O Brasil não precisa de retórica. Precisa de rumo. Em meio a uma economia instável, a um Congresso cada vez menos disposto ao diálogo e a um setor produtivo em alerta, o governo insiste em operar numa chave ideológica que já não conversa com os desafios do presente. O presidente Lula, ao invés de ajustar o foco, aprofunda o descompasso.
Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta sustentar uma agenda de equilíbrio e previsibilidade, é sabotado por dentro. Não consegue cortar gastos porque o PT veta. Não consegue aumentar receita porque o setor produtivo reage. E o Planalto, ao invés de construir pontes, alimenta trincheiras.
A nota de José Dirceu, conclamando o partido à “revolução social” e ao enfrentamento contra o mercado e o Banco Central, é reveladora. Mostra que parte do governo ainda acredita que pode vencer 2026 com a cabeça em 1986. Só que o Brasil de hoje não cabe mais nos manuais da velha esquerda. E insistir nisso não é fidelidade ideológica. É irresponsabilidade política.
O mercado produtivo — indústria, comércio, agro, serviços — mandou seu recado. As entidades setoriais reagiram à mudança no IOF como quem já entendeu o que está em jogo: custos mais altos, insegurança regulatória, ambiente hostil ao investimento.
Governar exige escolhas. E Lula parece resistir a elas. Quer agradar a base ideológica e manter o apoio do centro. Quer gastar como em 2003 e colher resultado como em 2010. Mas o cenário mudou. O mundo mudou. E o Brasil não pode ser administrado como se fosse uma campanha permanente.
O país precisa de estabilidade. Precisa de crescimento. Precisa de política econômica com horizonte e credibilidade. Se Lula continuar ignorando os sinais do mercado e do Congresso, não será a oposição que vai derrotá-lo. Será a realidade.
Governar não é discursar. É decidir. E já passou da hora de decidir de que lado da história o governo Lula quer estar: do lado da reconstrução — ou do colapso.
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