A Espanha vai criar um fundo para indenizar cerca de 440 mil vítimas de décadas de abuso sexual por membros da Igreja Católica, anunciou na terça-feira (23) o ministro da Justiça, Felix Bolanos. “Queremos responder para prevenir, reparar e tentar saldar a dívida que nossa sociedade tem com as vítimas”, disse.
Em outubro, um relatório de 779 páginas divulgado pelo governo espanhol estimou que 1,13% da população do país sofreu abusos sexuais em âmbito religioso nos últimos 80 anos. Das 440 mil vítimas, segundo o levantamento, 233 mil sofreram abuso direto por membros do clero como padres ou sacerdotes. Outros 207 mil casos foram perpetrados por funcionários de igrejas ou de escolas religiosas.
O esquema planejado pelo governo é previsto para vigorar até 2027, embora a fórmula para realizar as indenizações ainda não tenha sido definida. O fundo será financiado em grande parte pela Igreja Católica.
Bolanos disse que seu ministério negociaria com os bispos a contribuição para que a Igreja “pagasse toda ou uma parte substancial da indenização e fornecesse outros elementos de reparação simbólica”.
O ministro ainda disse que um órgão especializado independente estudaria os casos em que o abusador é uma pessoa que já morreu. O governo quer organizar ainda um evento público com as vítimas e seus parentes para oferecer uma “reparação simbólica” em nome do Estado.
No início de abril, a Igreja Católica de Portugal anunciou que concederá uma “compensação econômica” às vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero. O anúncio aconteceu pouco depois de um ano da publicação de um relatório que revelou a magnitude dos casos no país.
Um relatório publicado em fevereiro de 2023 revelou que pelo menos 4.815 crianças e adolescentes foram vítimas de violência sexual desde o ano de 1950 no coração do catolicismo português.
A Igreja Católica tem sido abalada nos últimos 20 anos por uma série de escândalos em todo o mundo, muitos de abuso sexual contra crianças. Na Espanha, um país tradicionalmente católico, mas que vem se tornando cada vez menos ligado à fé cristã, as acusações de abusos só começaram a aparecer nos últimos cinco anos, sendo inicialmente negadas pelo alto clero.
Em 2021, por exemplo, a França calculou em 330 mil o número de vítimas (200 mil abusos cometidos por padres), ou 0,5% de sua população. Assim, ter mais que 1% da população vítima de abuso em contexto religioso deixa a Espanha na posição de um dos países mais atingidos pelo problema em todo o mundo, de acordo com levantamento do jornal El País.
*Com informações da Folha de S.Paulo
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