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Comemoração

Manaus 354 anos: Talentos da terra que ganharam o Brasil

Artistas locais conquistam espaços culturais fora da capital amazonense

Manaus (AM) – Danças, cantos, pinturas. Entre as mais diversas manifestações artísticas, cada cidadão possui o potencial de expandir suas raízes e atingir cada vez mais, pessoas que apóiam a sua arte, o seu trabalho.

Com a chegada da Covid-19 no Brasil, o setor artístico foi um dos principais prejudicados, já que por conta do isolamento social, o público ficou mais recluso, e quem não conseguiu se adaptar ao novo cotidiano, acabou perdendo seu espaço.

Segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano em que a pandemia chegou ao país, cerca de 5,6% da população ocupada pertencia ao setor cultural, ou seja, aproximadamente 4,8 milhões de pessoas. Em relação a 2019, houve um recuo de 11,2%.

O avanço da vacinação possibilitou o retorno das várias atividades que o setor cultural proporciona. O Observatório Itaú Cultural revelou que a área gerou 7,4 milhões de empregos formais e informais no país durante o quarto trimestre de 2022; isso equivale a 7% do total dos profissionais da economia brasileira. Em relação ao mesmo período de 2021, houve um aumento de 4%, acrescentando 308 mil novos empregos na esfera.

Resistindo aos impactos da pandemia, os artistas manauaras também passaram por dificuldades em um determinado espaço de tempo. Encontrando forças em suas cidades natais, alguns deles conseguiram se firmar no cenário regional, e hoje desbravam o país, provando a todos, a força do talento que vem do norte do Brasil.

Victor Xamã

Um dos principais nomes hip hop nacional, Victor Xamã, é natural de Manaus e atualmente, acumula mais de 100 mil ouvintes mensais na plataforma Spotify. Mas para chegar até o estrelado, a trajetória do artista começou ainda em sua adolescência, para tratar um problema que o incomodava.

“Eu iniciei na música quando eu tinha uns 12 anos, foi mais como mecanismo de comunicação, porque eu sofro com um problema de disfluência de fala, a famosa gagueira, então quando eu era mais novo, a música, principalmente, a música falada, me dava confiança para apresentar trabalhos em escola, às vezes, defender alguma ideia, expressar alguma opinião”,

contou.

Dando seus primeiros passos na carreira, Victor começou a conquistar seu espaço por meio de apresentações no Centro da capital amazonense.

“Comecei nas batalhas de rimas, na Praça Heliodoro Balbi, mais conhecida como a Praça da Polícia, e nós organizamos a batalha da praça, onde eu experimentei uma rima de freestyle, que são rimas no estilo livre, e fui me desenvolvendo nisso”,

relembrou o artista.

O salto na carreira artística de Victor Xamã começou após o lançamento de seu primeiro disco, intitulado “Janela”. Através deste trabalho, o manauara passou a ser notado por músicos nacionais e percebeu que ouvintes de outras regiões também se interessavam por sua arte.

“Eu sou rapper e sou produtor também, fiz alguns trabalhos de produção musical para alguns artistas grandes entre 2014 e 2015. Em 2015, quando eu lancei o meu disco, eu comecei a ser notado por pessoas do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, desde então, eu fui mirando meu trabalho não somente para o ambiente local, mas também para o ambiente nacional”,

especificou.

Aproveitando as oportunidades da vida e focando no potencial da sua carreira, Victor se mudou para São Paulo e hoje em dia, tem uma visão mais ampla do mercado nacional. Mesmo em um novo ambiente, o artista continua incluindo o cenário manauara em suas apresentações.

“Vim para São Paulo para amplificar a minha música, o meu sonho, e tem dado muito certo. Meu disco lançado em março chegou a 1,5 milhões de stream somente no Spotify e eu tenho conseguido cantar um pouco sobre a região norte e levar a nossa cidade para onde eu vou”,

ressaltou Xamã.
Cantor amazonense Victor Xamã

Gandhicats

Assim como Victor, um outro tipo de talento está levando o nome de Manaus para outras regiões do país. A Escola de Danças Urbanas Gandhicats é uma das principais referências artísticas da capital amazonense, participando de grandes eventos brasileiros, como o Festival de Parintins e o Festival de Dança de Joinville.

Dirigido pelo coreógrafo Gandhi Tabosa, o Gandhicats iniciou suas atividades antes da pandemia, quando o profissional decidiu dar um passo a mais na sua carreira cultural.

“O projeto começou em 2018, ele começou com o intuito de eu seguir os trabalhos, as minhas composições e foi quando eu saí do La Salle. Trabalhei durante muitos anos no La Salle, e muitos alunos vieram comigo. Assim, demos continuidade aos trabalhos”,

explicou Gandhi.

Focado em danças urbanas, o projeto é voltado para a área performática, adicionando novos elementos, de acordo com a finalidade de cada apresentação.

“A gente trabalha com danças urbanas, mas nós somos muito artísticos e estamos dentro do âmbito performático, então a gente sempre está desenvolvendo outras coisas. No meio dos nossos trabalhos, sempre estamos com a pesquisa da dança contemporânea, na técnica do jazz, mas o foco da escola e da companhia são as danças urbanas”,

pontuou o coreógrafo.

Com a entrega e a determinação de todos os envolvidos, o Gandhicats passou a ganhar prêmios a nível nacional, alguns deles sendo inéditos para Manaus e para o Amazonas.

“Por conta da pandemia e também pela mudança que passamos no início do ano, estamos há um tempo sem competir lá fora. Mas nós já competimos no FIH2 (Festival Internacional de Hip Hop) e no Festival de Dança de Joinville, e nos dois, nós conquistamos os primeiros lugares, e ganhamos o título inédito pro Amazonas, o título de Melhor Companhia do Festival em 2019”,

orgulha-se Tabosa.

Mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, a escola de dança persistiu no seu propósito e desde a retomada das atividades culturais na cidade, o Gandhicats tem se destacado aos olhos da população.

Neste ano, os manauaras tiveram a oportunidade de visualizar o trabalho desenvolvido pelos dançarinos da companhia por meio do Festival Sou Manaus Passo a Paço 2023. Nos dois primeiros dias de evento, o Gandhicats Project apresentou o mapping performático na fachada do Museu da Cidade de Manaus.

“Recebemos o convite através do Wallace Almeida, da Fundação Municipal de Cultura, Eventos e Turismo (ManausCult), e ele que concebeu toda a ideia, ele queria algo como videomapping e muita performance; eu costurei e dirigi toda a ideia que ele queria executar”,

explicou Tabosa.

Para que o desempenho fosse perfeito, houve uma contribuição mútua entre a companhia e a fundação municipal de cultura. Analisando a apresentação deste ano, Gandhi já se mostra ansioso para a edição do ano que vem.

“A apresentação no SouManaus foi incrível, nós estávamos muito ansiosos pela proporção e pela grandiosidade do evento. Tivemos todo da ManausCult, toda a parte técnica de iluminação, fogos, som, e todos os envolvidos fizeram com que o espetáculo tornasse a magnitude que ele foi. Já estamos ansiosos para o ano que vem”,

expressou o coreógrafo.
Escola de Danças Urbanas Gandhicats

Incentivos para os artistas manauaras

Para que Manaus continue revelando novos talentos na área cultural, é preciso ter mais incentivo, de acordo com Victor Xamã e Gandhi Tabosa. Para o rapper, duas transformações são necessárias no cenário atual: a valorização do artista manauara e a mudança da mentalidade da população.

”O cenário manauara é um dos mais bonitos do Brasil, tem muita gente talentosa fazendo muito com pouco. A arte é um trabalho como qualquer outro, e precisa de incentivo. Eu acredito também que tem que mudar a mentalidade do povo. Lembro de quando me apresentava em Manaus, sempre recebi elogios como: ‘sua música é tão legal que nem parece que é daqui’. Isso é um elogio entre aspas. Além de ter melhores condições de trabalho para os artistas, é preciso mudar a mentalidade do povo para valorizar a arte e cultura da cidade e região”,

declarou Victor.

Na visão de Gandhi, poucos são os artistas que conseguem se manter de forma independente, por isso, é mais do que necessário a ampliação de programas que promovam o setor cultural manauara.

“O artista em Manaus ele só consegue produzir se ele tiver parceiros, ou se ele tiver muita garra, coragem, determinação, para fazer de forma independente; quando se tem o apoio de editais de outras empresas, esses trabalhos sempre ganham outros tamanhos. Então é visível quando um trabalho é concebido de forma independente e quando ele é criado com apoio”,

declarou Tabosa.

Para subsidiar cada vez mais trabalhos na capital amazonense, a Prefeitura de Manaus, por meio da ManausCult, desenvolve, atualmente, os seguintes projetos para a valorização da cultura local: o fomento através de edital para os segmentos artísticos, a difusão e realização através do Arte Pela Cidade, ações de promoção à valorização do Patrimônio Material e Imaterial por meio da Semana Nacional de Museus e Primavera de Museu, e a formação através do Programa Municipal de Formação Artístico e Cultural – PROMFAC.

Segundo a ManausCult, desde 2022, com o relaxamento das medidas sanitárias do Covid19, a fundação apoia, através de editais, as bandas, blocos de rua e festivais folclóricos nos bairros. Ampara também aniversários de bairros em todas as zonas. Existem projetos que são realizações ou iniciativas externas que também recebem o apoio da instituição.

O maior festival de artes integradas do norte, o Sou Manaus Passo a Paço 2023 também foi uma das formas de valorizar os artistas da cidade. Em três dias de festa, mais de 700 trabalhadores da cultura, entre música, teatro, circo e artes visuais, participaram ativamente do evento. Este número registra um aumento de 580% em relação à quantidade de artistas que participaram da primeira edição, ocorrida em 2015, onde apenas 12 pessoas do segmento cultural foram selecionadas.

A Lei Paulo Gustavo é outra alternativa de incentivo aos artistas manauaras. De acordo com a Prefeitura de Manaus, todos os cuidados foram tomados para fazê-lo o edital mais amplo e plural. Para que isso tornasse realidade, foram realizadas oitivas, reuniões preparatórias e buscas ativas, fechando com o auxílio nos preenchimentos dos cadastros e formação para elaboração de projetos culturais. Até o último dia 18, foram contabilizados 1028 cadastros, conforme dados da ManausCult.

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