A população da Rússia está sob os olhos do “Big Brother” (o “Grande Irmão”, do escritor britânico George Orwell, no célebre romance “1984”) e do seu exército de colaboradores espalhados por várias cidades do país, de espaços públicos a locais mais reservados, prontos para denunciar comportamentos “desviados”.
Cidadãos russos estão denunciando uns aos outros às autoridades, em massa, por comentários antiguerra feitos em bares, salões de beleza e mercearias, entre outros estabelecimentos, em mais de 10 cidades em todo o país, de acordo com um novo relatório da agência de notícias russa independente Vrestka, citada pelo “Daily Beast”.
Documentos legais obtidos pela agência em Moscou, Bryansk, Novosibirsk e outras cidades indicam que os cidadãos foram denunciados por “violações” tão pequenas quanto contar uma piada sobre a guerra, ouvir música ucraniana ou até mesmo falar em um espaço público sobre a invasão do presidente russo Vladimir Putin à Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado.
Muitos dos presos após serem denunciados por outros cidadãos foram acusados de acordo com o Artigo 20.3.3 do Código de Ofensas Administrativas da Federação Russa, uma nova Lei assinada por Putin no ano passado que criminaliza “ações públicas destinadas a desacreditar” as Forças Armadas Russas.
Um russo de Bryansk, Mikhail Kolokolnikov, teria sido multado e preso por dois dias depois que um estranho chamou as autoridades sobre ele por dizer a frase “Glória à Ucrânia” num bar em 15 de janeiro. Em entrevista à Vrestka, Mikhail disse que dois policiais invadiram o bar logo depois que ele disse a frase para outro homem, exigindo saber: “Quem disse ‘Glória à Ucrânia’ aqui?”.
“Outro dia, um foguete atingiu uma casa no Dnipro. E eu costumava passar por esta casa todos os dias indo até a praia. Ainda estava um pouco aborrecido por causa disso”, acrescentou Mikhail, que nasceu na Ucrânia.
Já Ivan Sleponogov, morador de Chita (região da Transbaicália), foi preso após ser acusado de dizer um slogan antiguerra durante um serviço religioso de Páscoa em abril do ano passado. Ele também foi denunciado. Ivan alegou que estava dizendo, na verdade, “Glória aos caras que morreram na Ucrânia!” em referência a soldados russos que foram mortos em combate. O caso acabou arquivado dez dias depois de o russo ser preso, e ele foi solto.
Outros casos detalhados na investigação da Vrestka incluem reclamações feitas contra cidadãos russos por tocarem música ucraniana no carro enquanto dirigem, fazerem declarações pró-ucranianas bêbados de uma sacada e criticarem a guerra em conversas privadas com amigos numa cafeteria. Os indivíduos que fizeram as reclamações supostamente incluem escutas de vizinhos, colegas de trabalho e zeladores.
Em muitos dos casos, de acordo com o veículo, pouca ou nenhuma evidência foi fornecida por testemunhas que relataram as supostas violações.
Em alguns processos judiciais, no entanto, os sentimentos antiguerra supostamente expressos pelos cidadãos acusados não são tão sutis. Em Serpukhov, uma cidade perto de Moscou, dois veteranos do exército russo acusaram Yuri Nemtov de abordá-los num shopping em novembro passado gritando: “Bem, invasores! Vão lá para morrer como carne bovina!”.
*Com informações do Extra
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