Manaus (AM) – Nos dois últimos meses de campanha eleitoral, que teve início no dia 16 de agosto, as articulações entre os partidos e os candidatos foram marcadas pelo forte impulso de nomes já conhecidos da política, tanto no âmbito regional quanto nacional. A poucas horas do “Dia D” das eleições, que acontecem neste domingo (2), o Em Tempo organizou os principais eventos de destaque e que compõem o cenário atual do processo eletivo.
Disputa para o Governo do Amazonas
No Amazonas, a disputa pelo Governo do Amazonas tem se concentrado entre o atual governador Wilson Lima (União Brasil) e o ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania).
Assim como seus principais concorrentes, Eduardo Braga (MDB) também já atuou como chefe do executivo do estado, e também é um forte nome para concorrer o segundo turno contra Wilson Lima.
Antes da largada da campanha eleitoral, Amazonino disparou nas pesquisas de intenção de voto como o favorito para vencer as eleições. Conforme a pesquisa Pontual, o candidato do Cidadania apresentava, em março, 30,5%, quase 10 pontos percentuais na frente do segundo colocado, naquele momento, Wilson Lima, que possuía 20,9%.
Porém, a vantagem de Amazonino foi minguando ao longo dos meses, e Wilson Lima ganhou força, principalmente no interior do Amazonas.
Em maio, o índice de intenção de voto de Amazonino era 28,9% e caiu, em agosto, para 26,5%. O último levantamento, divulgado no dia 26 de setembro, indicou que Amazonino tem 24,8% das intenções de voto.
Inversamente, Wilson Lima cresceu quase 15 pontos percentuais nos últimos meses. De acordo com os dados, o atual governador e candidato à reeleição tinha 23,3% das intenções de voto em maio.
Já em agosto, Wilson Lima conseguiu ultrapassar seu principal adversário ao atingir 32,7% das intenções de voto. Já em setembro, atingiu 35%, uma diferença de 25,2% em relação ao Amazonino Mendes.
No interior do Amazonas, conforme a pesquisa, Wilson Lima lidera as intenções de votos, com 48,3% dos votos válidos. Já Amazonino Mendes acabou sendo ultrapassado por Eduardo Braga (MDB) que aparece com 24,6%. O ex-prefeito de Manaus tem 22,1%, ficando em terceiro lugar no interior.
Liderança de Wilson Lima
Conforme o cientista político Helso Ribeiro, o crescimento do governador e candidato ao Governo do Amazonas, Wilson Lima, nas pesquisas de intenção de voto não aconteceu de forma imediata. Na verdade, foi um processo gradual.
Para ele, a campanha de Wilson Lima tem trabalhado em ações para diminuir o índice de rejeição, algo que tem conseguido realizar com êxito.
“De certa forma tem tido êxito, tanto que várias pesquisas já atestam esse crescimento”,
afirmou.
Um dos pontos altos para a subida de Wilson Lima, de acordo com Helso Ribeiro, é sua popularidade nos municípios do interior do Amazonas, algo que também acaba refletindo na capital amazonense. Além disso, pontua a boa performance do atual governador em entrevistas na mídia, assim como as constantes aparições em contato direto com o eleitorado.
“Ele está fazendo uma campanha muito presente. Ele vai a bairro, aperta a mão, entra nas buraqueiras, e vai para os municípios. O marketing dele tem conseguido explorar de forma positiva”,
salientou.
Reeleição
Diferente das eleições de 2018, as quais foram movimentadas pela promessa da ‘nova política’, campanha altamente apoiada pela população, visto a vitória nas urnas de muitas figuras que levantaram essa bandeira, as eleições de 2022, por outro lado, mostram o avanço de nomes já eleitos nas eleições passadas.
No Amazonas, os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto para o Governo do Amazonas são: Wilson Lima, Amazonino Mendes e Eduardo Braga respectivamente. Todos com experiência no cargo de chefe do executivo do estado.
Nesse sentido, a reeleição é um dado certo para o próximo governante do Amazonas. Para o cientista político Helso Ribeiro, a reeleição pode ser algo positivo na medida em que as possibilidades da permanência de um projeto são maiores.
Isso porque, é comum na política brasileira um bloqueio do governante atual nos projetos realizados pelo governo anterior. Para o cientista político, esse problema ocorre em razão do ‘personalismo’, quando as ações e projetos para o estado são personificados na figura política.
“Eu penso que se nós não personificássemos as eleições, um projeto bem-sucedido, um projeto de estado e não apenas de governo, poderia ter a continuidade com qualquer um”,
afirmou.
Por outro lado, o cientista político Carlos Santiago não compreende a reeleição com otimismo. Para ele, candidatos que já tiveram um mandato propiciam o abuso de poder econômico e político.
“Então, a reeleição deve ser revista pelo próximo Congresso Nacional para que não haja tanto abuso do poder político e do poder econômico nas eleições, desequilibrando as disputas, pelo uso da máquina pública para beneficiar o próprio candidato que está disputando a reeleição ou para beneficiar terceiros e amigos”,
explicou.
O economista Mourão Junior avalia a reeleição de forma positiva, visto que garante melhores estabilidades econômicas, enquanto que novos nomes geram incertezas.
“Um candidato que já passou pelo cargo ele vai demonstrar economicamente uma estabilidade, no sentido de que ele já passou pelo cargo, o seu planejamento de campanha já é conhecido. Então, isso torna uma situação estável em um ambiente econômico. Diferente de candidatos que não tenham passado pelo cargo, que geram essa instabilidade, e perguntas como ‘será que ele vai cumprir’?”,
explicou o economista.
Aliança política
Antes da realização das convenções partidárias, que iniciaram no dia 20 de julho, alguns partidos já realizaram os primeiros movimentos para formação de alianças e também alguns nomes já eram indicados para participar da corrida eleitoral.
O partido Solidariedade, liderado por Ricardo Nicolau foi uma das primeiras siglas que já definiram a data da reunião, assim como lançaram Nicolau como pré-candidato para o Governo do Amazonas.
Houve também, antes do evento para a divulgação dos nomes dos candidatos, alguns partidos em que o nome dos candidatos para determinados cargos ainda era permeado por incertezas, como o caso de qual candidato ao senado seria apoiado pelo Avante.
Isso porque houve uma aliança entre o governador Wilson Lima (União Brasil) e o prefeito de Manaus David Almeida (Avante), a qual mirava as eleições deste ano, para a reeleição de Lima no Governo do Amazonas.
No acordo, o Avante apoiaria a candidatura do atual governador, e o prefeito David indicaria o nome do vice-governador que formará a chapa com Wilson. Ao mesmo tempo, houve um acordo entre o União Brasil e o PL para o partido de Wilson Lima apoiar a candidatura do Coronel Menezes (PL) para o senado.
No entanto, David Almeida, um dos aliados de Wilson Lima, disse em uma entrevista não apoiar a candidatura de Menezes. Nos bastidores, havia a possibilidade do Avante lançar Chico Preto para concorrer ao senado, ação que causaria problemas para Menezes, pois causaria a divisão de votos e também de apoio político.
No fim, para evitar qualquer conflito, David Almeida sinalizou outros planos para o ex-vereador Chico Preto. Assim, Menezes seguiu como candidato apoiado pelos partidos.
Renovação na Aleam
Aconfiguração dos candidatos eleitos na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) deve ser diferente dos anos anteriores. Como consequência, conforme cientistas políticos, a probabilidade de novos deputados estaduais na Aleam é alta.
Cerca de 20% da Aleam será renovada sem a tentativa de reeleição de cinco deputados que ocupam hoje as cadeiras da casa legislativa. Um dos deputados atuais que confirmaram ao Em Tempo que não tentarão reeleição para o cargo é o parlamentar Saullo Vianna (União Brasil). Ele é pré-candidato para deputado federal pelo partido.
Outro que também decidiu tentar migrar de cargo é o deputado Ricardo Nicolau (Solidariedade). O parlamentar já anunciou que sua pré-candidatura para o Governo do Amazonas.
Neste ano, há uma mudança legislativa que mudará o cenário político das eleições 2022. Conforme os cientistas políticos Carlos Santiago, e Helso Ribeiro, é a primeira vez que os deputados estaduais concorrerão ao pleito sem a possibilidade dos arranjos das coligações. Dessa forma, os candidatos às 24 cadeiras na Aleam poderão disputar apenas por meio de chapa única entre os seus próprios partidos, o que torna a eleição mais difícil.
É proibido a coligação proporcional, então os partidos políticos terão que montar uma chapa inteira para disputar as eleições para o cargo de deputado da assembleia. Sem as coligações proporcionais, e sem a coligação de vagas para deputados, os partidos terão que formar uma chapa própria para disputa das vagas, e alguns partidos não irão conseguir montar uma chapa repetitiva, inclusive, partidos que possuem parlamentares hoje. Isso irá dificultar as suas reeleições.
Conforme o cientista político Helso Ribeiro, é certo que haverá renovações na Aleam nestas eleições, ainda mais com a nova configuração que não permite coligações. Para ele, menos da metade dos deputados estaduais atuais não vai compor a Aleam em 2023.
“Há uma tradição de que a Assembleia Legislativa se renova entre 40% e 55%. Acredito que não vai ser diferente dessa vez com essa dificuldade que eu coloquei anteriormente de não poder mais ter coligações. Então, cada partido que cuide muito bem da sua nominata para tentar atingir esse quociente eleitoral. Então, eu calculo menos da metade dos 24 não retornando”, explicou.
Eleições nacionais
A corrida presidencial deste ano revela o protagonismo de dois candidatos: o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde a largada da campanha eleitoral, Lula já liderava a disputa eleitoral, conseguindo se manter como favorito até a última semana das eleições.
A pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (29), mostrou que Lula possui chances de conseguir ganhar a disputa ainda no primeiro turno das eleições, por conseguir 50% dos votos válidos. Já o presidente Jair Bolsonaro, conforme a pesquisa, obteve 36% dos votos válidos.
Outra candidata que conseguiu crescer nas pesquisas de intenção de voto é a Simone Tebet (MDB), que saiu de 2 pontos percentuais para 6. O salto de Tebet possibilitou o empate com Ciro Gomes (PDT).
O último debate televisivo entre os presidenciáveis foi tomado por intrigas e trocas de farpas. Em mais de três horas, o debate de propostas perdeu espaço para o embate acirrado entre alguns candidatos.
Em certos momentos era possível ouvir o candidato Jair Bolsonaro gritar “ex-presidiário” para Lula. Em outro, Lula e o padre Kelmon (PTB) travaram uma discussão que chegou a ser interrompida pelo mediador e apresentador William Bonner.
Violência política
Outro elemento marcante nas eleições de 2022 é o aumento da violência política em todo o país. Um caso que chocou a população foi o assassinato do dirigente do PT e guarda municipal, Marcelo Arruda, vítima de violência política.
Arruda foi assassinado por um homem apoiador do presidente Jair Bolsonaro, enquanto comemorava seu aniversário de 50 anos com a família e amigos na cidade de Foz do Iguaçu, no dia 9 de julho. O tema do aniversário era o PT e o ex-presidente Lula.
No Amazonas, durante o comício do deputado e candidato à reeleição José Ricardo (PT), um homem agrediu, no dia 27 de setembro, um militante do PT.
Entre os estados que compõe a Amazônia, o Amazonas aparece na pesquisa Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE) como o terceiro em que mais foi catalogado casos de violência política, com um total de cinco casos.
No Brasil, apenas no primeiro semestre de 2022, foram contabilizados cerca de 214 casos de violência política, conforme o levantamento feito pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Os números são alarmantes, visto que no primeiro ano de realização do estudo, foram registrados apenas 47 casos de violência política do mesmo período, um crescimento de 335%.
A narrativa do “bem” contra o “mal”, estimulada pelo governo, conforme Helso, impõe a prática de discursos como a “política de resolver na bala” contra os adversários. Helso analisa que, diante do ex-presidente Lula na frente das pesquisas, haverá o recrudescimento do clima de intolerância.
“A gente observa, há quatro anos, um pouco antes das eleições passadas, que já existia um clima maniqueísta. A luta de bem contra o mal, que na verdade isso não existe. Uma sociedade democrática demanda o respeito ao diverso. Ela demanda a tolerância, e ela pede a busca do consenso”,
disse Helso Ribeiro.
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