No último domingo (9), a campanha “É Hora de Taxar os Playboys”, organizada pelo coletivo Arte Ocupa, encerrou suas atividades com um campeonato de papagaios na comunidade Mossoró, no bairro Petrópolis, zona Sul de Manaus.
Durante três dias, a iniciativa promoveu encontros com crianças, jovens e adultos para discutir justiça tributária de forma acessível e criativa. Especialistas acompanharam as conversas, transformando um tema técnico em algo prático e lúdico.
Roda de conversa sobre desigualdade e tributação
O domingo foi dedicado ao diálogo com os jovens da comunidade. A roda de conversa contou com o jornalista João Felipe Serrão, que apresentou dados e reflexões sobre a distribuição de renda no Brasil.
Para ele, conversar com os jovens da Mossoró foi um desafio importante, pois buscou trazer referências próximas da realidade deles.
“Foi muito legal ver a consciência crítica que eles têm em saber que estão no lado menos favorecido da balança e perceber que eles entenderam a mensagem de que não é exatamente punir os mais ricos, mas equilibrar essa balança tributária no Brasil”, disse João Felipe.
Campeonato de papagaios encerra atividades com premiação

Após o diálogo, 50 papagaios foram distribuídos e ocorreu um campeonato com troféus, medalhas e premiação em dinheiro. A organização ainda entregou 60 kikões para a comunidade.
Isaque Andrade Pessoa e Gabriel Medeiros venceram o torneio e receberam um cheque de R$ 150.
Isaque agradeceu a Deus e relatou como derrubou dois papagaios de rivais após a eliminação do parceiro Gabriel. Ele disse que pretende guardar o prêmio e elogiou a iniciativa da campanha.
Impacto comunitário e educação política
Para Sarah Campelo, cofundadora do coletivo Arte Ocupa, o encerramento da campanha superou as expectativas.
“A roda de conversa me surpreendeu muito porque o João conseguiu falar de uma forma atraente sobre a pauta, mesmo ela sendo tão árida, e eles interagiram.”
Sarah destacou a importância de fortalecer o pensamento crítico na periferia.
“Isso é extremamente importante porque a gente entende que a comunidade está cada vez mais construindo um senso crítico, sendo sensível e se fortalecendo para construir um pensamento que a periferia se fortaleça e construa seus próprios líderes.”
Ela também ressaltou o papel do campeonato como ferramenta educativa.
“A gente vê que podemos falar de política com os jovens, com crianças, porque é só a gente adaptar a forma de se comunicar que dá super certo.”
Atividades anteriores com crianças e adultos

Além do encerramento no domingo (9/11), a campanha também realizou ações no sábado (1/11) e na terça-feira (4/11), voltadas a crianças e adultos, respectivamente.
No dia das crianças, a artivista e pesquisadora Patrícia Patrocínio conduziu a roda de conversa, com cerca de 20 participantes. A atividade contou com kits de boobie goods personalizados, pincéis e merenda.
“Como que traduz esse conhecimento para a criançada de uma forma lúdica, acessível, que elas consigam compreender que, no final das contas, essa discussão tão complexa é sobre uma questão de justiça?”, refletiu Patrícia.
Cira Ribeiro, doméstica e babá, destacou o impacto positivo da ação:
“Para mim, pelo lugar que a gente mora, é uma oportunidade para a criança ter outra visão da vida. Que a criança tenha outra mente e possa aprender outras coisas.”
Na data voltada aos adultos, a conversa foi conduzida por Edson Fernandes, economista e professor voluntário da UEA, e Francisco Marcelino, com a presença de 20 pessoas. A atividade terminou com um bingo e distribuição de 60 litros de sopa.
“O principal objetivo é fazer com que eles tenham essa consciência, da responsabilidade que eles têm e entender que eles possuem direitos. E eles precisam exercer esses direitos com responsabilidade, porque eles pagam, eles contribuem através do pagamento de impostos”, explicou Edson Fernandes.
A aposentada Rubenita Santos reforçou a importância do aprendizado:
“Veio para nós um conhecimento daquilo que a gente não sabia, que são os impostos que são descontados do nosso salário. Se tivesse justiça, iam descontar mais daqueles que ganham mais e menos daqueles que ganham menos. Porque como nós ganhamos menos, ia sobrar mais dinheiro para colocar o pão de cada dia na nossa mesa e no nosso bolso.”
Sobre o Coletivo Arte Ocupa

O Coletivo Arte Ocupa é uma iniciativa artística, cultural e social fundada em Manaus (AM) em 2021. O grupo desenvolve projetos de transformação social que valorizam as periferias como espaços de criação e resistência.
Reunindo artistas, agentes culturais e educadores da Amazônia, o coletivo promove acesso à arte, expressão crítica e vivências culturais. Entre suas ações estão oficinas, rodas de conversa, exposições e intervenções artísticas, com destaque para as atividades contínuas na comunidade Mossoró, como muralismo, sessões de cinema, distribuição de cestas básicas e oficinas de livre expressão.
Leia mais: Plano de Bioeconomia do AM utilizou tecnologia como aliada à sustentabilidade
