelecer um controle similar ao da Cisjordânia, seriam necessários até cinco anos de operações contínuas.

Por que há resistência interna ao plano?

Zamir apresentou um plano alternativo, rejeitado pelo Gabinete. Ele alertou para o desgaste das tropas, o impacto de mobilizar 200 mil reservistas e os riscos de Israel assumir responsabilidades sobre milhões de palestinos. Famílias de reféns e opositores políticos alertam para o aumento no número de mortes e o risco de isolamento diplomático.

A ofensiva pode ser interrompida?

Sim. O governo afirmou que poderá suspender a operação caso o Hamas aceite as exigências e um acordo para libertação de reféns seja firmado. No entanto, membros da ala mais radical da coalizão pressionam para que a operação vá até o fim, sem negociações.

Reações do Hamas e da comunidade internacional

O Hamas chamou o plano de “novo crime de guerra” e acusou Israel de sacrificar os reféns. Diversos países e entidades internacionais reagiram negativamente. China, Turquia, Reino Unido e o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos condenaram a decisão. A Alemanha, de forma inédita, suspendeu exportações militares para Israel.

Reações internas em Israel

O líder da oposição, Yair Lapid, considerou o plano “uma catástrofe” e destacou os custos humanos, financeiros e diplomáticos da operação. Famílias de reféns acusaram o governo de abandoná-los. Parte da população e membros da coalizão governista, no entanto, apoiam a medida como forma de derrotar o Hamas.

Qual é a situação atual dos reféns?

Durante o ataque de 7 de outubro de 2023, o Hamas sequestrou 251 pessoas. Segundo Israel, 49 ainda estão em Gaza — 27 estariam mortas. Estima-se que 20 ainda estejam vivas. As famílias temem que a nova ofensiva coloque os reféns em risco de execução.

Consequências humanitárias para Gaza

A ONU afirma que a Faixa de Gaza precisa de 600 caminhões de ajuda por dia, mas apenas 70 a 80 estão entrando, após inspeções rigorosas. Desde o início da guerra, mais de 61 mil palestinos morreram, segundo o Ministério da Saúde local, a maioria civis. A ampliação das operações pode agravar ainda mais a crise, com milhares de pessoas vivendo em tendas, abrigos improvisados ou prédios destruídos.

(*) Com informações do OGlobo

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