A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga se parte do dinheiro arrecadado por influenciadores digitais que promovem o ‘jogo do tigrinho’ tem destino final em facções criminosas como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com os investigadores, a estrutura montada para disfarçar os lucros obtidos com jogos de azar online envolve pessoas ligadas diretamente ao crime organizado. A reportagem buscou contato com a defesa dos citados.
Influenciadores sob suspeita em operação que movimentou bilhões
A Operação Desfortuna cumpriu mandados de busca e apreensão contra 15 influenciadores digitais com audiência combinada superior a 30 milhões de seguidores. A suspeita é de que o grupo atue em um esquema de publicidade enganosa, estelionato e lavagem de dinheiro. O valor movimentado ultrapassa R$ 4 bilhões.
Segundo o delegado Renan Mello, da Delegacia de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro, novas fases da operação podem ocorrer conforme o avanço das apurações.
Estrutura financeira inclui fintechs e empresas de fachada
Renan Mello explicou que o esquema utiliza intermediadoras de pagamento, como fintechs, para movimentar os recursos. “Nesses canais de transferência, identificamos pessoas com vínculos diretos ao crime organizado”, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Embora não haja provas de que os influenciadores negociem diretamente com integrantes das facções, a investigação detectou proximidade nos canais utilizados, como empresas e intermediários em comum.
Mescla de receitas lícitas e ilícitas complica rastreamento
A polícia identificou nove empresas intermediadoras de pagamentos utilizadas no esquema. Algumas delas foram criadas pelos próprios influenciadores, que as apresentam como agências de gestão de carreira, mas que também operam recursos obtidos com jogos ilegais.
“Há uma mescla de valores lícitos e ilícitos”, destacou o delegado. Ele lembrou que, embora apostas esportivas sejam regulamentadas, muitos sites de cassino online descumprem regras básicas.
Publicidade sugere estilo de vida não compatível com realidade
Influenciadores investigados promovem um estilo de vida com carros esportivos, festas e viagens internacionais. Segundo o delegado, esse padrão de consumo é exibido nas redes sociais como se fosse fruto direto das apostas online.
“Temos vídeos de ganhos simulados com frases como ‘joguei tanto e paguei o jantar em Paris’”, disse o delegado.
Ganhos de até R$ 250 mil por trimestre por divulgação
A investigação apurou que os valores pagos aos influenciadores variavam de acordo com sua audiência. Em alguns casos, contratos previam comissões sobre as perdas dos jogadores que usavam o link de divulgação.
Uma única influenciadora movimentou R$ 4 milhões em apenas um ano. “São ganhos astronômicos. Esses contratos estão muito acima da média do mercado”, afirmou o delegado.
Prisões não são descartadas com avanço das investigações
Apesar de não haver mandados de prisão até o momento, a Polícia Civil não descarta essa possibilidade. “Devido à complexidade e volume de dados, optamos por medidas cautelares. No entanto, prisões podem ser solicitadas no futuro”, concluiu Renan Mello.
*Com informações da IstoÉ
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