A Justiça do Amazonas revogou o habeas corpus concedido à médica Juliana Brasil Santos, investigada pela morte do menino Benício, em Manaus. A decisão, publicada nesta sexta-feira (12), foi assinada pela desembargadora Carla Maria Santos dos Reis, que considerou incompetente a análise feita anteriormente pela Câmara Criminal. Com isso, a liminar que garantia liberdade provisória à médica perde validade.

Benício morreu em 23 de novembro, após receber doses de adrenalina no Hospital Santa Júlia. A médica admitiu o erro em documento enviado à polícia e em conversas com o médico Enryko Queiroz, embora sua defesa sustente que a confissão ocorreu “no calor do momento”. A técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, responsável por aplicar a medicação, também é investigada. Ambas seguem em liberdade durante o inquérito.

Depoimentos revelam excesso de adrenalina

A coordenadora da UTI pediátrica, Ana Rosa Pedreira Varela, declarou em depoimento que o garoto recebeu uma quantidade de adrenalina cerca de 15 vezes maior que a indicada para situações de parada cardiorrespiratória. Segundo ela, o menino chegou ao hospital andando, com tosse seca e suspeita de laringite, mas foi submetido a três doses intravenosas de 3 ml cada, administradas a cada 30 minutos.

Overdose causou danos a órgãos vitais

Ana Rosa explicou que o excesso da substância gerou uma overdose, comprometendo tecidos do coração, pulmões e rins. Em adultos de 70 a 100 kg, a dose padrão é de 1 ml de adrenalina pura. Mesmo sem apresentar parada cardíaca, Benício recebeu 3 ml diretamente na veia.

Falta de equipamentos na UTI

A médica Alexandra Procópio da Silva relatou que a UTI pediátrica enfrentava falta de materiais essenciais, como máscara laríngea e bugi, importantes para procedimentos de intubação. Ela afirmou que as ausências são comunicadas à chefia, mas a reposição depende da administração do hospital. Equipamentos infantis também seriam escassos, dificultando o atendimento ao menino.

Avanço das investigações

A Polícia Civil apura o caso como homicídio. Juliana e Raiza são tratadas como suspeitas. Raiza afirmou que seguiu exatamente a prescrição médica e informou a mãe sobre o procedimento antes da aplicação.

Prescrição foi escondida por enfermeiras

Duas enfermeiras, Francineide Macedo e Tabita Costa, relataram que guardaram a prescrição original da médica para evitar que o documento fosse modificado posteriormente. Elas afirmaram que temiam alterações que prejudicassem a investigação.

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