Manaus (AM) – Manaus e grande parte do país amanheceu sem energia elétrica na última terça-feira (15). Escolas liberaram os alunos, empresas encerraram o expediente mais cedo e comerciantes perderam vendas. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), uma ocorrência na rede de operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) acabou interrompendo 16 mil megawatts (MW) de carga.
A região Norte foi a mais afetada, com 83,8% de sua capacidade reduzida. Por nota, a Amazonas Energia, a concessionária de energia elétrica do estado, informou que ocorreu um desligamento intempestivo do Linhão de Tucuruí, ocasionando blecaute no sistema de Manaus e interligados, afetando também as cidades de Manacapuru, Iranduba, Presidente Figueiredo, Parintins e Itacoatiara.
Esta situação causou transtornos à população, mesmo que os casos da falta de energia elétrica tenham se tornado recorrentes no Estado do Amazonas. Conforme o Núcleo de Estatística do Tribunal de Justiça do Amazonas (Tjam), quase 5 mil processos judiciais foram protocolados contra a Amazonas Energia em 2022, sendo mais de 8 mil processos em todo o estado.
Empresários perdem renda financeira
Para não estragar 100% dos produtos produzidos, o casal de empresários Júlia Carla Gonzalez e Denison Araújo, distribuíram durante a manhã de terça-feira (15), aproximadamente dois mil picolés da massa nos semáforos do cruzamento das ruas Djalma Batista e João Valério, bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Centro-Sul de Manaus.
A empresa do casal depende do fornecimento de energia para armazenar o material comestível, e por conta da interrupção do sistema, os donos preferiram distribuir o que haviam produzido ao invés de aguardar o restabelecimento da energia elétrica, porque até aquele momento, não havia previsão de normalização do serviço.
“A Amazonas Energia tem que entender que Manaus é uma metrópole, a gente não pode ficar reféns do Linhão. Tem que ter uma alternativa para ter energia própria. É uma vergonha, se cair o Linhão ficar à mercê, não podemos ficar reféns, tem que ter um plano B”,
desabafou o empresário.
Júlia Carla contou que diante da situação, ela se reuniu com sua equipe de funcionários e decidiram fazer a distribuição para a população que passasse pela via pública.
“Estava um pouco triste com esse prejuízo, porque meu produto é muito perecível, então, resolvi trazer com minha equipe, dois mil picolés da massa e distribuir para a população. Estou feliz porque, pelo menos, vi que aceitaram muito bem nosso produto e evitamos que tudo fosse pelo ralo”,
finalizou a empresária.
Energia alternativa?
Como foi apontado pelo empresário Denison Araújo, Manaus é abastecida pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), assim como as outras cidades dos quatro cantos do país.
Atualmente, o estado de Roraima é o único abastecido por uma termelétrica fora do sistema nacional. Por conta dessa condição, a população roraimense não foi afetada pelo apagão nacional.
Mas, antes de integrar o sistema nacional, Manaus era abastecida por um conjunto de usinas, como explica o Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas (CREA-AM), Professor Frederico Cesarino.
“Manaus possui um conjunto de usinas (térmicas, hidrelétricas e pequenas usinas solares) que, somadas, apresentam capacidade que atende à demanda da capital. Até 2013, esse conjunto de usinas era a única geração de energia da capital, até a interligação com o sistema nacional pela linha de Tucuruí. Então, Manaus não depende exatamente do linhão”,
pontou o profissional.
De acordo com o Professor, a Amazonas Energia como empresa, tem procurado melhorar a distribuição de energia, mas os desafios encontrados na região pedem mais esforços por parte da concessionária.
“Independente de quem seja a empresa que distribui energia no Amazonas, seja pública ou privada, é sempre um grande desafio por conta de nossas condições geográficas, por conta dos altos índices de inadimplência e desvios de energia, e de nossa matriz energética”,
afirmou Cesarino.
O último apagão que atingiu parte do Brasil não foi responsabilidade da Amazonas Energia, segundo o profissional, uma vez que a empresa é responsável pela distribuição elétrica; mas isso não muda o fato que ainda há muito o que ser feito para a empresa entregar um serviço de qualidade aos cidadãos do Estado do Amazonas.
“Considerando que a Amazonas Energia cuida apenas da distribuição de energia elétrica, ela faz o possível para garantir um bom serviço ao povo amazonense: medições por telemetria, acompanhamento em tempo real da operação, rapidez no atendimento de ocorrências de manutenção. Todavia, ainda há muito a ser feito: redução das ligações clandestinas, modernização continua dos equipamentos e sistemas, e uma maior interação com os órgãos públicos e demais empresas de serviço”,
reiterou Frederico.
Imprudência da concessionária
Responsável por distribuir a energia elétrica em Manaus e nos municípios, a Amazonas Energia virou alvo de constantes denúncias de populares tanto da capital, quanto do interior do estado.
Em março deste ano, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) instaurou um Procedimento Preparatório Coletivo para investigar as frequentes quedas de energia registradas em Codajás, que causaram prejuízos aos moradores do município.
Segundo os defensores públicos do Polo de Coari, que atende Codajás, o problema se arrasta há 10 anos através da falha do fornecimento de energia, que ocorre sem aviso e várias vezes ao dia.
“E muitas vezes essas faltas de energia duram horas. Oficiamos o responsável local da Amazonas Energia, porém a justificativa foi genérica e limitou a delegar o problema a terceiros”,
argumentou, na época, o defensor público Thiago Cordeiro, coordenador do polo.
No ano de 2022, a CPI da Amazonas Energia foi instaurada na Aleam para apurar possíveis irregularidades na geração e distribuição de energia elétrica do Estado. Na oportunidade, após fiscalização nos medidores de energia no estado, foram identificados 36 aparelhos irregulares que estavam prejudicando o consumidor, reproduzindo o famoso gato invertido, onde a Amazonas Energia furtava a energia do cliente e cobrava mais caro nos boletos.
A medida gerou três autos de infração por parte do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem), onde dois foram homologados e culminaram em multa no valor de R$ 400 mil reais em desfavor à concessionária.
De acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor do Amazonas (Procon-AM), no ano de 2022, foram recebidas 10.413 reclamações direcionadas a Amazonas Energia. Em 2023, até o momento, já foram contabilizadas 5.928 denúncias, um pouco mais da metade do que já foi registrado no ano anterior.
Repercussão entre políticos nas redes sociais
O Deputado Federal do Amazonas, Amom Mandel (Cidadania), se manifestou nas redes sociais sobre o apagão que atingiu o país durante a terça-feira, e na oportunidade, afirmou que irá solicitar uma reunião com Agência Nacional de Energia Elétrica e com o Ministério do Governo Federal sobre a interrupção do fornecimento de energia elétrica.
“Como membro da Comissão de Minas e Energia, não posso admitir que esse tipo de coisa aconteça sem as devidas explicações e precauções para que não se repita. Sobretudo num contexto em que a energia em Manaus já estava abandonada antes mesmo disso. A Amazonas Energia no nosso Estado sofre com constantes apagões e não tem demonstrado, até então, a capacidade de manter a concessão pública que se estabelece”,
disse Mandel.
Ainda segundo o deputado, a situação das cidades amazonenses é ainda mais complicada quando citamos as falhas da atua fornecedora de energia no Amazonas.
“Energia é essencial e não pode faltar. Seja por problemas no Linhão de Tucuruí ou pela falta de competência da concessionária no Amazonas”,
finalizou Amom.
O deputado federal Fausto Júnior (União), veio às redes sociais para mostrar sua insatisfação com a falta de energia, sobretudo pensando no prejuízo causado aos empreendedores.
“Imagina o prejuízo que comerciantes e muitas famílias acabaram tendo hoje por conta do apagão? Brasil é o 2.º país com a energia mais cara do mundo, e o fornecimento é péssimo e inseguro. O apagão que atingiu 25 estados hoje é prova disso. Nosso sistema precisa de modernização urgente. Requeri informações ao ONS e vamos convocá-los na Comissão de Minas e Energia para esclarecimentos e quais medidas vão tomar para evitar futuras interrupções”,
destacou.
Já o deputado federal Adail Filho (Republicanos), reiterou a necessidade de uma apuração concisa sobre o apagão, além de punir os responsáveis.
“Manaus e os municípios de Manacapuru, Iranduba, Presidente Figueiredo, Parintins e Itacoatiara permanecem sem luz após o apagão que atingiu todo o Brasil. A falta de energia já está causando prejuízos à população. Precisamos investigar a causa desse apagão e punir os responsáveis. Estou protocolando agora um requerimento cobrando informação ao Ministério de Minas e Energia sobre o blecaute e o motivo da energia ainda não ter sido religada no Norte do Brasil”,
finalizou Filho.
O que diz a Amazonas Energia
Em nota de esclarecimento divulgada pela empresa, a Amazonas Energia afirma que é responsável pelo atendimento de 100% dos consumidores de energia elétrica do Estado, tendo atualmente mais de 950 mil clientes ativos, sendo então a empresa com maior número de clientes das empresas pesquisadas. Ao levar em conta o número de clientes atendidos na área de concessão da Empresa, as reclamações representam menos de 0,01%.
Sobre as constantes quedas de energia, o órgão tem buscado garantir ao contribuinte a adequada prestação dos serviços, atuando conforme a legislação em vigor, assim como cumprindo a normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), órgão responsável pela regulação dos serviços de distribuição e de fornecimento de energia elétrica no Brasil.
A Amazonas Energia informa que a tarifa da Amazonas Energia está em 14º lugar no ranking nacional, não sendo uma das mais caras como cita a matéria.
Reforçamos que a tarifa foi homologada pela ANEEL por meio da Resolução Homologatória nº 3.132/2022. Por meio dessa resolução, a tarifa média para o consumidor residencial da Amazonas Energia, sem impostos, ficou em R$ 0,835/MWh.
A tarifa de energia permite que a Distribuidora mantenha os investimentos no sistema elétrico, na construção de subestações, linhas de transmissão, intensificado de ações de combate às perdas, bem como a extensão e reforma de centenas de quilômetros de redes de distribuição e a automação do sistema, visando à expansão da oferta e à melhoria dos padrões de qualidade do serviço.
Direito de resposta – Amazonas Energia
A Amazonas Energia solicitou direito de resposta em relação à matéria veiculada pelo Em Tempo, nesta sexta-feira (18), informando que o valor da energia e um dos mais altos do país. Conforme a empresa, o fato não procede. Confira nota: A tarifa da Amazonas Energia está em 14º lugar no ranking nacional, não sendo uma das mais caras como cita a matéria.
Reforçamos que a tarifa foi homologada pela ANEEL por meio da Resolução Homologatória n.º 3.132/2022. Por meio dessa resolução, a tarifa média para o consumidor residencial da Amazonas Energia, sem impostos, ficou em R$ 0,835/MWh.
A tarifa de energia permite que a Distribuidora mantenha os investimentos no sistema elétrico, na construção de subestações, linhas de transmissão, intensificado de ações de combate às perdas, bem como a extensão e reforma de centenas de quilômetros de redes de distribuição e a automação do sistema, visando à expansão da oferta e à melhoria dos padrões de qualidade do serviço.
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