Manaus (AM) – A seca que atinge o Amazonas colocou todos os 62 municípios em estado de emergência, afetando 598 mil pessoas, ou 150 mil famílias. O Rio Negro, em Manaus, registrou seu nível recorde na seca, com apenas 12,70 metros, no último dia 27. Essa foi a maior vazante em 121 anos.
Com vários segmentos prejudicados pelo fenômeno, a indústria não seria diferente. Com cerca de 500 indústrias de alta tecnologia, gerando meio milhão de empregos, diretos e indiretos, a Zona Franca de Manaus (ZFM) foi afetada e empresas precisaram tomar medidas para conter os prejuízos. Entre as medidas estão a antecipação de férias coletivas e diminuição da linha de montagem, entre outras. Porém, especialistas estimam que os impactos financeiros ainda serão sentidos pelos brasileiros.
Sem ter como atracar no porto da cidade, os navios carregados com insumos vindo de outras regiões para abastecer as fábricas do Polo Industrial de Manaus (PIM), navegam com dificuldade na área pela falta de sinalização dos rios amazonenses. Em entrevista à Rede Amazônia, o diretor responsável pelos navios que transportam cargas para Manaus, Luis Resano, fez um comparativo de trânsito de mercadorias antes e depois da seca.
“Normalmente, temos de 14 a 15 navios chegando a Manaus durante um mês e isso daí representa um transporte de 15 mil contêiner chegando e outros 15 mil saindo. Portanto, nós estamos indo aí para a quarta semana sem ter que ir a Manaus. Portanto, a região está desabastecida e está com a produção retida também”,
relatou o profissional.
Mesmo com as dificuldades da vazante, o comércio continua otimista em relação à Black Friday, segundo especialistas. A economista Denise Kassama avalia que grande parte das empresas instauradas na ZFM já estavam preparadas para enfrentar o momento, então os impactos serão mínimos.
“O comércio está apostando muito na questão da Black Friday e essa questão da seca, muitas indústrias do Polo Industrial, pelo menos as grandes, acompanham a previsão meteorológica, e já anteciparam a produção para não cair no risco de pegar a seca, porque todo ano o rio desce, mas a maioria das indústrias alterou o seu planejamento para não comprometer”,
disse.
Com a navegabilidade mais restrita, as empresas precisam gastar mais do que o esperado para escoar seus produtos para os grandes centros urbanos, o que pode afetar o preço final do material produzido na ZFM. A grande preocupação gira ao redor da possível redução de descontos, o qual é um dos grandes atrativos nesta época do ano.
“As [empresas] que não conseguiram antecipar produção, provavelmente vai ter um custo maior para escoar os seus produtos dos grandes centros. Possivelmente, se não tem condições de ir pelo modo fluvial, será pelo aéreo, então uma parte pode ter uma redução [de descontos], mas o comércio tenta equilibrar o custo mais alto, com o custo mais barato, para poder oferecer esse desconto, porque ‘Black Friday’ sem desconto, não vale a pena”,
destacou Kassama.
Impactos nos produtos eletroeletrônicos
Um dos principais produtos produzidos na ZFM é o eletroeletrônico. O presidente executivo da Associação Nacional de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento, disse em entrevista ao Portal UOL, que a principal preocupação da indústria atualmente é o escoamento de ar-condicionado e televisores, produtos de “linha branca”.
Por serem produtos maiores e mais pesados, é difícil enviar grandes estoques através de aviões, já que os navios estão impossibilitados pela seca. As aeronaves possuem um custo maior, mas a quantidade de produtos comportados no bagageiro é mais limitado em relação aos navios. A situação preocupa o abastecimento das lojas, que se preparam para receber os consumidores durante a época do Natal.
“Ar-condicionado e televisão são os principais problemas no momento no nosso setor eletroeletrônico. No final do ano são os dois produtos mais procurados. Temos a produção de micro-ondas, lava-louça, computadores, celulares, tabletes, fones, mas esses dois são os produtos que temos a necessidade de escoar a produção via fluvial. Computador e celular dá para mandar por aviões, por exemplo”,
pontuou Nascimento.
O professor de varejo da Strong Business School, Ulysses Reis, acredita que os produtos de “linha branca” produzidos na ZFM sofrerão impactos financeiros por conta dos custos de logística. Na visão da economista Denise Kassama, esses efeitos não serão tão grandes, como o esperado.
“Quando se fala em ‘linha branca’, nem tudo é produzido na Zona Franca. Por exemplo, geladeira, fogão, freezer, são ‘linha branca’ e não são produzidos na ZFM. Fora isso, é evidente que ar-condicionado é linha branca, ventilador, micro-ondas. Depende se as empresas conseguiram escoar os produtos antes de ter essa dificuldade de navegabilidade provocada pela seca. Volto a insistir, terá um impacto, mas não vai ser tão grande assim, na minha ótica”,
finalizou a especialista.
A equipe do Em Tempo entrou em contato com a Suframa e o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) para falar sobre o assunto, mas até o momento, não houve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
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