O edital para a escolha dos serviços de alimentação da COP30 pode explicar os preços altos cobrados durante a conferência: foram selecionados restaurantes que se comprometeram a entregar a maior parte do faturamento — em dinheiro — à organização do evento.
O processo de escolha dos bares e restaurantes foi conduzido pela Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI), contratada pelo governo brasileiro por R$ 478 milhões para auxiliar na organização da conferência em Belém (PA).
Segundo o edital, a OEI adotou dois principais critérios para a escolha das empresas responsáveis pela venda de alimentos e bebidas: técnico e de preço.
Na categoria “preço”, vencia a empresa que oferecesse o maior “índice de retorno”, calculado conforme o percentual do faturamento repassado à organização. Ou seja, quanto maior o valor devolvido à COP30, maior a chance de ser selecionado.
Em termos práticos, isso significa que os restaurantes precisariam praticar preços mais altos para cobrir o repasse, os custos e ainda obter lucro.


Empresa vencedora ofereceu 30% de repasse
Entre as empresas participantes, uma cervejaria ofereceu o maior percentual, propondo 30% de comissão à organização da conferência. Isso quer dizer que, a cada R$ 100 vendidos, R$ 30 vão diretamente para o caixa da COP30.
Outras concorrentes apresentaram percentuais médios entre 10% e 15%. Já o critério técnico considerou fatores como experiência da empresa, atuação em eventos internacionais e prêmios no setor gastronômico.
Promessa de “preço popular” não se concretizou
O edital também determinava que todos os restaurantes poderiam vender água a preço popular, além de refrigerantes e sucos enlatados.
“Todos os quiosques poderão disponibilizar água (a preço popular), refrigerantes e sucos enlatados”, cita o documento.
Na prática, porém, o que se vê é o contrário. Em alguns pontos do evento, a garrafa de água sem gás de 500ml chega a custar R$ 25.
O edital ainda sugeria que os produtos fossem vendidos em embalagens sustentáveis:
“É importante evitar o uso de garrafas plásticas e de vidro, dando preferência às embalagens em lata de alumínio”, cita o edital.
Entretanto, a água de R$ 25 é vendida em garrafa plástica PET descartável, contrariando a recomendação ambiental.
Organização aprovou preços e cardápios antecipadamente
Outro ponto do edital mostra que a organização tinha conhecimento prévio dos preços e autorizou os valores praticados.
“Os tipos, ingredientes, preços, método de apresentação e qualidade dos alimentos oferecidos devem ser previamente aprovados por escrito”, afirma o documento.
“Quaisquer alterações ou acréscimos ao cardápio também exigem aprovação prévia e por escrito”, completa.
A OEI não comentou sobre os critérios de seleção e os preços cobrados até a publicação desta matéria. Em caso de manifestação, o texto será atualizado.
(*) Com informações da CNN Brasil
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