O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, renunciou na terça-feira (9), após uma onda de protestos liderados por jovens resultar em dezenas de mortos e centenas de feridos. Os manifestantes saíram às ruas contra a corrupção sistêmica, o bloqueio de redes sociais e a falta de oportunidades econômicas, desafiando o toque de recolher em várias cidades, inclusive na capital, Katmandu.
A repressão foi severa. As forças de segurança utilizaram munição real, gás lacrimogêneo e canhões de água. Segundo a agência Reuters, pelo menos 19 pessoas morreram durante os confrontos. Apenas na segunda-feira (8), 17 mortes foram registradas em Katmandu e outras duas em Itahari, no leste do país.
“O uso de força letal contra manifestantes que não representam uma ameaça iminente de morte ou ferimentos graves é uma grave violação do direito internacional”, declarou a Anistia Internacional em nota. O escritório de direitos humanos da ONU também se disse “chocado” e exigiu uma investigação “transparente”.
Geração Z impulsiona maior revolta em décadas
Com idades entre 13 e 28 anos, os manifestantes representam a Geração Z, principal força por trás do movimento que se tornou a maior revolta no Nepal em décadas. Embora o estopim tenha sido a proibição de redes sociais como Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube e X, o descontentamento já vinha crescendo com a corrupção generalizada e a estagnação econômica.
O governo justificou a medida de censura como forma de combater fake news e discurso de ódio, mas impôs o bloqueio a 26 plataformas até a meia-noite da quinta-feira (4), conforme noticiado pela imprensa local. A reação foi imediata e em larga escala.
A taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos atingiu 20,8% em 2024, segundo o Banco Mundial. Além disso, mais de 33% do PIB do país depende de remessas enviadas por nepaleses que vivem no exterior. “Todos os cidadãos nepaleses estão fartos da corrupção. Todos os jovens estão indo para fora do país. Então, queremos proteger nossos jovens e melhorar a economia do país”, disse um manifestante à Reuters.
Outro fator que alimenta a indignação popular é o movimento online contra os chamados “Nepo Kids” — filhos de políticos que ostentam estilos de vida luxuosos nas redes sociais, acentuando a desigualdade entre a elite política e a população comum.
Escalada da violência e renúncias no governo
Os protestos ganharam intensidade na segunda-feira (8), quando manifestantes invadiram o complexo do parlamento em Katmandu. Vestindo uniformes escolares e universitários, milhares de jovens enfrentaram a polícia, que respondeu com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Veículos policiais e até uma ambulância foram incendiados.
Fotos da Reuters mostram manifestantes queimando uma guarita policial e móveis em frente ao Congresso Nepalês. O aeroporto internacional foi fechado por questões de segurança. Em Chandrapur, no sul do país, a polícia disparou para o alto enquanto os manifestantes desafiavam o toque de recolher.
Mais de 400 pessoas ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde. Diante da pressão, ministros das pastas do Interior, Agricultura, Água e Saúde anunciaram suas renúncias. O Ministro do Interior, Ramesh Lekhak, foi o primeiro a deixar o cargo, seguido por outros que anunciaram sua saída pelas redes sociais.
Pressionado, primeiro-ministro deixa o cargo
Em carta divulgada por um assessor nas redes sociais, Oli citou “a situação extraordinária” como motivo de sua saída. Antes da renúncia, ele afirmou que seu governo “não era negativo em relação às demandas levantadas pela geração Z” e declarou-se “profundamente triste” pelos eventos de segunda-feira. Ele também culpou “grupos de interesse infiltrados” pela violência, sem especificar quais.
A pressão interna também veio do Congresso Nepalês, maior partido do país. Gagan Thapa, secretário-geral da sigla e parlamentar, foi enfático: “O Congresso Nepalês não deve, e não pode, permanecer como testemunha e parceiro nesta situação, nem por um único dia.”
O principal jornal do país também pediu a saída de Oli, afirmando que ele “não pode ficar na cadeira do primeiro-ministro por mais um minuto” após o derramamento de sangue.
(*) Com informações da CNN Brasil
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