Sete países de maioria muçulmana reuniram-se nesta segunda-feira (3), em Istambul, para discutir o futuro da Faixa de Gaza. O grupo defendeu que o território seja governado exclusivamente por palestinos, sem interferência externa.

O bloco é composto por Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Paquistão, Indonésia e Turquia, e rejeitou qualquer forma de tutela internacional sobre Gaza.

“O povo palestino deve se autogovernar e garantir a própria segurança”, afirmou o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, após o encontro. Ele destacou ainda a “necessidade urgente” de reconstruir o território, devastado por dois anos de guerra, e de permitir o retorno dos deslocados, sem impor “um novo sistema de tutela”.

Reunião ocorreu em meio a cessar-fogo frágil

O encontro buscou discutir o cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, que enfrenta risco de colapso após acusações mútuas de violações entre Israel e o grupo Hamas.

Os chanceleres dos sete países, todos membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), já haviam sido recebidos pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

A reunião antecedeu a apresentação do plano de paz de Trump, composto por 20 pontos, que tenta estabelecer uma solução política de longo prazo para Gaza. O desafio, segundo mediadores, é lidar com temas delicados, como o desarmamento do Hamas e a definição de um governo tecnocrático que assuma o controle do território palestino.

Erdogan critica Israel e cobra reconstrução de Gaza

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticou a “postura medíocre” de Israel desde o início do cessar-fogo, em 10 de outubro, e afirmou que o Hamas “parece comprometido” com o acordo.

Erdogan pediu que mais ajuda humanitária seja enviada aos habitantes de Gaza e defendeu que a Liga Árabe e a OCI assumam um “papel de liderança” na reconstrução do território.

Antes da reunião, o chanceler turco havia recebido uma delegação do Hamas liderada por Khalil al-Hayya, principal negociador do grupo. Segundo Fidan, a criação de uma força internacional de estabilização em Gaza “exigirá tempo”.

Turquia busca papel ativo nas negociações

A Turquia, membro da Otan, tem sido uma das críticas mais duras à ofensiva israelense de dois anos em Gaza, classificada pelo governo turco como “genocídio” — acusação rejeitada por Israel.

Com apoio dos EUA, Ancara tenta se posicionar como ator-chave nas negociações de cessar-fogo, expressando interesse em participar de uma força internacional de monitoramento do acordo de paz.

Israel, no entanto, considera a Turquia próxima demais do Hamas e já expressou oposição à participação turca na força internacional. De acordo com o plano de paz americano, o contingente seria composto por tropas de países árabes e muçulmanos, implantadas à medida que as forças israelenses se retirassem.

Israel impõe restrições e mantém desconfiança

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, afirmou que apenas países considerados imparciais poderão integrar a força internacional.

Como exemplo da desconfiança, uma equipe turca de resgate, enviada para colaborar na busca pelos corpos de reféns em Gaza, ainda aguarda autorização de entrada no território. Até o momento, apenas equipes da Cruz Vermelha e do Egito receberam permissão.

O Hamas entregou os restos mortais de 20 dos 28 reféns mortos que permaneciam em Gaza, cuja devolução estava prevista para o início da trégua em outubro. Os atrasos sucessivos provocaram indignação no governo israelense.

Segundo o grupo, “localizar os cadáveres está sendo uma tarefa complexa e difícil”, devido à destruição generalizada do território.

(*) Com informações da Folha de S.Paulo

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