Uma cafeteria que resistiu a 20 meses de bombardeios na Faixa de Gaza deixou de ser uma alternativa para quem buscava algum alívio da realidade do conflito. Nesta segunda-feira (30), um ataque aéreo de Israel destruiu o Al-Baqa, um estabelecimento à beira-mar na Cidade de Gaza, matando 24 pessoas e ferindo dezenas, segundo a Defesa Civil local.

O local estava lotado no começo da tarde, conforme relataram testemunhas à agência AFP e ao jornal britânico The Guardian.

“Sempre há muita gente neste lugar, que oferece bebidas, espaços para as famílias e acesso à internet”, disse Ahmed al Nayrab, 26, à AFP. Ele estava em uma praia próxima quando ouviu a explosão. “Foi um massacre. Vi pedaços de corpos voando por toda parte, corpos desmembrados e queimados. A cena era congelante. Todos estavam gritando.”

Vítimas incluíam crianças, jornalistas e artistas

Segundo relatos, entre os mortos estavam o fotojornalista palestino Ismail Abu Hatab e a artista Frans al-Salmi, que haviam participado recentemente de uma exposição internacional.

Abu al-Nour, 60, também presenciou o ataque:

“Estilhaços voaram para todos os lados, e o lugar se encheu de fumaça e cheiro de pólvora. Eu não conseguia ver nada. Corri em direção ao café e o encontrei destruído. Entrei e vi corpos no chão. Todos os funcionários do café foram mortos”, disse ele ao Guardian.

“Havia uma família lá com seus filhos pequenos — por que eles foram escolhidos? Era um lugar onde as pessoas vinham em busca de alívio das pressões da vida.”

A jornalista Bayan Abu Sultan também ficou ferida no ataque. A Federação Internacional de Jornalistas destacou que o local era usado como base de trabalho por profissionais da imprensa por oferecer acesso à internet — algo escasso em Gaza.

Número de jornalistas mortos ultrapassa 200

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas, pelo menos 171 jornalistas e profissionais de mídia palestinos morreram desde o início da guerra. O Sindicato dos Jornalistas Palestinos eleva esse número para mais de 220.

Fotos divulgadas mostram poças de sangue e uma cratera profunda no local do ataque.

Israel diz ter mirado militantes do Hamas

Diante da repercussão do caso, o Exército israelense afirmou nesta terça-feira (1º) que está analisando o bombardeio. Segundo Tel Aviv, o alvo eram “vários terroristas do Hamas”, grupo que atacou o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando 1.200 pessoas — a maioria civis — e desencadeando o conflito.

Um porta-voz militar israelense disse à AFP que o ataque foi precedido por medidas para minimizar riscos a civis.

Contudo, devido às restrições de acesso à Faixa de Gaza impostas à imprensa internacional por Israel, não é possível verificar de forma independente as versões apresentadas.

Guerra já matou mais de 56 mil palestinos

Segundo autoridades locais, ataques israelenses mataram pelo menos 60 pessoas em Gaza apenas nesta segunda. Desde o início do conflito, mais de 56 mil palestinos morreram — a maioria civis —, conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza.

A ofensiva de Israel deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de pessoas e mergulhou o enclave em uma crise humanitária sem precedentes. De acordo com a ONU, mais de 80% do território agora é uma zona militarizada ou está sob ordens de deslocamento.

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