Brasília (DF) – O interventor federal na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, apontou as falhas da Polícia Militar e o acampamento golpista em frente ao quartel-general do Exército como as causas para a invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal) durante os ataques golpistas do dia 8 de janeiro.
Cappelli também criticou a politização da polícia no DF e apontou que o ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres tinha um relatório de inteligência sobre o perigo previsto para o dia 8 desde o dia 6 deste mês.
“Em todos os distúrbios no DF durante esse período [entre a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)] , esses elementos saiam do acampamento, praticavam atos e depois regressavam para dentro do Setor Militar Urbano”,
pontuou.
O acampamento começou a se formar já no dia 31 de outubro, primeiro dia após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), e foi crescendo a medida que se aproximava a posse do petista.
“Não era um acampamento comum. Acampamento não tem cozinha montada, infraestrutura de banheiros químicos, geradores. Era uma verdadeira mini cidade golpista montada em frente ao QG do Exército”,
avaliou.
Apesar disso, apontou Cappelli, operações para desmobilizar o acampamento foram sucessivamente abandonadas pelo Exército na véspera da sua realização em diversas ocasiões.
“Houve mobilização de homens para essas operações, registradas, e foram canceladas na véspera por ponderações feitas pelo Exército brasileiro, pelo Comando Militar do Planalto”,
disse.
Cappelli, entretanto, evitou criticar o Exército ao ser questionado diretamente sobre o papel da Força. Ele se resumiu a dizer que o papel do relatório era tratar das forças de segurança do DF.
Nesse sentido, o interventor se alongou mais ao detalhar as diversas falhas da Polícia Militar que culminaram nos ataques golpistas.
Primeiro, apontou o interventor, havia informação suficiente dos riscos antecipados para o dia 8 de janeiro, um domingo, já no dia 6.
“Houve informação sobre o que aconteceria no dia 8. Há relatório da Secretaria de Segurança Pública do dia 6 onde está escrito textualmente. [O relatório] foi entregue no gabinete do secretário do DF [Anderson Torres] no próprio dia 6 e dizia que na manifestação convocada como tomada do poder existia ameaça concreta de invasão aos prédios públicos.”
O relatório de inteligência, entretanto, não se reverteu em um plano operacional ou em ordens de serviço para reforçar o policiamento no dia da manifestação na Esplanada dos Ministérios.
“Fica claro o impacto da posse de Anderson no dia 2, a instabilidade que gerou na secretaria com exonerações, trocas, e logo após ele viaja, recebe relatório e não tem desdobramento”, pontuou.
Outro elemento considerado grave pelo interventor é que além de Torres, outras nove pessoas em postos de comando na Polícia Militar do Distrito Federal estavam de férias no dia 8 de janeiro.
Citando o ex-chanceler Celso Amorim, Cappelli afirmou que “quem quiser que acredite em coincidências, eu só acredito em teorias da conspiração. Acho que são muitas coincidências juntas, e se percebe uma escalada“.
Além disso, o interventor criticou a politização das forças de segurança no DF, com políticos nomeando policiais para cargos de comando dentro das corporações, o que levaria a uma quebra da disciplina e da hierarquia na corporação.
“Quando a gente tem na PM, que é estrutura com a cultura da hierarquia e disciplina, cada político indicando um comandante, um subcomandante, um chefe de batalhão, a gente tem muita dificuldade de manter hierarquia e disciplina”, avaliou.
Nesse sentido, ele apontou situações no dia 8 no qual o comandante da PM do DF, Fabio Augusto, solicitava reforços já durante as invasões à sede dos Três Poderes e não era obedecido.
Assim, resumiu Cappelli, houve uma “sucessão de problemas, desde planejamento operacional inexistente, até postura passiva inaceitável diante da grave ameaça a República e até movimentação operacional inadequada”.
De acordo com o interventor, que deixa o posto no dia 31 de janeiro, quando volta para a Secretaria-Executiva do Ministério da Justiça, há seis inquéritos policiais militares abertos apurando os possíveis crimes de membros das forças de segurança no dia 8 de janeiro.
Eles investigam desde a participação de policiais na segurança e financiamento dos acampamentos até situações específicas identificadas durante o ato, como quando policiais tiraram fotos com manifestantes.
O novo secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, que assume o posto no começo de fevereiro, garantiu que elas seguirão adiante.
“Investigações seguirão seu curso, é uma atividade prioritária para que possamos esclarecer os fatos”, disse.
*Com informações da Folha
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