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Cinema amazônico

Cineastas amazonenses criticam Ancine por falta de apoio a região Norte em edital

Cineastas de Manaus conversaram em entrevista exclusiva com Em Tempo, mostrando a realidade da valorização da cultura local

Bernardo Ale coferindo material conematográfico. Foto: Divulgação.

Manaus (AM) -A Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgou os resultados preliminares do edital “Novos Realizadores”, na quarta-feira (18), com um total de 519 propostas aprovadas para avaliação, sendo 26 da região Norte. No entanto, nenhum projeto nortista foi contemplado, causando revolta entre os produtores independentes, artistas e cineastas locais.

Segundo o edital, cinco critérios foram avaliados nos projetos, dentre eles a estruturação físico-financeira, estratégia comercial, potencial de retorno comercial da obra e perspectiva de participação em mostras e festivais nacionais e internacionais.

O diretor e roteirista, Bernardo Ale Abinader, enxerga falhas na avaliação e no sistema de pontuações. “O Critério A – projeto artístico, incluindo sinopse, visão do diretor e roteiro, storyboard ou estrutura de documentário – deveria ter valido mais pontos ou um peso maior, pois o aspecto artístico em uma obra de arte é o mais importante. O espaço para o preenchimento no formulário também foi muito pequeno, tendo em vista que se trata de um edital para longa-metragem. Já participei de editais de curta-metragem com mais espaço”, aponta.

O investimento total disponibilizado foi de R$100 milhões, e destes, R$10 milhões seriam exclusivamente para as propostas da região Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Porém, o cineasta Sergio Andrade, explica que a divisão do país por “núcleos de regiões”, enfraqueceu o Norte nas distribuições.

“Há mais ou menos uns 5 anos, as leis de audiovisual foram divididas para serem abraçadas por núcleos. Então tem o cone Centro-Oeste – Norte – Nordeste, e tem a região Sul e Sudeste. Dentro desse núcleo de regiões, o Norte acaba perdendo muito do seu poder, porque tem que competir com o Nordeste e com o Centro-Oeste, e antigamente eram só os estados que compunham a região que competiam entre si”,

explica.

Para os cineastas e produtores audiovisuais locais, as decisões da Ancine, além de graves e desrespeitosas, mostraram vários problemas atuais do investimento público no cinema local.

O cineasta, Zeudi Souza, reflete que houve uma inviabilização da região, que tem potenciais e particularidades essenciais ao cinema.

“O cinema do Norte já mostrou sua força, somos cineastas e produzimos cultura brasileira. Acho que já não cabe mais essa forma de olhar para os cineastas do norte, que tem sim se destacado em festivais pelo Brasil e pelo mundo”,

disse.

Repercussão

Produtores independentes criticam falta de apoio para projetos amazonenses Foto: Divulgação

Após a divulgação do resultado preliminar, na quinta-feira (19), a Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste (CONNE), e a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), publicaram em suas redes sociais, uma carta à Ancine com sugestões de correção deste edital e de outros futuros.

A agência divulgou, em informe no site, que irão adotar, em regime de urgência, providências para atender também aos realizadores da Região Norte, a partir de uma suplementação de recursos, que está sendo avaliada.

Zeudi enxerga esta decisão como uma tentativa de consertar um erro, já que é uma forma de reabrir a discussão sobre a produção audiovisual fora do eixo sudeste do Brasil.

“Você imagine toda uma região, com pessoas que já estão na área de produção, que buscam oportunidades de realizar seu primeiro longa, e dentro dos mais de 30 projetos não haver nenhum. Há algo de muito errado nisso. Não quero ver como prêmio de consolação, e sim que a Ancine sabe que existem profissionais aqui, e que não estamos alheios às discussões que vem da Agência. E que, a partir de agora, estaremos cada vez mais lutando por essa descentralização”,

finaliza.

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