A sociedade mundial é composta por diferentes tipos de pessoas, onde cada um possui sua própria história, convicções, fé, realidade, tudo de acordo com o contexto que está inserido. Nem todos possuem o mesmo interesse, e os que se diferenciam, sofrem repressão por parte da maioria das pessoas.
Segundo a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras (10% da população) se identificam como parte da comunidade LGBT. O Relatório Mundial da Transgender Europe apontou que a LGBTfobia, o ódio destinado às pessoas que não se encaixam no padrão heteronormativo, é a terceira maior causa de bullying nos países.
O Brasil é, pelo quarto ano consecutivo, o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ do mundo, apontou o Observatório de Mortes e Violências contra a comunidade. No ano de 2020, foram 237 casos de mortes violentas por pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo. Já no ano de 2021, houve 316 mortes, um aumento de 33,3%. Em contrapartida, em 2022, foram registrados 273 óbitos, ou seja, duas mortes a cada três dias.
Violência no Brasil
Não é difícil saber de casos onde uma pessoa LGBT é vítima de algum ataque vindo de pessoas que se acham no direito de julgar o que é certo e o que é errado. Parte do comportamento da sociedade vem da força de movimentos religiosos que condenam o estilo de vida dos outros, justificando suas ações através da fé.
Em 2022, as maiores vítimas de violência dentro da comunidade foram as pessoas transexuais e travestis, com 159 mortes (58,24%). Em seguida, homens gays foram alvos de ataques, com 96 óbitos (35,16%). A região nordeste lidera o ranking de mortes, com 118 registros. Em segundo lugar, vem a região sudeste, com 71. Em terceiro lugar, a região centro-oeste, com 37.
Ativista LGBT, a transexual Verônica Oliveira foi brutalmente assassinada em Santa Maria (RS), no ano de 2019. Fundadora do “Verônica Alojamento”, um lugar que acolhe mulheres transexuais que foram expulsas de casa pela família, a líder foi vítima de violência perpetuada pela sociedade.
Outro caso que ganhou atenção nacional foi o assassinato de Lorena Fox, a mulher transexual que só foi identificada, pois seu salto alto foi deixado ao lado de seu corpo. Foram sete dias desde o sumiço até o cadáver de Lorena ser encontrado. Na certidão de óbito da vítima, a causa de morte foi traumatismo e fratura de crânio. Assim, vários casos de violência são relatados pelo país, não é um caso isolado.
Violência no Amazonas
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) registrou no ano de 2022, cerca de 24 casos de homofobia e transfobia no Estado, e nove mortes de pessoas LGBTQIA+; uma queda de 35,7% em relação a 2021, quando houve 14 mortes. Já o Observatório de Mortes e Violências LGBTQIA+ no Brasil aponta que houve 13 mortes violentas no Amazonas durante o ano anterior; os dados se contradizem.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), de janeiro a abril de 2023, ocorreram 150 atendimentos pela pasta. Atualmente, a Sejusc oferece os seguintes serviços: Projeto Cidadania para Todes (ajuda na retificação de prenome e gênero), encaminhamento a atendimentos jurídicos e psicossociais, tratativas de acolhimento para LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, atendimentos e encaminhamentos de denúncias recebidas pelo disque 100.
Já a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos (Semasc), além das campanhas de conscientização, a pasta direciona pessoas em situação de vulnerabilidade para abrigos municipais ou para a Casa Miga (casa de acolhimento não governamental para pessoas LGBTQIA+ em Manaus).
“A prefeitura dispõe de um canal de denúncias que as pessoas podem utilizar para apontar casos de lgbtfobia. Desde o ano passado temos feito informativos para divulgar os canais de denúncia, falando sobre a Delegacia Especializada de Ordem Política e Social (Deops), onde são especializados em atender casos de violência contra a população LBGTQIA+”,
disse em entrevista a gerente de promoção e defesa dos direitos referente à livre orientação sexual da Semasc, Joyce Gomes.
A representante municipal explicou as dificuldades que a secretaria enfrenta ao acompanhar os casos de violência conta a comunidade em Manaus.
“A gente sabe que saem pesquisas sobre violência, mas elas costumam se basear apenas em notícias de casos de lgbtfobia que saem em jornal, mas ainda é muito subnotificado. Há um quantitativo muito maior por trás, porque, muitas vezes, quando chega uma demanda, a gente ainda precisa incentivar a vítima a fazer a denúncia, porque muitas vezes ela está em estado tão fragilizado, que vai realizar a denúncia e acaba passando por uma extensão de violações e acaba desistindo”,
detalhou Joyce.
Discurso de ódio
Nos últimos meses, o pastor André Valadão vem ganhando os holofotes após fazer discursos de ódio contra a comunidade LGBT durante suas pregações em igrejas. Na última segunda-feira (3), em um culto, Valadão incentivou os fiéis a matarem pessoas inseridas no contexto LGBT.
Em uma de suas falas, o pastor diz: “Agora é hora de retomar o controle e dizer: ‘não, pode parar, resertar’. Aí Deus diz: ‘não posso mais, já enviei esse arco-íris, se eu pudesse, eu mataria tudo e começaria tudo de novo. Mas já prometi para mim mesmo que não posso, então agora está com vocês’.
Em outra oportunidade, André já tinha se manifestado contra o movimento quando realizou um culto com o tema “Deus Odeia O Orgulho”. Para se defender das críticas nas redes sociais, o pastor disse que não incitou a violência e que há um “sistema mundial tentando acuar a verdade da fé que um cristão genuíno carrega”.
Por ser uma personalidade conhecida e influente, o discurso de André Valadão contra uma comunidade que é alvo de violência diária coloca em risco a vida de milhares de brasileiros. Utilizando a fé e um espaço religioso, o pastor acentua cada vez mais o problema social acerca da morte de LGBT no Brasil, que atualmente, ainda registra números altos de óbitos.
O psicólogo Pedro Paulo Bicalho disse em entrevista que a fomentação do discurso de ódio contra LGBTQIA+ é um fator que incentiva, cada vez mais, a violência contra o grupo social.
“No Brasil, nós não assassinamos LGBT porque nós possuímos leis que dizem que são pessoas que precisam ser assassinadas. Nós assassinamos por discursos e construções subjetivas de ódio”.
Com estatísticas altas, o Brasil carrega o peso de ser o país que mais mata LGBTQIA+ e mesmo assim, continua perpetuando discursos discriminatórios livremente contra uma parcela da população que possui os mesmos direitos que as demais.
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