Levantamentos oficiais apontam que ao menos oito obras destinadas à educação municipal em Autazes (a 110 quilômetros de Manaus) — incluindo creches, escolas e quadras esportivas — foram interrompidas ou excluídas dos convênios, mesmo após terem recebido recursos federais ou iniciado etapas preliminares. A maior parte desses projetos estava vinculada ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e deveria atender regiões urbanas, rurais e comunidades tradicionais. Ainda assim, a maioria apresentou evolução física mínima ou inexistente, resultando no encerramento dos contratos.
Embora esse montante represente mais de R$ 8,6 milhões em investimentos previstos, a gestão do prefeito Thomé Neto homologou, recentemente, uma nova contratação no valor de R$ 3.583.200,51 para erguer uma creche padrão FNDE. A assinatura, feita em novembro, autoriza a construção de uma unidade tipo 2, estruturada para comportar nove ambientes pedagógicos e atender até 188 crianças em dois turnos.

Entre as obras canceladas, a Creche Professora Francisca Arcos foi a única que apresentou alguma evolução — cerca de 23% — enquanto outras construções, como escolas e quadras em localidades rurais, permaneceram com 0% de execução. Para moradores das regiões afetadas, a ausência de conclusão das estruturas compromete diretamente a oferta de vagas, o acesso a áreas de ensino infantil e a utilização de equipamentos comunitários há anos prometidos.
Obras canceladas
Zona Urbana
- Bairro Jair Tupinambá → ESCOLA ALDIMAR (0%)
- Projeto Leila Lane → NOVA CRECHE (R$ 3,5 MI)
Zona Rural
- Zona Rural → RUI ALCÂNTARA (0%)
- Comunidade São Francisco → QUADRA (1%)
- Ramal do Açu Poranga → ESCOLA ELIEZER (0%)
- Rio Madeirinha → ESCOLA VERA CRUZ (0%)
- Aldeia Trincheira → QUADRA (1%)
- Vila do Novo Céu → CRECHE FRANCISCA ARCOS (23%)
- Comunidade Nova União → CRECHE NEUZA (sem dados)
O cenário se agrava diante da falta de transparência. Nenhum relatório detalhado foi divulgado sobre auditorias internas, análises técnicas ou o destino das verbas empenhadas. Projetos como a Escola Municipal Bela Vista e a Quadra da Escola Raimunda Caldas, ambos financiados com repasses do FNDE, permanecem sem explicações satisfatórias sobre sua interrupção.



Dados recentes do Censo Escolar 2024 e indicadores do IDEB mostram que Autazes enfrenta um quadro educacional ainda mais vulnerável. Mais da metade da população vive na zona rural, onde a distância, a precariedade estrutural e a ausência de escolas concluídas mantêm estudantes em situação de desigualdade extrema. A formação docente também preocupa. Apenas 29,7% dos professores têm qualificação adequada para suas áreas de atuação — percentual que despenca para 20,9% nas escolas rurais.

A infraestrutura geral das unidades escolares reforça o problema. Apenas 7,4% das escolas do município possuem todos os equipamentos considerados essenciais pela base nacional. Nas áreas urbanas, o índice é zero. Nas rurais, chega a 8,5%, ainda muito distante do mínimo aceitável.
Com obras canceladas, unidades inacabadas e indicadores educacionais em queda, Autazes enfrenta o risco de aprofundar um ciclo de abandono estrutural, cujos efeitos podem comprometer a aprendizagem e o desenvolvimento social de centenas de crianças nos próximos anos.
