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Atos Antidemocráticos

Atentado a democracia: Os fragmentos dos atos de 8 de janeiro na sociedade brasileira

Seis amazonenses foram presos suspeitos de participarem dos atos antidemocráticos

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

No dia 8 de janeiro de 2023, o Brasil viveu um dos episódios mais emblemáticos da sua história desde a democratização do país. Após mais de 20 anos de ditadura militar, a transição entre autoritarismo e democracia em território nacional iniciou em 1984, por meio do movimento “Diretas Já”. Apesar de não ter tido um resultado ágil, a ação serviu para viabilizar as primeiras eleições oficiais no Brasil, no ano de 1989. Desde então, a população vai às urnas a cada 4 anos para decidir seus governantes, mas no último ano, uma onda de violência generalizada colocou em cheque a decisão das urnas eletrônicas.

Com a vitória do atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os apoiadores do candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL), marcharam em direção à Brasília, para tentar descredibilizar o resultado das eleições presidenciais de 2022.

Naquele 8 de janeiro, a multidão invadiu a sede dos Três Poderes, depredou prédios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal (STF), além de destruir símbolos da república. Um movimento que iniciou e se proliferou nas redes sociais, hoje é exemplo do extremismo que ameaça a democracia do país, julgando e punindo responsáveis mesmo um ano depois da eclosão.

Descredibilização das urnas eletrônicas

Foto: Rodolfo Buhrer

De 2021 até 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro atacou cinco vezes a credibilidade do resultado divulgado pelas urnas eletrônicas. Dois dias após a invasão em Brasília, Bolsonaro fez uma postagem em seu Facebook onde questionou o resultado das eleições de 2022.

A mensagem foi amplamente divulgada por seus apoiadores, que não aceitavam o resultado das eleições. Como não foi a primeira vez que o político tentou descredibilizar o processo eleitoral, a desinformação serviu como argumento para tentar cancelar as últimas eleições presidenciais, o que fere o princípio da democracia, como explica o professor e sociólogo da Universidade Federal do Amazonas, Luiz Antonio Nascimento.

“A gente nunca passou, na história do Brasil, um período tão longevo, mais de trinta anos de regime democrático e não, em nenhum regime ditatorial ou autoritário. Portanto, tem um sentido ainda mais grave o atentado contra a democracia em 8 de janeiro”,

ressaltou o professor.

Convocação pelas redes sociais

Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos do Ministério Público Federal. Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

Para reunir os apoiadores, as redes sociais foram cruciais para movimentar e divulgar o propósito daquela invasão. Ainda que financiadores fossem responsáveis por viabilizar a ocupação, a ação não teria efeito se não houvesse a propagação massiva de conteúdos nas mídias sociais.

Segundo Luis Fakhouri, diretor de estratégia da Palver, uma plataforma de escuta social monitorou 15 mil grupos de WhatsApp durante as eleições, dentro da iniciativa montada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater a desinformação, a divulgação da mobilização iniciou dias antes do fatídico 8 de janeiro.

“A partir do dia 3 de janeiro a gente percebe que começam a aparecer muitos vídeos de pessoas reunidas no QG fazendo uma convocatória para que outros manifestantes do Brasil inteiro fossem a Brasília para um grande ato”,

pontuou o profissional em entrevista a BBC Brasil.

Destruição de símbolos da república

Bolsonaristas quebraram vidraças do Congresso Nacional, em Brasília. Foto: Ton Molina/AFP

Ao invadires a sede dos Três Poderes, a multidão que vestia verde e amarelo quebrou vidraças e móveis, vandalizou obras de arte e objetos históricos, invadiu gabinetes de autoridades, rasgou documentos, além de roubarem armas da União.

De acordo com o sociólogo Luiz Nascimento, a destruição dos símbolos da democracia por este grupo deixou uma mensagem ao povo brasileiro.

“A destruição dos símbolos da república tem um aspecto que me parece fundamental, que só pode ser compreendido numa perspectiva. Assim como a cruz é um símbolo representante universal para expressar aqueles que são cristãos, atentar contra os símbolos da república é um atentado contra todos aqueles que defendem o princípio da república e o princípio da democracia”,

explicou o professor.
Salão Nobre do STF destruído após invasão Foto: Reprodução

Por não aceitarem o resultado das eleições, o grupo vandalizou a estrutura de órgãos representativos à democracia brasileira, violentando a decisão da maioria dos eleitores brasileiros.

“A mensagem que esses grupos passam é de que ‘Eu não te reconheço, eu não te respeito, eu não quero saber o que você defende ou deixa de defender. Eu vou te oprimir, eu vou te atacar, eu vou te assassinar’. Veja o depoimento do ministro Alexandre de Moraes em relação às apurações sobre as ameaças contra existência física de um servidor público que ocupa um cargo de Ministro do Estado ou Ministro de Justiça”,

destacou Luiz Nascimento.

Investigações

O ministro Alexandre de Moraes em entrevista. Foto: Globo

O depoimento que o sociólogo cita é uma entrevista divulgada nos últimos dias pelo O Globo, onde o Ministro Alexandre de Moraes revela que havia planos envolvendo o seu homicídio, e até seu enforcamento na Praça dos Três Poderes.

Com a contenção do grupo radical, mais de duas mil pessoas foram presas na época, mas apenas 66 permanecem atrás das grades, segundo o STF.

Em janeiro de 2023, seis amazonenses foram presos suspeitos de participarem dos atos antidemocráticos, são eles: Andreia Alves dos Santos, de 40 anos; Valteir Correia Fernandes, de 59 anos; Mohammad Khaled Azan Paredio, de 19; Telmário Araújo Sobreira, de 30; Wesdra Santarem Mazzega, 43; e Luiz Lima Coelho 39. 

A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) afirmou, na época, que havia três defensores acompanhando o caso dos amazonenses.

Direito à democracia

Foto: Hugo Barreto

Um ano após o acontecimento, o STF já condenou 30 pessoas por participação nos ataques. O primeiro condenado, Aécio Lúcio Costa Pereira, recebeu uma pena de 17 anos de prisão, inicialmente em regime fechado.

Oito pessoas que seguem presas já foram condenadas pelo STF. Além dos condenados, 33 pessoas foram denunciadas como executores dos crimes praticados, sendo dois transferidos para hospital psiquiátrico, e 25 ainda aguardam a conclusão de diligências.

Na visão do sociólogo Luiz, este momento, um ano depois, é a oportunidade certa de refletir as ações cometidas no 8 de janeiro e avaliar os riscos à democracia brasileira.

“Um ano depois, é fundamental que a sociedade reflita criticamente sobre o que aconteceu ali e avalie o que ela teria perdido. Quais os riscos efetivos do fim democracia. Quando você fala de riscos efetivos, você, por exemplo, tem o risco de existir. Além disso, você tem as perdas indiretas, por exemplo, a liberdade de manifestação. A liberdade que as pessoas devem ter de dizer sim ou não livremente”,

finalizou o profissional.

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