O Ministério Público do Amazonas (MPAM) revelou que o vereador Rosinaldo Bual (Agir), preso nesta sexta-feira (3), usava moradores do bairro da Compensa — onde atua como liderança comunitária — como “funcionários laranjas” em um esquema de rachadinha dentro da Câmara Municipal de Manaus (CMM).
Segundo o promotor de Justiça Leonardo Tupinambá, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o parlamentar cooptava pessoas da própria comunidade para nomeações em cargos comissionados e exigia a devolução de parte dos salários recebidos.
“Ele cooptava algumas pessoas ali no bairro da Compensa, onde ele é uma liderança, e exigia o repasse de valores ou do salário dos servidores. Dentro dessa organização, os servidores que estavam logo abaixo do vereador tinham a função de receber os valores e depois repassá-los ao parlamentar”, afirmou Tupinambá em entrevista à TV Acritica.
👥 Assessores devolviam até metade do salário
De acordo com as investigações, Rosinaldo Bual mantinha entre 40 e 50 assessores nomeados — número considerado excessivo para a estrutura do gabinete. Muitos desses servidores não exerciam função pública real ou prestavam serviços apenas para justificar a nomeação.
O MP aponta que os salários pagos pela Câmara eram, em parte, devolvidos ao vereador por meio de pessoas de confiança dentro do gabinete, formando um esquema organizado e recorrente de peculato.
“O vereador tinha uma alta rotatividade entre os funcionários contratados. O dinheiro ia, primeiramente, para quatro ou cinco pessoas da equipe dele, e depois era revertido em benefício do parlamentar”, detalhou o promotor.
🧾 Esquema articulado pela chefe de gabinete
Além do vereador, a chefe de gabinete dele também foi presa preventivamente. Ela é apontada como o braço direito no esquema, responsável por operacionalizar o recolhimento dos valores desviados.
“Ela tinha papel central. Era quem fazia o contato direto com os servidores e cobrava a devolução dos salários, repassando depois ao vereador”, disse Tupinambá.
💰 Cofres, cheques e R$ 2,5 milhões bloqueados
Durante a operação “Face Oculta”, o Gaeco e a Polícia Civil cumpriram 17 mandados de busca e apreensão e localizaram diversos itens que reforçam a suspeita de movimentação ilegal de dinheiro:
- Três cofres encontrados na casa do vereador, no sítio e na residência da mãe;
- Computadores, celulares e notebooks recolhidos para perícia;
- Cheques no valor de R$ 500 mil;
- Grande quantia em dinheiro vivo, que precisou de máquina para contagem;
- Uma arma de fogo, o que gerou autuação por posse irregular.
A Justiça determinou o bloqueio judicial de R$ 2,5 milhões das contas de Rosinaldo Bual, além da quebra dos sigilos bancário e telemático. O vereador também foi afastado do cargo por 120 dias, por decisão judicial.
🔍 Quem é Rosinaldo Bual
Rosinaldo Bual tem 49 anos, é natural de Manacapuru, interior do Amazonas, mas vive em Manaus, onde se consolidou como liderança comunitária, principalmente no bairro da Compensa, zona Oeste da capital.
Casado e pai de três filhos, ele foi eleito vereador pela primeira vez em 2020, sendo reeleito em 2024, com 7.892 votos. Em seu perfil na Câmara Municipal de Manaus, Bual afirma atuar há mais de 20 anos com trabalhos sociais em comunidades carentes.
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