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Fome bate recorde e atinge mais de 280 milhões no mundo

Estudo revela que mais de uma em cada cinco pessoas em 59 países enfrentaram insegurança alimentar aguda

Mais de uma em cada cinco pessoas em 59 países enfrentaram insegurança alimentar aguda em 2023. O número de pessoas ameaçadas pela fome chegou a 281 milhões no ano passado, um recorde.

Os dados foram divulgados em um relatório global sobre crises alimentares publicado nesta quarta-feira (24) pela FAO, braço da ONU para alimentação, pelo Unicef, fundo da ONU para infância, e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), em parceria com organizações internacionais, como a União Europeia, e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

O documento faz um raio-x detalhado da fome no mundo e destaca que a situação se agravou significativamente desde 2016, quando cerca de uma em cada 10 pessoas em 48 países passavam fome.

O relatório revela que a insegurança alimentar subiu pelo quinto ano consecutivo e piorou sobre 2022, quando 257 milhões de pessoas passaram fome.

“Quando falamos de insegurança alimentar aguda, estamos falando de uma fome tão grave que representa uma ameaça imediata aos meios de subsistência e à vida das pessoas. Essa é a fome que ameaça se transformar em inanição e causar mortes generalizadas”, disse Dominique Burgeon, diretor da FAO em Genebra.

Em temos percentuais, a parcela da população global que enfrenta elevados níveis de insegurança alimentar aguda aumentou acentuadamente e passou de 14% em 2018 para mais de 20% em todos os anos desde 2020, atingindo o nível máximo em 2022, com 23%.

Em 2023, o percentual caiu para 21,5%, o que poderia indicar uma ligeira melhora, mas os autores explicam que como a área de abrangência do estudo ficou maior, houve um aumento absoluto de pessoas afetadas pela insegurança alimentar aguda.

Gaza e Sudão

Os autores do relatório citam Gaza e Sudão como algumas das regiões de maior preocupação.

Comboio de ajuda humanitária entra em Gaza pela passagem de Rafah / 09/04/2024 REUTERS TV/via REUTERS

Segundo Gian Carlo Cirri, diretor do PMA em Genebra, “as pessoas estão claramente morrendo fome” nas duas regiões.

Cirri afirma que depois de quase sete meses de ofensiva israelense em Gaza, as pessoas não conseguem satisfazer as necessidades alimentares mais básicas e já esgotaram todas as estratégias de sobrevivência, como comer ração animal, mendigar e vender pertences para comprar comida.

Ele acrescenta que a única forma de enfrentar a fome é garantir entregas diárias de alimentos “em um espaço de tempo muito curto” e diz que para isso é fundamental a entrada de ajuda humanitária de maneira consistente.

Em linha com relatórios anteriores, o diretor do PMA também afirma que 30% por cento das crianças com menos de dois anos estão agora gravemente desnutridas em Gaza e 70% da população no norte do enclave enfrenta uma situação de fome catastrófica.

“Há evidências razoáveis ​​de que todos os três limiares da fome – insegurança alimentar, desnutrição, mortalidade – serão ultrapassados ​​nas próximas seis semanas”, afirma Cirri.

Sobre o Sudão, o relatório da ONU revela que 42% da população ou 20,3 milhões de pessoas lutaram para encontrar o suficiente para comer no ano passado.

Refugiados sudaneses fazem fila para receber alimentos do Programa Mundial de Alimentos da ONU na região de fronteira entre Sudão e Chade / REUTERS/Zohra Bensemra

É o maior número de pessoas no mundo que enfrentam níveis “emergenciais” de insegurança alimentar aguda. Dentro da escala do IPC (acrônimo em inglês para Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar), esses milhões de sudaneses estão no nível IPC4, apenas um abaixo do IPC5, a faixa mais elevada de perigo.

Em 2019, o Sudão passou pela maior onda de protesto da história, que levou à deposição de Omar al-Bashir, o líder autoritário que governava o país há 30 anos.

Generais assumiram o poder e iniciou-se uma série de disputas que culminaram um conflito entre forças rivais em abril de 2023.

Conflitos armados, crises econômicas e mudanças climáticas

As crises em Gaza e no Sudão provam que os conflitos armados são a principal causa da fome hoje, segundo os autores.

E acrescentam que são o principal fator para fome também em países como a República Democrática do Congo, o Iêmen, a Síria e em países que acolhem refugiados sírios, como Egito, Jordânia, Iraque e Turquia.

Mas as crises econômicas e as mudanças climáticas também são fatores que provocam a fome.

O relatório cita o impacto das crises econômicas em países asiáticos, por exemplo, e afirma que a inflação global foi persistentemente elevada no Paquistão, em Mianmar e Bangladesh ao longo de 2023, além de ressaltar que no Afeganistão, os choques causados pela estagnação dos salários e pelo desemprego generalizado foram os principais fatores de insegurança alimentar aguda.

O relatório lembra ainda que eventos climáticos extremos foram um fator mais proeminente para a fome em 2023 do que em 2022 por causa do fenômeno do El Niño, que provocou chuvas irregulares e reduzidas, temperaturas acima do normal e redução do rendimento das colheitas em países da América Latina, como Guatemala, Honduras e no Corredor Seco de El Salvador e Nicarágua.

*Com informações da CNN Brasil

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