Mensagens divulgadas na noite de sexta-feira (28) expõem a confissão e o desespero da médica Juliana Brasil Santos durante o atendimento ao menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, no Hospital Santa Júlia, em Manaus. Os prints mostram que a situação crítica começou após a administração incorreta de adrenalina, que deveria ser usada por inalação, mas foi aplicada diretamente na veia entre a noite de sábado (23) e a madrugada de domingo (24).

Assim que percebeu o erro, Juliana enviou uma mensagem urgente ao coordenador do setor pediátrico. No primeiro alerta, ela admite o equívoco: “Prescrevi inalação com adrenalina e acabaram fazendo EV. Paciente tá passando mal”. Em seguida, reforça a gravidade do quadro: “Ficou todo amarelo”. Desesperada, ela volta a afirmar que errou e pede ajuda: “Pelo amor de Deus, eu errei a prescrição”.

O coordenador orientou monitoramento cardíaco, oferta de oxigênio e expansão volêmica. Juliana respondeu que os procedimentos já estavam sendo feitos e informou que o menino havia piorado: “Paciente rebaixou”. Um vídeo enviado por ela ao diretor mostra o garoto desacordado na maca. Ao longo da troca de mensagens, o coordenador informou que outro médico, estava a caminho para assumir o caso. Mesmo assim, a médica continuou relatando agravamento: “Ele não tá respirando. Me ajuda, Dr.”.

Pouco depois, ela confirmou a chegada do médico de apoio e relatou uma leve melhora: “Tá melhorando… Tá melhor que antes”. Ainda apreensiva, questionou como solicitar um leito de UTI. A orientação do diretor foi buscar o código no consultório. A conversa termina com a médica respondendo: “Tá bom”.

Pai afirma que prescrição incluía três doses intravenosas

O pai do menino, Bruno Freitas, relatou que Benício deu entrada no hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Segundo ele, a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa — 3 ml a cada 30 minutos. A família chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição.

Logo após a primeira aplicação da adrenalina, o menino apresentou piora imediata. A equipe o levou para a sala vermelha, onde a oxigenação caiu para cerca de 75%. Uma segunda médica foi chamada para reforçar o atendimento e iniciar o monitoramento cardíaco. Ainda no sábado à noite, a transferência para a UTI foi autorizada.

Na unidade intensiva, o quadro clínico se agravou. A intubação foi realizada por volta das 23h, momento em que ocorreram as primeiras paradas cardíacas. O pai afirma que houve sangramento porque o menino vomitou durante o procedimento. Mesmo após tentativas de estabilização, Benício continuou com oscilações bruscas na oxigenação e não resistiu. Ele morreu às 2h55 do domingo (24).

Médica e técnica são ouvidas; polícia fala em homicídio doloso

A denúncia sobre a morte da criança foi formalizada na terça-feira (25). Na manhã de sexta (28), a médica e a técnica de enfermagem Raíza Bentes Paiva compareceram à delegacia para prestar depoimento. Ambas chegaram com o rosto coberto.

De acordo com a Polícia Civil, Juliana é apontada como responsável pela prescrição que levou à administração incorreta da medicação. Raíza, por sua vez, teria aplicado a dose conforme o que estava registrado. Durante os depoimentos, as duas trocaram acusações sobre a responsabilidade no procedimento, e por isso será realizada uma acareação.

O delegado solicitou a prisão preventiva da médica, afirmando que o caso configura homicídio doloso — quando há intenção de matar ou assunção de risco. No entanto, o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) concedeu um habeas corpus preventivo na noite de quinta-feira (27), impedindo que ela seja presa durante as investigações.

Defesa contesta a Polícia Civil

O advogado de Juliana, Felipe Braga de Oliveira, afirmou que a investigação não deve seguir a tese de homicídio doloso e que a defesa irá contestar essa linha adotada pela polícia.

Hospital

O Hospital Santa Júlia informou, em nota, que a médica e a técnica de enfermagem foram afastadas e que uma investigação interna foi aberta pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente. Como o caso está a cargo da Polícia Civil, o hospital declarou que não irá se manifestar publicamente sobre o assunto.

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