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SUPERAÇÃO

Ex-catadora de latinhas tem história de superação no atletismo do AM

Ex-catadora de latinhas, foi convocada pela primeira vez em maio para compor o time da seleção brasileira de atletismo e, desde então, leva o Amazonas aos principais pódios brasileiros e internacionais

Manaus (AM)- Destaque nas corridas de rua do Amazonas e frequente nos pódios das principais corridas do Brasil, a atleta amazonense Franciane Moura, de 31 anos, é exemplo de força e persistência.

Atualmente, ela treina na Vila Olímpica de Manaus, localizada na av. Pedro Teixeira, no bairro Dom Pedro, a ex-catadora de latinhas, foi convocada pela primeira vez em maio para compor o time da seleção brasileira de atletismo e, desde então, leva o Amazonas aos principais pódios brasileiros e internacionais.

Natural de Santarém (PA), quando veio para a capital amazonense em 2015, Franciane enfrentou inúmeras dificuldades, o que a levou a começar a trabalhar como catadora de latinhas. Ela também vendia bolo e pipoca nas ruas para ter condições de custear os treinos no atletismo. Batalhadora, a atleta ressalta que, apesar de todas as dificuldades, nunca passou pela sua cabeça desistir da modalidade.

“Passei muitas dificuldades quando vim para cá. Tive que ir para as ruas juntar latinhas apenas para comprar um alimento. Não conhecia ninguém aqui em Manaus e não tinha parentes também. Foi bem difícil no começo. Mas nunca pensei em desistir do atletismo. Sempre ergui a cabeça e segui em frente. O mundo do atletismo é bem difícil sem ajuda ou apoio, é bem complicado mesmo. Fui muito firme no que eu queria para a minha vida e jamais pensei em desistir. Sabia que não ia ser fácil, que as dificuldades viriam e eu estava pronta para superar. Fui catadora de latinhas, vendi bolo e pipoca na rua para ter um alimento apenas para tentar me manter nos treinos. Nessa época foi bem difícil”, apontou.

Nesse período de dificuldades, o pensamento de retornar para a cidade natal apareceu, mas, por amor ao esporte e por saber que lá não teria as mesmas oportunidades, a atleta de alto rendimento escolheu permanecer em Manaus, onde permanece rompendo barreiras e conquistando os maiores lugares nos pódios.

Foto: acervo pessoal

“Pensei várias vezes em voltar para Santarém, mas sabia que não ia adiantar muita coisa. A cidade é bem pequena e, por isso, é bem carente em oportunidades, principalmente no esporte. Lá tinham poucas corridas e competições em comparação com Manaus, que é bem grande e acontecem muitas competições. Na época, esse ponto foi o que me fez vir para cá. No começo foi bem difícil, mas, graças a Deus, superei todas essas dificuldades e hoje estou aqui para contar um pouco sobre a minha história de superação e persistência”, comentou.

A história de Franciane com o atletismo teve início aos 10 anos de idade. Ainda criança, costumava correr pelas ruas de Santarém, sem imaginar que em breve aquela diversão se tornaria o caminho que iria seguir como um trabalho. Hoje, aos 31 anos, destaca que o que mais vem aprendendo com o atletismo é a ter mais responsabilidade e uma vida saudável.

“Lembro que desde criança eu corria por aí descalça e não levava muito a sério, não tinha aquele pensamento de responsabilidade. Com o tempo fui começando nesse meio e foi aonde tudo começou. Foi aí que eu me identifiquei no esporte e, principalmente, no atletismo. De lá para cá eu não parei e graças a Deus hoje eu já tenho as minhas responsabilidades e a consciência de que esse é o meu trabalho. Venho aprendendo muito sobre como ter uma vida saudável”, declarou.

Além das pistas, Franciane viu florescer o amor pelo também corredor Juarez Rosa Silva. Ambos se conheceram em 2014 e apenas em 2018 perceberam que, além de compartilhar a afeição pela corrida, também partilhavam o amor um pelo outro.

Como bons corredores, Franciane e Juarez comparam as exigências do esporte com o amor, visto que ambos requerem dedicação e esforço. Juntos até hoje, os corredores estão casados e já possuem o fruto do relacionamento.

Atletas Franciane Moura e Juarez Silva – Foto: acervo pessoal

“O conheci em 2015. Em 2018 resolvemos ficar juntos e assumir o nosso relacionamento. Estamos juntos até hoje. Um dando força para o outro, inclusive treinamos juntos. Casamos no civil e agora temos a nossa filha de dois anos”, destacou.

Mesmo com todos os desafios presentes na trajetória esportiva que vivenciou, Franciane considera a sua gravidez como um dos períodos mais difíceis. O nascimento de sua filha foi em meio à pandemia e a atleta revela que teve a necessidade de matar “um leão por dia”.

“Foi uma época bem difícil, estava tudo paralisado e eu tinha acabado de ganhar a bebê. Nesse período, só o meu esposo estava trabalhando com limpeza de piscina e precisávamos dele para tudo. Foi muito difícil mesmo. Trinta dias após ter minha filha, voltei com os treinos. Sempre acompanhada pelo meu técnico e esposo Juarez, que fez tudo comigo. Foi bem complicado esse tempo parado, mas, graças a Deus, conseguimos superar e hoje estamos aqui firmes e fortes. Matei um leão por dia para voltar ao nível”, disse.

Acompanhada pelo treinador Thiago Melo e pelo esposo, Juarez Silva, para voltar ao nível anterior, Franciane enfrentou uma rotina de treinos bem pesada. Mesmo com a academia fechada, a atleta treinou diariamente com um estúdio de pilates montado dentro da própria residência.

“Era de segunda a sábado pelo período de 17h às 19 h. Treinos variados, fortalecimento na academia. Mesmo em casa, praticamente montamos um estúdio de pilates para fortalecimento. Com tudo fechado com a pandemia, muitos dos exercícios foram feitos em casa. Só tivemos acesso a pista de atletismo um bom tempo depois. Também foi feito o treino e corrida no Alphaville”, ressaltou.

Foto: acervo pessoal

Desde 2021, a atleta conta com o apoio da Prefeitura de Manaus para que possa manter os treinos de alto rendimento, base fundamental para um atleta profissional. A atleta obteve a sua melhor marca pessoal oficial no Campeonato Ibero-Americano de Atletismo, realizado no Estádio Olímpico Camilo Cano, em La Nucia, província de Alicante, na Espanha, com 16 minutos e 47 segundos, na prova de 5 mil metros, garantindo o 9º lugar.

“O resultado me deixou muito feliz pois fiz minha melhor marca oficial. Fui convocada pela primeira vez para compor o time do Brasil e isso só foi possível graças ao apoio que recebo, pois consigo manter uma boa alimentação, manter os suplementos e treino forte. A vida de atleta não é fácil sem apoio, por isso agradeço o incentivo e apoio do prefeito David Almeida, que acreditou em mim, para me manter nos treinos fortes e isso é só o começo de coisas boas que estão por vir”, concluiu Franciane.

Sobre o atletismo

Atletismo é o conjunto de esportes formado por três modalidades: corrida, lançamentos e saltos. Geralmente é praticado em estádios, exceto a maratona, que é uma corrida de longa distância.

O atletismo nasceu na Grécia, onde foram criados os estádios para realização das corridas a pé. Foi na Grécia também que houve o primeiro registro de uma competição de atletismo, durante as Olimpíadas realizadas em 776 a.C.

No Brasil, o Atletismo começa nas últimas décadas do século 19. Em 1914, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) filiou-se à IAAF, sigla em inglês da Associação Internacional das Federações de Atletismo. Em 1924, o País participou pela primeira vez do torneio olímpico, ao mandar uma equipe aos Jogos de Paris, na França. No ano seguinte, em 1925, foi instituído o Campeonato Brasileiro.

Em 1931, a seleção nacional começou a participar dos Campeonatos Sul-Americanos. Em 1932, Clovis Rapozo (oitavo no salto em distância) e Lúcio de Castro (sexto no salto com vara) chegaram às finais nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos estados Unidos. Quatro anos depois, Sylvio de Magalhães Padilha foi o quinto nos 400 m com barreiras nos Jogos de Berlim, na Alemanha.

Mulheres no esporte

O amor pelo esporte não é definido por gênero ou classe social. Diariamente, mulheres do mundo todo enfrentam obstáculos apenas por serem mulheres e, no esporte, o cenário não é diferente.

Há cerca de 80 anos havia o Decreto-Lei n 3.199, que não permitia a prática esportiva entre as mulheres, pois apontava incompatibilidade da “natureza feminina” com os esportes. O caminho que o público feminino precisou percorrer para recuperar seus direitos foi longo e, hoje, atletas mulheres driblam o preconceito e a desigualdade, e ocupam os melhores lugares no esporte.

Edição Web e pauta: Bruna Oliveira

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