Manaus (AM) – “Agora ele vai ser meu pai, como nunca eu tive antes”, disse Laura*, de 10 anos. Ela e a família estão entre os mais de 400 atendimentos realizados pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) no sábado (12), no mutirão da campanha “Meu Pai Tem Nome”, voltado para o reconhecimento de paternidade. Por iniciativa do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Gerais (Condege), o mutirão ocorreu em todo País para promover o reconhecimento de filiação de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento.
No Brasil, o índice de crianças “sem pai” cresceu pelo quarto ano consecutivo, o que despertou a atenção das Defensorias Públicas de todo o País. Para se ter ideia, quase 100 mil crianças nascidas em 2021 não têm a paternidade registrada, de acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). No Amazonas, 23.572 crianças foram registradas só com o nome da mãe, entre 2018 e 2021. Os dados são da Associação dos Notários e Registradores do Estado do Amazonas (Anoreg/AM).
Laura* era uma dessas crianças sem o nome do pai em seu registro de nascimento. Criada desde os 11 meses de vida pelo padrasto, a menina o tem como sua figura paterna e o chama de pai. Ela conhece o pai biológico, mas tem pouco convívio com ele, que não manifestou intenção de registrá-la. “É uma coisa que eu quero desde criança. Agora vou ficar muito feliz. Amo muito ele”, conta Laura*, referindo-se ao padrasto e acrescentando que estava ansiosa pelo dia do atendimento na Defensoria.
O padrasto, José*, relata que conheceu a mãe da menina em 2012 e que se casaram em 2014.
“Desde então, eu crio ela como minha filha e ela me tem como pai dela. Como o pai biológico até o momento não se interessou em registrar, e surgiu essa oportunidade do mutirão, eu vou assumir ela de vez, com documento, certidão e tudo”, afirmou.
José* explica que entre as razões para regularizar o registro da menina estão o acesso a benefícios trabalhistas e sociais. “Ela quer muito, é um desejo dela, meu e da minha esposa. E para ela ter direitos aos benefícios que a minha empresa proporciona, como plano de saúde e odontológico, por exemplo, fora os outros benefícios, como o psicológico e social no geral. Por isso ter o nome do pai na certidão é importante”, disse.
A defensora pública Hélvia Castro, coordenadora do projeto, ressalta que é um direito da criança e do adolescente ter o nome do pai e da mãe na certidão de nascimento.
“O nome é um direito da personalidade e como tal, protegido, pois individualiza a pessoa, distinguindo-a de outras. Consolida o direito de conhecer a sua origem, sua ancestralidade, sua ascendência. O reconhecimento de paternidade dá ao filho a possibilidade de conviver com o pai e manter uma relação paterno-filial saudável. Além disso, traz as consequências lógicas da filiação, como o direito aos alimentos e a condição de herdeiro”, reforça a defensora.
Campanha Nacional
A campanha “Meu Pai Tem Nome” é uma ação coordenada entre as Defensorias Públicas dos Estados para a realização concentrada de sessões extrajudiciais de mediação, conciliação e educação em direitos, voltada para a efetivação do direito fundamental ao reconhecimento de filiação, paternidade e maternidade.
Em 2019, o índice de crianças apenas com o nome da mãe no registro civil cresceu de 5,5% para 5,9%. Em 2020, o índice subiu para 6% e, em 2021, a porcentagem está em 6,3%.
* Nomes fictícios para preservar a identidade da criança
* Com informações da assessoria
Leia mais:
Ellóah Sanches é coroada Rainha Gay do Carnaval de Manaus 2022
Polícia Civil do AM alerta para golpes nos sites de relacionamentos
Mais de 3 mil doses de vacina são aplicadas em casas de show de Manaus
Edição web: Jonathan Ferreira
Para ficar por dentro de outras notícias e receber conteúdo exclusivo do portal EM TEMPO, acesse nosso canal no WhatsApp. Clique aqui e junte-se a nós! 🚀📱