O escritor e dramaturgo Márcio Souza morreu na madrugada desta segunda-feira (12). De acordo com a família e produção do autor, Márcio passou mal na noite de domingo e foi para um Serviço de Pronto Atendimento (SPA), em Manaus. Ele teve crise de diabete e, antes de partir, teve uma parada respiratória.
O governador Wilson Lima lamentou a morte do escritor e decretou luto oficial de três dias no estado.
“Wilson Lima se solidariza à família e amigos do escritor e ressalta a importância que Marcio Souza teve para o estado, contando a história do Amazonas e da Amazônia para o mundo com imenso e singular brilhantismo”, diz um trecho da nota.
O prefeito de Manaus, David Almeida também lamentou a morte de Márcio.
“Recebi com muita tristeza a notícia do falecimento do escritor e dramaturgo amazonense. Márcio Souza foi referência na literatura, no cinema e teatro, nas artes em geral, deixando um grande legado de obras. Que Deus conforte o coração de familiares e amigos, na certeza do reencontro no retorno de Jesus Cristo”, disse o prefeito.
A Editora Valer, responsável pela publicação de algumas obras de Márcio, fez uma declaração lamentando seu falecimento e destacando sua contribuição para a literatura brasileira.
“Para nós, da editora Valer, essa é uma notícia que nos pegou desprevenidos, porque sempre esperávamos mais obras de Márcio e, também, de desfrutar da sua companhia, dado que ele era um dos maiores conhecedores das Amazônias e um dos nossos maiores intelectuais, um grande conhecedor da literatura, do teatro e do cinema. Nós lamentamos profundamente a morte de Márcio Souza”, disse Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer.
Ainda segundo a empresa, o romancista é dono de uma obra variada, que transita por diferentes gêneros e linguagens artísticas, tendo no romance, no teatro e no ensaio seus principais veículos de expressão. Ainda que diversificada, sua produção é atravessada pelo tema constante da história da região amazônica.
A partir da perspectiva de Márcio, o Brasil e o mundo puderam conhecer melhor o que se passava na Amazônia e descobriram a riqueza de sua história e de seu povo.
Algumas obras publicadas:
A caligrafia de Deus
Será mesmo que Deus escreve certo por linhas tortas? Você terá a oportunidade de refletir sobre isso ao ler a obra de Márcio Souza, chamada ‘A Caligrafia de Deus’. Ela é composta por cinco contos, escritos em diversos períodos, tendo Manaus como ponto de ligação.
Temos, neste livro, uma cidade que, ao receber aqueles que fogem ao destino, têm a sua identidade ainda mais desintegrada.
Márcio Souza assume o Amazonas como emblema, ao mostrá-lo sem saída, no qual as contradições só se agravam. Cenário trágico, mas embebido no humor mordaz, característico do autor, que dá vazão, muitas vezes, ao riso do leitor.
Ajuricaba – O caudilho das selvas
Márcio Souza invoca, neste “Ajuricaba – o caudilho das selvas”, a memória. E incentiva-nos a sermos rápidos, que nos antecipemos ao véu do esquecimento, pois ele fará emudecer a voz do passado.
Com o autor, viajamos até o Grão-Pará e o Rio Negro, para encontrarmos com o guerreiro Ajuricaba, cujo nome significa “reunião de marimbondos de ferroadas dolorosas”.
O herói amazônico, aos 27 anos, em pleno vigor da força física, da inteligência e do amor se tornou prisioneiro dos portugueses. Ele foi admirado pelos seus pares, seguido pelos seus guerreiros, amado por Inhambu, filha de um dos seus inimigos e, como um líder extraordinário, escolheu a morte: agrilhoado, jogou-se nas águas escuras do rio Negro e tornou-se lenda.
A substância das sombras – Cinema arte do nossos tempos
Esta obra, como o autor afirma, tem a ver com a própria natureza do cinema que é projeção, é sombra. É uma sombra animada na tela.
Mesmo no cinema digital, o cinema é uma sombra quando projetado. A sombra surge como a metáfora do livro, portanto, a substância do cinema é a própria história do cinema.
O livro aborda a história da sétima arte, desde o cinema mudo até os grandes estúdios hollywoodianos. Para o autor, o Livro é um guia e, também, uma introdução ao cinema.
A expressão amazonense
Um dos ensaios mais importantes sobre o processo cultural no Amazonas, o livro de Márcio Souza é um texto de leitura obrigatória por parte dos estudiosos do tema. O autor apresenta um amplo painel sobre os autores e as obras mais expressivas produzidas na região, inserindo-as no contexto sócio-histórico.
Fascínio e repulsa – Estado, cultura e sociedade no Brasil
Neste livro o autor discute a relação entre o Estado e a Cultura. Cada capítulo nos leva a olhar, com outros olhos, a História do Brasil; a buscarmos fundamentos e argumentos para um novo delineamento dos atos culturais pelos quais passamos, ou nos foram passados, sem que nos déssemos conta de como e em que situação eles foram orquestrados.
Trajetória
Nascido em Manaus em 1946, Márcio Souza, estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP) e escreveu grandes obras literárias como Galvez, O Imperador do Acre; A Caligrafia de Deus; Lealdade, pelo qual recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1997; e Mad Maria, seu livro de maior destaque e que deu origem à minissérie de mesmo nome, de Benedito Ruy Barbosa, produzida pela TV Globo em 2005.
Márcio Souza também teve destaque como cineasta e dirigiu o filme A Selva. Ele foi, ainda, professor assistente na Universidade de Berkeley e escritor residente nas universidades de Stanford, Austin e Dartmouth, além de ter sido diretor da Biblioteca Nacional e presidente da Funarte. Atualmente, atuava como diretor da Biblioteca Pública do Amazonas e ocupava a cadeira de nº 25 da Academia Amazonense de Letras.
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