Manaus (AM) – A estiagem severa e histórica que atingiu o Estado do Amazonas, em 2023, impactou diretamente a vida dos amazonenses. No âmbito econômico, por exemplo, a indústria local teve um prejuízo avaliado em mais de R$ 1 bilhão, segundo o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam). Para 2024, com o nível dos rios já abaixo da média do ano passado, a indústria precisa se antecipar e aumentar seus estoques, segundo aponta a economista amazonense, e ex-vice-presidente do Conselho Federal e Economia (Confecon), Denise Kassama.
Ela acredita que, este ano, as empresas instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM) estejam mais preparadas que em 2023, para enfrentar o problema.
“Por exemplo, se a produção do natal, que geralmente é feita no terceiro trimestre, for antecipada em um ou dois meses, pode-se evitar o período mais crítico da seca, que é praticamente novembro e dezembro. Se a gente antecipar, a gente consegue minimizar o impacto. Evidentemente, isso mexe com toda uma cadeia de custos, com a antecipação de despesas e recebimentos, mas acredito que boa parte das fábricas estejam trabalhando nesse sentido”,
pontuou Kassama.
Preocupações e alternativas
O Presidente Executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge do Nascimento Junior, postou uma nota expondo suas preocupações em relação a estiagem.
“A licitação para o serviço de dragagem nos trechos dos rios Amazonas, Solimões e Madeira foi novamente adiada, estando agora prevista para esta semana. Caso a dragagem não seja realizada de forma oportuna, a principal estratégia para mitigar os efeitos desta severa estiagem poderá não se concretizar, resultando em prejuízos adicionais. É imperativo que o poder público tome medidas imediatas. A paralisação das indústrias do Polo Industrial de Manaus, com o risco de desemprego; o desabastecimento do comércio da região; a mortandade da fauna aquática; e o isolamento de cidades, com danos incalculáveis à qualidade de vida, são alguns dos graves problemas que enfrentaremos”,
diz um trecho da nota.
Além da dragagem, outra alternativa para minimizar os problemas decorrentes da estiagem seria a instalação de um píer flutuante nas proximidades de Itacoatiara (a 270 km de Manaus). Nele seria feito o transbordo de cargas dos navios cargueiros para balsas, que chegaria a Manaus.
Essa alternativa, inclusive, já está sendo viabilizada pelo Grupo Chibatão, que obteve da Marinha do Brasil a autorização para a instalação da plataforma em Itacoatiara. Ela deve operar entre setembro e dezembro, considerado o período mais crítico da estiagem na região.
O diretor executivo do Grupo Chibatão, Jhony Fidelis, destacou que essas medidas são fundamentais para não haver prejuízo no fornecimento de insumos tanto para a indústria, quanto para o abastecimento de produtos consumíveis no Estado. Segundo o gestor, mais de 750 mil contêineres são movimentados anualmente em Manaus pelo porto.
Para a economista Denise Kassama, o píer é uma das melhores soluções para ajudar o escoamento de produção quando o Estado tiver em uma situação mais crítica.
“É importante porque vai permitir o escoamento. Lembrando que, ano passado, secou tanto que os navios não tiveram como atracar; esse foi um grande problema do ano passado. E, agora, com o píer flutuante, é possível que você consiga atracar os navios e, portanto, permitir o embarque e desembarque dos produtos. Mas volto a insistir. A gente sabe que vai ter uma seca, mas ainda não sabe exatamente qual o nível dessa seca”,
enfatizou.
Nível dos rios
Apesar do Rio Solimões ter sido um dos que mais têm descido na região, cerca de 15cm por dia na última semana, as bacias que mais impactam na produção industrial do Estado são as do rios Negro, Madeira e Amazonas. É por meio deles que são transportados os insumos que abastecem a produção do PIM e por onde é escoado o que é fabricado.
O Negro, por exemplo, está a três dias estável em 26,85m. Isso é um indicativo de que deve começar a baixar. Ano passado, no mesmo período, ele media 28,28m já em ritmo de descida.
O Rio Amazonas, na região de Itacoatiara, mediu 12,30m, nesta terça-feira (18), Por lá, o ritmo tem sido de descida nos últimos três dias. Ano passado, ele estava pouco mais de 1, 70m mais alto e também já em vazante.
O rio Madeira, que responde pelo escoamento da produção de grãos do Estado de Rondônia para o porto de Itacoatiara, estava em 10,72m no último domingo (16), quando foi emitido o último boletim hidrológico da região de Humaitá (a 669 km de Manaus).
Caso o panorama da pior seca já registrada no Estado nos últimos anos se concretize, é essencial que as empresas que atuam na Zona Franca de Manaus estejam preparadas.
“Está todo mundo dizendo que realmente esse ano vai ser pior que ano passado, então como já é uma carta anunciada, a gente tem mais é que se precaver. Se não acontecer, é menos ruim, mas se acontecer, que estejamos preparados”,
finalizou Denise Kassama.
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