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Habitação

Aumento de ‘invasões’ de terra em Manaus, durante ano eleitoral, preocupa especialistas

Ambientalista e cientista político avaliaram o cenário regional em relação ao problema de habitação

Semmasclima já registrou 55 ocorrências em 2024, até 12 de julho
Semmasclima já registrou 55 ocorrências em 2024, até 12 de julho. Foto: Divulgação

Manaus (AM) – Um levantamento feito pelo Projeto Mapbiomas, do Observatório do Clima, revelou que, de 1985 a 2021, Manaus foi a capital do Brasil que registrou a maior área de crescimento de favelas, correspondente a cerca de 10 mil campos de futebol. Em 2024, ano eleitoral, essas ocupações irregulares ganham forças, uma vez que a própria população se aproveita das “brechas” do período político.

Apesar do poder público promover ações de desapropriação, a tendência é que essas invasões aumentem, preocupando especialistas. Ao fazer um comparativo entre 2023 e 2024, ano de eleições municipais em todo o Brasil, os dados revelam o crescimento da atividade ilegal de ocupação de terras na capital amazonense.

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudança do Clima (Semmasclima), em 2023 foram registradas 61 ocorrências de ocupação irregulares em Manaus. Na Zona Norte, por exemplo, foram 30 notificações; na Zona Centro-Sul, foram 11; na Zona Leste, foram 10; na Zona Oeste, 7; na Zona Centro-Oeste, foram 2; e na Zona Sul, apenas 1.

Já em 2024, de janeiro até o dia 12 de julho, a secretaria já registrou 55 ocorrências. Ou seja, faltam apenas mais seis notificações para que os números se igualem ao de 2023, mesmo ainda faltando cinco meses para o fim do ano.

Cultura de invasões de terra

Para o cientista político Carlos Santiago, é notório o aumento de invasões em ano eleitoral e é necessário que o poder público conscientize a população, a longo prazo, sobre a atividade de ocupação ilegal.

“Em especial, no ano eleitoral, as invasões aumentam, tanto em terreno privado quanto em área verde, causando prejuízos ambientais, econômicos e sociais para a população da cidade de Manaus. São necessárias atitudes que vão muito além do período eleitoral, em que haja planejamento, execução de políticas públicas na área de habitação para quem tem renda baixa e também que esteja na base média de rendimentos, sem deixar de combater de forma permanente as invasões e os prejuízos”, destacou o especialista.

Foto: Divulgação

Essa “cultura” de invasões de terras acontece há muito tempo na cidade de Manaus e seus impactos ao meio ambiente são irreparáveis, como enfatiza o ambientalista Carlos Durigan.

“A expansão urbana de Manaus há décadas acontece sem planejamento. Isso, aliado ao grande déficit habitacional da cidade ocasionou na formação de uma cultura das invasões de terras públicas e até privadas. Em geral, essas áreas são fragmentos florestais e a ocupação das mesmas, leva ao seu desmatamento e à crescente degradação ambiental na área urbana”, explicou Durigan.

Apoio público

Seguindo a mesma linha de raciocínio do ambientalista, o cientista político Carlos Santiago afirma que esse crescimento desordenado faz parte da estratégia política de alguns candidatos, já que alguns fazem “vista grossa” ao problema habitacional da cidade para não perder apoio público.

“As invasões e as ações causadas pelas invasões trazem enormes prejuízos para a cidade de Manaus. O combate tem que ser permanente e nem no ano eleitoral o poder público pode descansar e [deve] atuar com firmeza”, enfatizou o profissional.

Se por um lado existe a questão da estratégia política, há também a discussão sobre a qualidade de vida dos eleitores manauaras. A atividade de ocupação ilegal, além de desmatar o meio ambiente, também compromete a saúde da população que passa a residir na área invadida.

“A degradação contribui com a redução da qualidade de vida em Manaus, seja pelos efeitos do desmatamento e queimadas afetando o clima, ou pelas perdas gradativas de todo o patrimônio natural que estes espaços representam”, finalizou Carlos Durigan.

Para combater as invasões, a Semmasclima informou ao Em Tempo que, quando acionados, uma equipe se desloca até o local para verificar se a área é verde, pública ou privada. Nos casos de sua competência, são realizados os procedimentos de notificação, interdição, multa e retirada das ocupações irregulares.

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