Por Dr. Flavio Antunes – Urologista

Na medicina, uma das coisas que mais me chama a atenção é como algumas doenças podem crescer em silêncio, sem dar nenhum sinal de que estão ali. E, quando finalmente aparecem, muitas vezes já estão em estágio avançado. Os tumores renais são um exemplo clássico disso.

Existe até uma tríade de sintomas que costumamos citar nos livros e nas aulas: sangue na urina, dor abdominal e uma massa palpável no abdômen. Mas a verdade é que, na prática, essa combinação só costuma aparecer quando o tumor já está grande, numa fase mais difícil de tratar. Ou seja, quando o paciente começa a sentir algo, muitas vezes o quadro já está mais delicado.

Por isso sempre falo da importância de fazermos exames preventivos. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia e a maior disponibilidade de ultrassons, tomografias e ressonâncias, conseguimos identificar muitos tumores de forma incidental, ou seja, eles são descobertos sem que estivéssemos procurando por eles. E isso tem feito toda a diferença: quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de cura.

Me lembro bem de um caso que aconteceu há cerca de oito anos e que me marcou profundamente. Um senhor de 55 anos veio ao consultório para uma consulta de rotina, sem nenhuma queixa. No exame físico, notei algo estranho no abdômen, uma massa do lado direito, com cerca de 10 centímetros. Pedi uma ressonância, que confirmou o que suspeitava: um tumor no rim direito, com mais de 11 centímetros.

A notícia caiu como uma bomba. Ele era filho único e veio às consultas sempre acompanhado pelos pais, ambos com mais de 80 anos. Foi um momento muito delicado. Em situações como essa, além do tratamento em si, é preciso cuidar da parte emocional, acolher, ouvir e explicar com calma todos os passos. É nessas horas que a relação médico-paciente vai muito além do diagnóstico e da técnica. Estar presente, transmitir confiança e oferecer um olhar humano faz toda a diferença. Muitas vezes, o que o paciente mais precisa é de alguém que o ajude a respirar fundo, organizar os pensamentos e seguir em frente, mesmo diante de um desafio inesperado.

Fizemos todos os exames necessários e partimos para a cirurgia. Felizmente, tudo correu bem. Ele também passou por alguns tratamentos complementares, como é comum nesses casos, mas teve uma ótima recuperação. Até hoje nos vemos periodicamente para os exames de controle e está tudo certo com ele. É sempre um alívio e uma alegria poder dar boas notícias.

Compartilho essa história porque ela mostra, na prática, o quanto é importante não esperar os sintomas aparecerem para cuidar da saúde. Mesmo quem está se sentindo bem deve fazer exames de rotina. Muitos tumores só dão sinais quando já é tarde demais. E quanto antes descobrimos, maiores são as chances de tratar com sucesso e preservar a qualidade de vida.

Fica aqui meu recado como médico e como alguém que já acompanhou muitas histórias como essa: cuide-se. Não deixe para depois. Às vezes, um simples exame pode mudar tudo.

Prevenir ainda é o melhor caminho!

Dr. Flavio Antunes – Urologista

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