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Música Pehe

Cantor amazonense lança clipe de música gravada em língua indígena

O trabalho audiovisual mostra elementos do mundo contemporâneo, as cidades, as tecnologias, intercaladas com vivências ancestrais da Amazônia

Um futuro distópico onde o planeta Terra se torna inabitável por conta do atual modo de produção destrutivo da humanidade. Esse é o fio narrativo que conduz as imagens do videoclipe da música ‘Pehe’, do cantor, compositor, músico, pesquisador e produtor musical amazonense Agenor, Agenor, lançado nesta sexta-feira (31).

O projeto foi contemplado pelos recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio do Conselho Municipal de Cultura de Manaus.

O trabalho audiovisual mostra elementos do mundo contemporâneo, as cidades, as tecnologias, intercaladas com vivências ancestrais, como se fosse um convite a desvelar as realidades mítico-ancestrais que pairam no território amazônico, propondo uma abordagem indígena sobre a modernidade.

“Todas as teorias vêm apontando para a extinção dos recursos do planeta nesse sistema. Intelectuais originários vem falando sobre o futuro ancestral e que o que vai nos salvar da extinção desses recursos, desse modelo de agropecuária extensiva, que utiliza a terra, são as roças indígenas. O clipe mistura esse momento atual de mundo apocalíptico, pós-apocalíptico e os conhecimentos indígenas”, conta o artista.

Assista ao clipe de “Pehe” no YouTube: https://youtu.be/8T8BCDNbj-s

Escute “Pehe” nas plataformas de streaming: https://onerpm.link/164201020510

Língua Tukano

A música Pehe, que em português significa ‘Muito’, foi gravada na língua indígena tukano, falada por povos originários da região do Alto Rio Negro, no Amazonas.

Cantor, compositor, músico, pesquisador e produtor musical amazonense Agenor, Agenor Foto: Divulgação

Ela começou a ser composta a partir da vivência de Agenor com orientandos indígenas do programa de mestrado da Ufam no município de São Gabriel da Cachoeira, distante 862 km de Manaus, em 2023.

“Sou orientador do Orlindo Ramos Marques, que é um dos tradutores da música. Conversando com ele surgiu essa ideia, com palavras e expressões bem simples, como ‘Boa noite’, ‘Como você vai?’, ‘Estou indo para casa’, coisas que ele me manda pelo Whatsapp e que eu venho tentando aprender” , disse Agenor.

Recursos acessíveis

O material foi pensado e feito com recursos simples, desde o editor de vídeo, o computador, softwares e inteligência artificial disponibilizados de forma gratuita.

De acordo com Agenor, o projeto busca mostrar aos jovens que é possível compor e realizar produções musicais com os equipamentos que estão disponíveis a todos.

“A ideia é inspirar jovens indígenas, quilombolas, ribeirinhos a usarem as tecnologias a nosso favor, para se apoderar desses recursos e atualizar as histórias mais antigas dos seus antepassados para a próxima geração. Precisamos nos empoderar nesse sentido e nos apropriar dessas tecnologias para dar continuidade e tomar o controle das nossas narrativas”.

O material já foi exibido em escolas de ensino médio e em outras ocasiões para públicos jovens, que receberam entusiasmados e se engajaram no projeto.

Tecnologia e resistência

Na última quarta-feira, 29, Agenor, Agenor desembarcou em Belém do Pará para participar da programação do circuito de formação “Motins: Encontro Pan-Amazônico de Música e Cultura Periférica”, que integra o Festival Psica. O evento reunirá artistas, produtores e especialistas do mercado cultural de toda a Pan-Amazônia entre os dias 30 de janeiro e 1° de fevereiro.

O músico vai dividir um painel no dia 1 com os artistas indígenas Adelina Borari, Rawa Munoz e Ian Wapichana, para falar sobre a musicalidade ancestral das etnias antes da chegada da colonização e como a nova cena de artistas indígenas se reconecta com essa sonoridade.

Agenor destaca como esses artistas se apoderaram das novas tecnologias para continuidade de suas reivindicações, militâncias e vivências, sem nenhum prejuízo em relação a sua identidade indígena.

“Há uma tese, um senso comum no país, de que o indígena deve ser aquele da época do Cabral, uma pessoa congelada no tempo, atrasada, na aldeia. Isso já caiu por terra. Os povos indígenas ocupam cidades, ministérios. O Brasil conta com essa diversidade. É isso que nos faz ser brasileiros, não a ideia da ditadura militar de integração nacional, que busca forjar uma identidade homogênea e única”, afirma o artista.

Para ele, a tecnologia é uma importante aliada na preservação das diversas identidades culturais dos povos indígenas da Amazônia, em um movimento que conecta o ancestral e o contemporâneo.

“Precisamos reconhecer essas tecnologias como a continuidade dos primeiros ensinamentos sobre música, que nos universos indígenas do Alto Rio Negro, seria relacionado com Jurupari, entidade reconhecida como o primeiro professor de música. Todos os conhecimentos musicais que vieram depois, inclusive a tecnologia, como samples, teclados eletrônicos, guitarras, são oriundos dos primeiros ensinamentos que Jurupari passou para seus descendentes”, afirma.

Projeto Îremini yü puré

O videoclipe de ‘Pehe’ é o primeiro de quatro lançamentos previstos dentro do projeto ‘Îremini yü puré’. As músicas trazem, por meio de ferramentas de produção digitais, sonoridades específicas da música indígena do Alto Rio Negro.

Um exemplo é a flauta japurutu, na música “Pehe”, que foi criada com um sintetizador eletrônico. Assim como a sonoridade da flauta de Jurupari, na faixa “Roubou um Tucumã”, criada com sintetizadores para voz humana. O projeto é fruto de um trabalho cultural que envolve mais de 10 anos de pesquisa sobre música e cosmologia indígena tocado por Agenor.

O título do projeto faz referência ao nome que o artista recebeu do povo Yepamahsã, também chamado de Tukano. “Îremini” significa “rouxinol” e é um nome para pessoas com personalidade musical e festiva. Yü puré é uma expressão que pode ser traduzida por “em mim”. Nesse caso, “Îremini yü puré” significa “o rouxinol em mim”.

“Mais do que uma poética, sinto-me no dever social de devolver e difundir todo conhecimento que recebi para os jovens indígenas. Por isso, o projeto é também pensado de forma a inspirar a nova geração dos filhos sociais e biológicos de Jurupari” , finaliza Agenor.

(*) Com informações da assessoria

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