Vila Arumã (AM) – Segundo relatório do Serviço Geológico do Brasil (SGB), as autoridades sabiam sobre os riscos de deslizamentos na Vila Arumã, cidade que foi engolida no interior do Amazonas no último sábado (30). Mais de 40 casas foram arrastadas para dentro do rio. Duas pessoas morreram e três estão desaparecidas.
A comunidade rural atingida faz parte do município de Beruri, localizada à 173 quilômetros de Manaus. De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) e a Defesa Civil do Amazonas, que realizaram na última quarta-feira (3), uma análise técnica dos terrenos à margem do Rio Purus, o deslizamento ocorreu em decorrência do fenômeno “terras caídas”, que costuma ocorrer em períodos de secas dos rios.
“A equipe do Corpo de Bombeiros apoiou a equipe da Defesa Civil numa varredura a pé, por toda a extensão da costa aqui da área, para verificar possíveis fenômenos de Terras Caídas. Foram verificar in loco, a pé, e não constataram nada de grande gravidade até o momento”,
explicou o tenente Ricardo Albuquerque, do Corpo de Bombeiros.
Conforme o militar, a Defesa Civil deve elaborar um parecer técnico da Engenharia, mas ainda serão necessários estudos de solo por geólogos especializados.
Relatório
O documento emitido após uma inspeção em julho de 2014 pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, havia uma “cicatriz” de aproximadamente 90 metros no solo do povoado, alertando para um deslocamento de massa em curso.
“A cicatriz de deslizamento de 90 metros é um indicativo de que o processo está ativo. A água se concentra no meio da cicatriz em episódios de chuva. Há risco de desabamento e soterramento de flutuantes próximo ao talude”,
diz trecho do arquivo.
Além disso, o relatório também alertou que o solo na área era argiloso e que a localização próxima a uma curva do rio a tornava suscetível à erosão fluvial.
Em nota, a atual gestão da Prefeitura de Berurí afirma que nunca teve acesso ao documento e que está dedicada ao atendimento e acolhimento das vítimas da tragédia.
“Tem-se noticiado nas mídias digitais e demais meios de comunicação que, por meio de relatório emitido pelo Serviço Geológico do Brasil, no ano de 2014, as autoridades já conheciam os riscos de desabamento na comunidade do Vila do Arumã.
Quanto a essa afirmação, a Prefeitura de Beruri, informa que a atual gestão, que tem à frente a Prefeita Maria Lucir, ao assumir em janeiro de 2017, não teve acesso ao referido relatório, até mesmo por que não houve a devida transição de governo, fato este que impediu a atual gestão de tomar conhecimento do teor do relatório, dos riscos que este apontava e ainda de todas as informações necessárias às tomadas de decisões e ações na administração como um todo.
Tal ausência de transição foi reconhecida pelo Tribunal de Contas do Estado em documento próprio, que pode ser disponibilizado a quem o requerer, e levou a gestão da dona Maria a adotar, em janeiro de 2017, medidas que culminaram inclusive com a decretação de situação de emergência em todas as áreas do Poder Executivo Municipal.
A Prefeitura Municipal de Beruri também esclarece que em nenhum momento, nesses 7 anos de gestão, recebeu alguma visita, notificação, relatório ou algo do tipo, por parte do Serviço Geológico do Brasil, da CPRM, ou de qualquer outra autoridade.
Nesse momento nossas forças, energias e recursos estão concentrados no atendimento e acolhimento aos nossos irmãos da Vila do Arumã, pelos quais todos os nossos esforços estão sendo empregados, isso é o que mais nos importa”,
escreveu.
Ações do Governo do Estado
O Governo do Amazonas já distribuiu 150 cestas básicas, cem garrafões de água de 20 litros e 180 frangos, além de 150 kits de higiene pessoal para apoio aos desabrigados e às famílias em situação de risco em Beruri (a 173 quilômetros de Manaus). No dia 30 de setembro, um desbarrancamento atingiu 45 imóveis, deixou outros 30 em situação de risco e afetou aproximadamente 300 pessoas na comunidade Arumã.
A comunidade fica localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu Purus. A região possui 67 comunidades onde vivem aproximadamente 5,5 mil pessoas. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) faz a gestão da área.
“Nós trouxemos essa ajuda e ela foi de fundamental importância. Em uma parceria com a Prefeitura Municipal de Beruri, estamos finalizando a distribuição desses itens”,
disse o gestor de Unidades de Conservação da Sema, Walbem Júnior.
Os trabalhos no local são coordenados pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros. A força-tarefa do Governo do Amazonas é composta também por profissionais das Secretarias de Estado de Assistência Social (Seas), Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), de Saúde (SES), Meio Ambiente (Sema), Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) e Instituto Médico Legal (IML).
A Sejusc mapeou as famílias afetadas e fez encaminhamento de emissão de documentos como RG, CPF e Certidão de Nascimento.
“O trabalho principal é o social, para fazer o levantamento do que a comunidade mais necessita no momento, que é a alimentação e os documentos que eles perderam, até mesmo porque tem a questão dos auxílios que eles recebem. A gente tem que fazer esse levantamento principalmente dos documentos”,
disse o assessor institucional da Sejusc, Klisman Silva.
A equipe da Seas está realizando cadastros das famílias, atendimentos psicológicos e psicossociais, além de visitas aos moradores de flutuantes da região.
Nesta quarta-feira (04), o Corpo de Bombeiros seguiu com o trabalho de análise do solo no local e acompanhamento das famílias para retirada de pertences. Os militares também mantêm a busca por desaparecidos. Até o momento, estão confirmados dois óbitos e três desaparecimentos.
A prefeita do município, Maria Lucir de Oliveira, destacou a ajuda do Governo do Amazonas. “Eu achei muito rápido. Ele (o governador) olhou com carinho para o nosso município e agiu com muita humanidade. Ele está apoiando muito a gente aqui. Eu quero agradecer muito ao Governo”, disse a prefeita.
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