Dezesseis especialistas israelenses em direito internacional e lei de guerra enviaram, nesta sexta-feira, uma carta ao ministro da Defesa, Israel Katz, e ao chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir. Eles afirmam que o plano de deslocamento de palestinos para uma “cidade humanitária” em Rafah é uma ordem “flagrantemente ilegal” e pode configurar crime de guerra e crime contra a humanidade. Segundo o documento, obtido pelo jornal Haaretz, em certas condições, a ação poderia até ser considerada genocídio.

“Apelamos a todas as partes relevantes para que se retirem publicamente do plano, renunciem a ele e se abstenham de executá-lo”, escreveram.

O ministro Katz anunciou o plano na segunda-feira, determinando ao Exército a criação da cidade sobre as ruínas de Rafah, começando pelo deslocamento de cerca de 600 mil pessoas já desalojadas. As declarações ocorreram pouco antes de uma reunião entre o premiê Benjamin Netanyahu e o presidente dos EUA, Donald Trump, que apoiaram a ideia de retirada dos palestinos da Faixa de Gaza.

Críticas internas nas Forças Armadas

O plano gerou preocupação no setor jurídico das Forças Armadas israelenses. Advogados militares e oficiais relataram ao Wall Street Journal que, ao se reunir com o general Zamir, alertaram que coagir civis a permanecer na área ou impedir sua saída violaria leis internacionais.

“O plano, conforme expresso pelo senhor Katz, levanta sérias dificuldades jurídicas”, afirmou Eran Shamir-Borer, ex-chefe jurídico internacional das Forças Armadas israelenses.

Quase 800 civis mortos buscando ajuda

Apesar das discussões, os confrontos seguem na Faixa de Gaza. Segundo a Defesa Civil ligada ao Hamas, ataques israelenses mataram pelo menos 18 pessoas na sexta-feira, incluindo 10 civis que aguardavam ajuda humanitária perto de Rafah.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos relatou que quase 800 civis morreram tentando obter alimentos e insumos básicos.

“Estamos falando de quase 800 pessoas mortas enquanto tentavam obter ajuda”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz da ONU, em coletiva em Genebra.

A maioria das mortes, 615, ocorreu perto de postos da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), entidade apoiada por Estados Unidos e Israel. ONU e principais ONGs se recusam a cooperar com a GHF, acusando-a de atender a objetivos militares israelenses e violar princípios humanitários.

Negociações por cessar-fogo

Enquanto isso, Netanyahu declarou esperar um cessar-fogo com o Hamas “em poucos dias”. Segundo ele, a proposta inclui uma trégua de 60 dias para libertar reféns e negociar uma solução definitiva.

“Provavelmente haverá um cessar-fogo de 60 dias. Retiraremos o primeiro grupo (de reféns) e, em seguida, usaremos esse cessar-fogo de 60 dias para negociar o fim de tudo isso”, disse ao canal americano Newsmax.

Netanyahu se mostrou disposto a negociar uma trégua permanente caso o Hamas desmilitarize Gaza. Por outro lado, o Hamas exige a retirada das tropas israelenses, garantias sobre a duração do cessar-fogo e a volta da ONU e de organizações internacionais ao controle da ajuda humanitária.

(*) Com informações do O Globo

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