Manaus (AM) – A onça-pintada é o maior felino das matas brasileiras e uma espécie emblemática da fauna da Amazônia Internacional. Porém, de acordo com dados de Rogério Fonseca, biólogo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), estima-se que cerca de 1.000 onças-pintadas são abatidas por ano na região amazônica. Esses animais também vivem sob risco no Pantanal, no Centro-Oeste do país.
Para representar a força e garra do povo brasileiro e chamar a atenção para a preservação da espécie, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) introduziu uma nova estampa à camisa da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Catar. Tanto o uniforme amarelo quanto o uniforme azul levam as marcas da onça-pintada.
Aproveitando a ação, especialistas alertam a população quanto à preservação e à valorização do animal. O comércio ilegal ainda é presente, mesmo sendo proibido desde a década de 1950, e a espécie sofre com a caça ilegal.
Característica e importância
De acordo com o biólogo Rogério Fonseca, do Inpa, é na região amazônica que existe a maior população de onça-pintada do mundo. Aqui, a estatura das onças-pintadas é menor quando comparada aos animais que vivem no Pantanal e no Cerrado brasileiro. A onça-pintada da Amazônia pode medir até 1 metro e 20 centímetros de comprimento e chega a pesar até 70 quilos. As onças-pintadas do Pantanal podem chegar a 120 quilos.
Uma das características mais importantes deste animal é que as suas manchas como como suas digitais, pois são únicas. Não existe uma onça igual a outra.
Outra característica da onça-pintada amazônica é que ela vive 6 meses sobre a copa das árvores, em época de enchentes. Ela é um predador carnívoro e está no topo da cadeia alimentar, consumindo animais herbívoros. Ou seja, se alimenta de animais que consomem plantas, como macacos, veados e preguiças.
Com isso, a sua importância na cadeia alimentar é controlar a herbivoria. Segundo Fonseca, quando as presas são perseguidas pela onça, acabam se distanciando de seus locais de habitação e, consequentemente, levam consigo as sementes que ajudam no reflorestamento da mata.
“A onça realiza direta e indiretamente o controle da hebivoria, promovendo também o plantio de florestas, e tantas outras funções como o controle de espécies exóticas e invasoras, como é o caso dos javalis, cães, gatos. Visto que, hoje, no Brasil, não existe uma política séria de controle desses animais domésticos, a onça-pintada está ali promovendo”,
explica Rogério Fonseca.
Valorização
Segundo o especialista, a espécie deveria ser mais valorizada pelos brasileiros. Porém, quem mais zela pelo animal, são todas as populações rurais do Brasil, quando essa prática deveria se expandir e envolver toda a sociedade.
“No nosso estado, especificamente, o ribeirinho, o caboclo da Amazônia, ele é o grande preservacionista da natureza brasileira. Até mesmo por causa das opções alimentares do caboclo ribeirinho e por causa dessas opções alimentares, ele mantém a floresta em pé, ele come mais peixe, ele come animais que são oriundos do rio. Pensem, reflitam que, se o nosso caboclo fosse fazer as mesmas opções alimentares que o gaúcho, o paulista, o baiano, a gente teria um desmatamento acentuado cada vez mais”,
observa o especialista em biologia.
Para Fonseca, a onça-pintada é uma prestadora de serviços ambientais. O animal também tem outras funções, como enaltecimento e fortalecimento do turismo de observação animal. “A onça-pintada é uma espécie guarda-chuva, pois onde ela existe, ela conserva, preserva milhares de outras espécies. Nisso, temos boa oportunidade de integrá-la como um pacote turístico, trazendo pessoas do mundo para vir vê-las, como acontece no Pantanal”, anseia.
De acordo com o biólogo, o Centro de Instrução e Guerra na Selva (Cigs) é o maior e mais antigo centro de manutenção e reprodução da espécie há 63 anos. “A gente tem que entender que a importância da espécie para nós, amazônidas, é imensa, especialmente para a promoção de negócios turísticos. No cativeiro do Cigs já houve grande reprodução da população de onças. Mas há também aquelas espécies que estão doentes, e não podem mais voltar para a selva”, avalia Rogério.
Caça e comercialização ilegal
Desde 1967, a comercialização legal da onça-pintada é proibida. No entanto, essa prática ainda existe, principalmente quando se trata do comércio internacional. Na Amazônia, esse crime raramente é registrado oficialmente, ao contrário do que acontece no Pantanal, onde os animais são maiores e a procura pelo couro e pelos dentes são grandes.
Segundo a Wildlife Conservation Society (WCS), uma investigação internacional realizada por pesquisadores descobriu que o comércio on-line de partes de onça-pintada é detectável em várias plataformas on-line, representando uma ameaça emergente e séria às populações de onças-pintadas em toda a área de ocorrência deste ícone da vida selvagem da América Latina. O Brasil está entre os países com maior incidência de anúncios de venda ilegal.
Os resultados revelaram que entre 2009 e 2019, o comércio de peças de onça-pintada foi abertamente detectável e, particularmente, concentrado em presas. Foi possível detectar 230 postagens com possíveis partes de onças-pintadas à venda em mais de uma dúzia de categorias de partes do corpo. Uma triagem conservadora de imagens constatou que, no mínimo, 71 postagens continham imagens de diferentes partes da onça, em 12 plataformas diferentes, em quatro idiomas, sendo em espanhol, português, chinês e francês – incluindo um total de 125 peças de onça-pintada.
De longe, os dentes foram as partes mais comercializadas no mercado internacional. México, China, Bolívia e Brasil foram os principais países a oferecer os dentes do animal. Todas as postagens acompanhavam imagens também de pele.
Em 2011, um safári de animais silvestres chocou a população brasileira quando um vídeo foi exposto nas redes sociais e ganhou repercussão no Jornal Nacional. No vídeo, foi possível ver uma onça-pintada caindo de uma árvore após levar um tiro. O local era ponto de diversão para caçadores. Mais de dez anos depois, boa parte do crime permanece impune e até já prescreveu. Ou seja, o tempo que a justiça tinha para julgar o caso acabou e o caso segue arrastado na justiça.
Crimes ambientais como este ainda ocorrem no país, apesar de haver “fiscalização” contra essa prática criminosa. O que os especialistas se questionam é como esses animais são levados para fora do país, sejam vivos ou mortos, já que há uma fiscalização a ser feita.
“Eu espero que, dentro de breve, tenhamos mecanismos mais eficazes de comando e controle de gestão ambiental. Eu estimo que, diante de uma pesquisa de uma orientada minha, que cerca de 1.000 onças-pintadas são abatidas por ano na Amazônia. Esse número é monitorado desde 2016 até o presente momento, da perda e onça por caça criminosa”,
afirma o especialista.
Imagem predatória
O especialista em Gestão e Educação Ambiental, Israel Dourado, comenta que apesar do animal ser admirado, continua sendo temido pela população, uma vez que, pelo seu grande porte, tem-se a crença de que o animal poderá atacar o ser humano.
Com o desmatamento e pelo crescimento das cidades, o habitat natural do felino acaba diminuindo e algumas espécies podem aparecer na zona urbana. Mas o especialista lembra que as pessoas não devem ter medo e muito menos atacar o animal.
“Com o crescimento desordenado da cidade, corre o risco de um animal desse porte atacar uma pessoa. Mas vale lembrar que a onça só ataca caso se sinta ameaçada. É uma forma de o animal se defender também. Por isso, recomendamos que é preciso chamar o resgate em primeiro lugar, pois são pessoas competente e treinadas para isso”,
adverte.
O Corpo de Bombeiros Militar (CBMAM), o Comando e Batalhão de Policiamento Ambiental (BPamb), assim como o IBAMA, são os órgãos que podem fazer o resgate animal e para quem podem ser feitas denúncias sobre a caça e comercialização ilegal.
Apelo
Além da torcida para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo no Catar, Dourado espera que as pessoas busquem mais conhecimento sobre o porquê da escolha da onça para a composição da camisa da seleção. Segundo ele, conhecer a importância dos animais para a biodiversidade amazônica vale muito.
“Eu espero que a busca pela importância da onça-pintada possa aumentar por meio da pesquisa científica. Que as pessoas possam se interessar sobre a vida desse animal tão importante para a nossa biodiversidade. Eu espero que não haja uma procura grande por pessoas querendo utilizar materiais feitos do couro da onça, como bolsas e sapatos. Mas que as pessoas aproveitem esse marketing que a copa do mundo está fazendo sobre a onça para aprimorar seus conhecimentos sobre ela, para a nossa região e, principalmente, para o meio ambiente”,
conclui.
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