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Fumaça de queimadas pode criar crise na saúde pública de Manaus

Prolongamento da seca, aliado a temperaturas elevadas e baixa umidade, deixa os biomas amazônicos vulneráveis, elevando risco de incêndios florestais

Foco de incêndio florestal foi registrado na Zona Leste de Manaus, nesta sexta-feira (9)
Foco de incêndio florestal foi registrado na Zona Leste de Manaus, nesta sexta-feira (9). Foto: Lorena Araújo

Com a temporada de queimadas na Amazônia, Manaus se prepara para enfrentar os graves efeitos da fumaça que deverá encobrir a cidade nos próximos meses. Especialistas alertam para os riscos à saúde pública e discutem as medidas necessárias para minimizar o impacto deste fenômeno.

No mês de julho deste ano, o número do foco de queimadas no Amazonas foi de 3.113 – do primeiro dia do mês ao dia 29. Em relação a julho do ano passado, que registrou 1.621 casos, a diferença do período em números reais é de 1.492. Os números são do Programa de Queimadas BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O período de julho a setembro, conhecido como “verão amazônico”, é marcado pela redução das chuvas e o aumento das temperaturas. Segundo o meteorologista Gustavo Ribeiro, o prolongamento da seca, aliado a temperaturas elevadas e baixa umidade, deixa os biomas amazônicos vulneráveis, elevando risco de incêndios florestais.

“Nesse período, temos, climatologicamente, a atuação de uma massa de ar quente e seca sobre o Brasil central, abrangendo também o centro-sul da Amazônia Legal. Em junho e julho, essa massa de ar seco se intensificou, aumentando a escassez de chuvas, principalmente, no centro-sul da região”, começou.

Saúde

A fumaça gerada pelas queimadas representa uma séria ameaça à saúde pública. De acordo com o pneumologista Dr. David Luniere, a inalação de partículas tóxicas pode agravar doenças respiratórias, especialmente em crianças, idosos e pessoas com condições pré-existentes, como asma e bronquite.

“Os principais efeitos na saúde respiratória são problemas de tosse, sensação de falta de ar, dor ou desconforto torácico, com sensação de aperto no peito. Em pessoas que já têm doença respiratória ou predisposição, isso vai levar a uma exacerbação dos seus sintomas com a necessidade de idas ao pronto-socorro ou otimização da terapia de uso habitual, inalatória ou oral”, explicou o pneumologista.

Segundo o especialista, os grupos mais vulneráveis aos efeitos da fumaça são crianças, idosos, ou aquelas pessoas que já têm doença respiratória. ”Sejam elas doenças crônicas, como a asma, ou até mesmo outras doenças como bronquiectasias, fibroses pulmonares, fibroses císticas, entre outras, que levam a uma alteração da anatomia do pulmão”, completa David, que recomenda uso de máscara.

“Se for na rua tem que usar máscara. Se a pessoa estiver dentro de um carro, de um automóvel ou no ônibus, procurar sempre manter as janelas fechadas. Se for no carro, manter o ar-condicionado ligado, sempre com a opção de recircular o ar interno do carro para que a fumaça de fora não adentre o veículo. É importante também salientar que o paciente, ele em casa ou no trabalho, deve procurar manter as janelas fechadas, a porta fechada, para que o ar da rua não adentre ao ambiente. Mas, se o ar daquele ambiente já tiver sido contaminado, a fumaça já tiver entrado, ele tem que fazer o oposto. Ele tem que abrir as janelas, abrir as portas, ligar um ventilador, fazer o ar circular”, esclareceu.

Projeção

Ainda de acordo com o meteorologista Gustavo Ribeiro, apesar de ser típico deste período uma redução significativa nos volumes de precipitação devido à atuação da massa de ar seco, o prognóstico climático para o trimestre de agosto, setembro e outubro indica chuvas abaixo da média em grande parte da Amazônia Legal, inclusive sobre o centro-sul do Amazonas. Ou seja, há previsão de uma redução nos volumes de chuva, que já são muito baixos na região, indicando um agravamento da seca e um possível atraso no retorno das chuvas. Além disso, são esperadas temperaturas acima da média em grande parte da região.

Combate

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) possui um Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PREVFOGO) que atua em todo território nacional em ações contra queimadas e outras emergências climáticas.

De acordo com Joel Araújo, superintendente do Ibama no Amazonas, a equipe atua em áreas prioritárias do Sul do Estado, onde ocorrem a maior parte dos desmatamentos, incêndios florestais e qeimadas há mais de 15 anos.

“Somam no estado do Amazonas o total de 110 brigadistas de incêndios florestais contratados pelo Ibama, exclusivamente, para esta atividade. Ressalta-se ainda o apoio a outras instituições, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)”, disse.

Importante destacar os ditames da Lei Complementar 140/2011, que normatiza e define competências para a proteção do meio ambiente impondo à União e ao Ibama atuar nas áreas federais em que licencia tais atividades. “Esclarecemos ainda que nossa instituição, seus servidores e colaboradores estão dispostos a cooperar com Estado e municípios para fortalecer suas ações nas suas áreas de competência com atividades de educação ambiental e instruções sobre o uso do fogo. Além do combate direto atuando de forma supletiva”, concluiu o superintendente.

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