Manaus (AM) – Manaus registrou, na última quarta-feira (18), a maior vazante do Rio Negro, em 121 anos de leitura pelo Porto de Manaus. Com a marca de 13,38 metros, alguns serviços e setores do dia a dia manauara foram diretamente afetados pela descida dos rios. Uma dessas esferas é a indústria amazonense.
Com o baixo nível dos rios, os navios carregados de insumos que abastecem as firmas da Zona Franca de Manaus (ZFM) não conseguem chegar ao seu destino, assim, como o material produzido no Polo Industrial de Manaus (PIM) que não consegue ser escoado para o restante do país.
Para tentar driblar este problema, algumas empresas do Pim decidiram adiantar as férias coletivas. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal-AM), Valdemir Santana, informou que aproximadamente 15 mil trabalhadores serão afetados pela determinação. Estatísticas apontam que 35 empresas irão aderir à medida.
Até o momento, apenas cinco empresas se manifestaram sobre adotar este adiantamento: TP Vision, Yamaha, I-Sheng, Philco e Samsung, sendo que esta última afirmou que aproximadamente 1,5 mil colaboradores adotarão o sistema. Conforme explicação do presidente do sindicato, houve um acordo entre entidade e companhias, e apenas algumas liberaram a divulgação dos nomes de quem concordou com o movimento.
O Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) anunciou que aguarda o resultado de uma pesquisa para saber quantas empresas irão aderir às férias coletivas, e que até o momento, não há uma projeção do quanto isso irá impactar as finanças da região.
Segundo a economista Denise Kassama, o adiantamento das férias grupais possui pontos positivos acentuados, mas é impossível ignorar os impactos negativos que a decisão trará na economia amazonense.
“Se impõe férias coletivas é porque tem alguma dificuldade quanto a produzir. No caso aqui, se você está sofrendo com a estiagem, provavelmente não estão chegando insumos, e para não deixar a mão de obra parada, preferiram antecipar as férias coletivas. De certa forma, isso gera um impacto negativo porque as férias significam ausência de produção. Se não está produzindo, não está faturando, se não está faturando, não está arrecadando, então isso impacta na economia”,
pontuou Kassama.
Trabalhadores temporários
Por conta das férias coletivas, outro contratempo surge na indústria local: a contratação de trabalhadores temporários. A Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) fez uma projeção informando que não ocorrerão contratações além do percentual de funcionários atuais durante os últimos meses do ano, em decorrência das férias que estão sendo adotadas agora.
Este comportamento, considerado anormal para a época do ano, comprometerá diretamente o mercado de trabalho local, como explica Denise.
“Se não está chegando insumo para o Distrito, também deve estar tendo dificuldade de chegar produto para o comércio vender, com vistas ao Natal aqui na região. Se não tiver mercadoria para vender, o comércio não tem recursos para empregar a mão de obra adicional que é muito comum nesse fim de ano. Não emprega mão de obra, não gera renda, que não gera consumo”,
reiterou a economista.
A Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) informou que em 2022, o Brasil gerou 2.403.560 vagas de empregos temporárias. A diretora da associação, Cilene Herbster, analisa com cautela o atual momento, já que há a expectativa do aumento de vagas para o 4.º trimestre de 2023.
“A indústria puxa a maioria das contratações temporárias, com 55% das vagas, porém a seca histórica no Amazonas, ameaça impactar esta previsão. Já estamos tendo impacto nas contratações temporárias, e se for confirmado a liberação das férias coletivas para novembro, teremos um impacto ainda maior, com reflexo direto na produção e nas vendas do Natal, considerada a melhor data festiva para o nosso setor”,
finalizou Herbster.
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